Durante a tradicional conversa com jornalistas no avião papal, na viagem de volta ao Vaticano do Sudão do Sul neste domingo (5), o papa Francisco voltou a ser questionado sobre suas falas sobre os homossexuais e disse que "condenar" as pessoas por isso "é pecado".
"As pessoas de tendência homossexual são filhas de Deus e Deus os quer bem, os acompanha. Não estou falando de grupos, mas das pessoas. Os lobbys são outra coisa e eu estou falando das pessoas. A criminalização da homossexualidade é um problema que não pode passar", disse aos repórteres.
Francisco ainda afirmou que a catequese da Igreja Católica ensina a "não marginalizar" as pessoas de qualquer tipo.
Também presente na conversa, o líder da Igreja Anglicana, Justin Welby, concordou com a fala de Jorge Mario Bergoglio.
"Na Inglaterra, nós discutimos isso recentemente e houve também um debate no Parlamento. Espero ser claro como o Papa e estou de acordo com cada palavra que ele disse. A Igreja da Inglaterra é contra a criminalização da homossexualidade", pontuou.
Recentemente, Francisco havia falado de pecado e homossexualidade que provocou polêmica. Dias depois, publicou um comunicado esclarecendo sua fala e afirmando que, pela doutrina da Igreja Católica, "todo ato sexual fora do casamento é pecado" - incluindo se praticado entre homem e mulher.
O líder reforçou que é preciso trabalhar pela "dignidade" de todas as minorias e "criminalizar a homossexualidade" é errado.
Ao longo de seu Pontificado, iniciado em 2013, Francisco recebeu por inúmeras vezes membros da comunidade LGBTQIA+ e incentivou a atuação de religiosos no acolhimento das pessoas não heterossexuais em ambientes da Igreja.
Autodestruição
O papa Francisco afirmou neste domingo (5), durante a viagem de volta do Sudão do Sul, que o mundo vive um momento de "autodestruição" com conflitos por todas as partes.
"A Ucrânia não é a única guerra. Queria fazer justiça porque faz 12-13 anos que a Síria está em guerra. São 10 anos que o Iêmen está em guerra, pensem em Myanmar. Em todo lugar, na América Latina, quantos focos de conflito existem. Sim, há guerras mais importantes pelo barulho que fazem [...], mas todo o mundo está em guerra. É uma autodestruição e precisamos pensar seriamente nisso parando enquanto há tempo. Porque uma bomba pede uma outra bomba maior, e outra maior, e a escalada não se sabe onde vai acabar", pontuou aos jornalistas no avião papal.
Segundo o líder católico, tanto a violência na África como no resto do mundo é causada pelos "negócios" na venda de armas.
"É muito doloroso se ver como a violência é provocada, e um dos pontos é a venda das armas. Hoje acredito que no mundo haja uma peste, a maior das pestes, que são os negócios da venda de armas. Alguém já me disse que, se em um ano não fossem vendidos armamentos, acabaria a fome no mundo", pontuou.
Dizendo ainda que o problema não é só "entre as grandes potências, mas com essas pobres pessoas", referindo-se à África, Francisco ressaltou que os poderosos "disseminam as guerras dentro dos países". "Isso é cruel. Dizem 'vai para a guerra' e lhes dão armas porque por trás disso há interesses, sobretudo, econômicos. É diabólico, não consigo falar outra palavra. Isso destrói a criação, as pessoas e a sociedade", ressaltou.
Questionado diretamente sobre a guerra na Ucrânia e se tem a intenção de se encontrar com os presidentes envolvidos, Volodymyr Zelensky e Vladimir Putin, Jorge Mario Bergoglio se disse "aberto para encontrar ambos". "Se eu não fui para Kiev ainda é porque não é possível, no momento, ir para Moscou. Mas, sigo pedindo o diálogo", destacou.