Gina Marocci

Histórias (de beleza e dor) que a Praça da Piedade esconde - Parte 2

Uma história que começa na primeira metade do século XVII

Um dos prédios interessantes da Praça da Piedade é a antiga sede do Senado da Bahia (Assembleia Legislativa), construção eclética da primeira década do século XX. Nas fotografias vemos dois momentos do edifício.

A primeira fotografia (cartão postal da primeira década, J. Melo) mostra o edifício com sua feição original, com entrada centralizada ladeada pelas alas direita e esquerda. Vemos, também, que a praça era cercada por muro e gradil de ferro e com muitas árvores.

Na segunda década, com a abertura da Avenida Sete de Setembro, foi demolida a ala esquerda do prédio, como podemos ver na outra fotografia, datada de 1930. Nesta, a praça já aparece sem muros, completamente aberta e sem árvores, apenas arbustos, e o traçado da pavimentação é o que existe até hoje.

No centro da praça, a nova fonte é ornada com cópias de quatro esculturas, do artista francês Mathurin Moreau, da fundição de Val d’Osne.


O prédio do Senado da Bahia em dois tempos

Ao lado do antigo Senado da Bahia está o prédio do Gabinete Português de Leitura, que foi inaugurado em 1918. Na fotografia aérea da década de 1930 podemos ver o quarteirão ocupado pelo prédio e por edificações menores, que foram demolidas e hoje o terreno é um estacionamento.

É bem interessante perceber que as três edificações, o convento, o antigo Senado e o Gabinete, guardam uma rica proporção arquitetônico, tento na volumetria quanto na altura, o que presta à praça uma sensação de amplitude.


O Gabinete Português de Leitura e a praça em fotografias da década de 1930

O Gabinete foi fundado em 1863 e funcionou em sedes provisórias até a construção da definitiva pela Real Sociedade Portuguesa de Beneficência Dezesseis de Setembro. O estilo neomanuelino é o mesmo que encontramos em outros gabinetes, como o do Rio de Janeiro e o de Santos, e é a principal expressão do movimento romântico português na arquitetura; se caracteriza pela presença de diferentes arcos emoldurando as vergas das portas e janelas, cordões, pináculos e estátuas.

Defronte dos dois edifícios anteriormente analisados temos a igreja de São Pedro e a Faculdade de Ciências Econômicas da UFBA, ambas edificações do século XX: a primeira, da segunda década; a outra, um prédio de cinco pavimentos da década de 1950.

A igreja de São Pedro foi uma das obras de J. J. Seabra na implantação da Avenida Sete de Setembro. A igreja matriz da Paróquia de São Pedro Velho ficava onde hoje temos a Praça Barão do Rio Branco, o famoso calçadão do Relógio de São Pedro. Ela era uma imponente construção do século XVIII, com um largo à sua frente, que ficava numa parte mais estreita da via.

No mapa de Adolfo Morales de los Rios (1894) vemos a localização desta igreja e o trecho estreito que só permitia a passagem do bonde em uma direção.

Em 1912, o governador J. J. Seabra a desapropriou para ser demolida e construiu a praça, obras que se somaram aos cortes no convento das Mercês, na igreja do Rosário e no prédio do Senado para a abertura da Avenida Sete de Setembro.


Localização da antiga igreja de São Pedro e a fotografia da fachada principal

A nova igreja de São Pedro começou a ser construída em 1916 e foi inaugurada em dezembro de 1917. Ela é mais um exemplar da arquitetura eclética, linguagem escolhida pelo poder público da época. Rossi Baptista foi o arquiteto responsável pelo projeto e pela construção da nova igreja.

Ele e Filinto Santoro foram arquitetos italianos que tiveram grande atuação em Salvador entre 1910 e 1930. Baptista também projetou o Palacete do Comendador Bernardo Martins Catharino, atualmente sede do Palacete das Artes, na Rua da Graça.


Igreja de São Pedro e o Palacete das Artes (Google Maps)

De acordo com o site institucional, a Faculdade de Ciências Econômicas da UFBA começou em 1905 como Escola Comercial da Bahia (ou Escola do Comércio) patrocinada pela Associação Comercial da Bahia e funcionava na Rua Chile. Depois funcionou em um belo sobrado na Praça da Piedade até 1953.

Na época da construção da sede definitiva, ela funcionou no Seminário Santa Teresa, na Rua do Sodré, e no Instituto Isaías Alves, ICEIA, no Barbalho.

O sobrado ficava no mesmo terreno da atual construção e tinha dois pavimentos com janelas emolduradas e platibanda reta. O prédio atual foi inaugurado em 1956; uma construção em concreto armado sobre pilotis.


Sede da Escola Comercial da Bahia (c. 1940) e a Faculdade de Ciências Econômicas

As edificações analisadas nesse texto retratam a diversidade das arquiteturas no envoltório da Praça da Piedade, e no próximo texto concluiremos nosso passeio pelo centro antigo de Salvador.

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Para saber mais

ANDRADE JUNIOR, N. V. de. A Influência Italiana na Modernidade Baiana: o caráter público, urbano e monumental da arquitetura de Filinto Santoro.  19&20, Rio de Janeiro, v. I, n. 4, out. 2007. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/ad_fs_vnaj.htm>.

MATTOS, M. de F. da S. C. G. de. Da ideologia à arquitetura, um projeto além mar: os Gabinetes Portugueses de Leitura no Brasil. 19&20, Rio de Janeiro, v. II, n. 2, abr. 2007. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/gabinete_portugues.htm>.