Escritos

Sítio do Arara: Lane, a musa que aposta no joguete

Pedir-me provas que ainda te quero, deste jeito tal um James Bond, é fruto do tempo que se escondeu em Londres?

Topei, por amargar esta saudade de órfã. Sei do seu vício por jogos intricados da guerra fria. Assim, nunca tanta neve eu vi e se estava totalmente de branco, como distingui-lo na paisagem? 

A ideia do celular abandonado com o GPS ligado foi brincadeira high tec de gato e rato e não tive manha suficiente para entender a próxima etapa. 

O mapa e as palavras cruzadas, o cd com uma única faixa do Oásis, essas foram fáceis.

Imaginar que na roda gigantesca poderia rolar remake de quando ficamos tontos no parquinho mambembe de Parati, não se encaixou. 

O anúncio com meu nome no auto falante dos achados e perdidos; a chave do armário, o cartão da Bloomingdales, foi de mestre – continua assistindo muito filme b, aposto!

Aparecer e desaparecer nas TVs da vitrine da loja e me fazer buscá-lo feito um louco por departamentos chiqueresimos foi cruel. 

Já estou descalibrada em esterlinas de tanto de correr de lá pra cá. 

Quando finalmente ligou, tremi ao ouvir sua voz, de frio e medo de perdê-lo novamente: foi a primeira vez que ouvi seu carioquês chiado desde que evaporou da minha cama. 

O museu de cera, em meia hora? 

Se eu abrir uma fenda no tempo, talvez. 

O metrô me chamou para ser a agente mais veloz de sua majestade: atrasada, meu prazo acabou? Procurei entre tantas réplicas sua imagem viva e morri de desespera. 

Desistiu? 

Não deixou novas instruções, nem ligou. Permaneci horas seguidas neste mundo de parafina e isso só aumentou minha febre. 
Logo fui expulsa do local: a minha temperatura crescente disparou alarmes, derreteu alguns primeiros ministros e outros ídolos do esporte. 

Acordei do desmaio no hotel e vi seu rosto cínico cantando parabéns me pareceu delírio; mesmo assim caprichei em uns alguns golpes mortais. 

Quando você voltar à consciência, terá que me achar, deixei pistas.

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O cineasta (roteirista e diretor) José Araripe Jr. (Arara) apresenta personagens em crônicas, contos e sinopses; sempre acompanhadas de uma ilustração de sua lavra e uma narração coloquial em viva voz.