O tatu-canastra (o maior de sua espécie no mundo e com declínio populacional de 30% em quase três décadas), alterou seu comportamento, devido à atual degradação do cerrado e está destruindo colmeias em busca de larvas.
Como as caixas de mel estão próximas às áreas naturais – pela importância das flores para as abelhas –, o tatu-canastra costuma chegar até elas e acessá-las com certa facilidade. O que os apicultores não sabiam até então era que muitas vezes as caixas também estavam próximas às tocas dos tatus-canastra.
O animal pantaneiro geralmente se alimenta de cupins e formigas, mas sofreu uma mudança de comportamento, por conta das alterações no ambiente causadas pelo homem e da redução do alimento natural disponível.
Os tatus-canastra utilizam o olfato apurado para descobrir novas fontes de comida. Como as caixas de mel estão próximas às áreas naturais, o tatu-canastra costuma chegar até elas e acessá-las com certa facilidade. Ele derruba as caixas para comê-las, o que resulta em prejuízos para os apicultores.
Presente apenas na América do Sul, o tatu-canastra pode chegar a 1,5 metro de comprimento e pesar mais de 50 quilos.
Com hábito noturno e olfato apurado, o tatu-canastra é capaz de ficar em pé com as patas traseiras.
A espécie tem sofrido com a ação do homem em seu habitat e está classificada como espécie vulnerável pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).
Inofensivo ao homem e maduro sexualmente apenas aos sete anos de idade, o animal pode gerar apenas um filhote a cada três anos. Ou seja, a morte de um único indivíduo do tatu-canastra significa uma perda enorme para o ecossistema local.
Um Guia de Convivência entre Apicultores e Tatus-Canastra no Cerrado do Mato Grosso do Sul foi divulgado pelos pesquisadores Arnaud Desbiez e Bruna Oliveira e pela jornalista Liana John, como o resultado de um trabalho realizado por profissionais que buscaram estratégias para conciliar a conservação dessa espécie ameaçada de extinção com a produtividade dos apicultores.
“Ao contrário do que muitos imaginavam, o tatu não consome o mel, mas sim as larvas das abelhas. De qualquer forma, ele derruba as caixas para comê-las, o que resulta em prejuízos para os apicultores”, revela Desbiez.
Outros animais também são atraídos para o local em consequência da ação do canastra, como a irara (Eira barbara), o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), o tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), o mutum-de-penacho (Crax fasciolata) e a seriema (Cariama cristata).
Nos vídeos
Tatu-canastra procura larvas em colmeia
Com a colaboração de 10 associações apícolas, o projeto reuniu informações de 178 apicultores e identificou que 73% deles relataram danos às colmeias por tatu-canastra nos últimos cinco anos e que, em 2019, 46% dos entrevistados tiveram perdas econômicas substanciais com esses episódios.
Como forma de conciliar a produtividade dos apicultores com a conservação da espécie, os pesquisadores elaboraram 10 estratégias para que os apicultores mantenham as caixas próximas à vegetação nativa, mas sem colocar a sua produtividade em risco. Entre as medidas estão: colocar as caixas a 1,30 m do chão, dessa forma elas ficam inacessíveis aos tatus; e usar cerca de alambrado com muro de concreto na base.
Na publicação, estão listadas as medidas mais eficazes para as espécies que também se aproveitam da ação do tatu-canastra. Os pesquisadores ainda incluíram medidas que não apresentam eficácia, com as devidas justificativas, como forma de evitar investimentos (de tempo e financeiros).