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Covid: robôs vigiam confinamento de 25 milhões de pessoas na China

Xangai, a cidade mais populosa da China, sofre com a falta de alimentos

Foto: Pixabay | Creative Commons
Xangai virou uma cidade fantasma

Há semanas, a cidade mais populosa da China, Xangai, está sob ordens estritas de bloqueio em um esforço do governo chinês para controlar um surto de coronavírus. Seus 25 milhões de moradores estão presos em casa, lutando para se alimentar ou obter ajuda médica a familiares doentes. Outros foram encurralados em centros de quarentena improvisados e hospitais temporários, sem saber quando poderão sair.

Os casais foram obrigados a dormir em camas separadas e, também, a comer em locais afastados um do outro.

Salas de exposições, conjuntos residenciais e escolas foram transformados em centros de quarentena, na tentativa de conter os mais de 20 mil casos diários de infecções..

Li Moyin, 34, está entre os enclausurados em casa. Ela mora com os pais, ambos na casa dos 70 anos e está confinada desde 27 de março, trabalhando como tradutora por meio período e tentando garantir mantimentos para sua casa. Para Li, que cresceu em Xangai, vendo o outrora movimentado centro financeiro - que os moradores acreditavam anteriormente ser um modelo para equilibrar medidas de prevenção covid com vida normal - vê-la ser transformada em cidade fantasma é inquietante.

Conversando por mensagens de texto e videochamadas com o namorado trancado em outro lugar da cidade, Li passou horas debatendo se medidas tão drásticas são necessárias, especialmente quando a maioria dos casos de Xangai são de pacientes sem sintomas graves.

Impacto emocional

A perspectiva de um longo bloqueio começou a ter um impacto emocional nas pessoas. Um vídeo amplamente compartilhado mostra moradores de um grande complexo de apartamentos no bairro de Putuo gritando de suas varandas. No vídeo, um espectador diz: “As pessoas não sabem quanto tempo essa situação vai durar.”

De acordo com as normas do governo, os quase 300 mil moradores que testaram positivo para o coronavírus desde o início de março e seus parentes e conhecidos devem ser enviados a centros de quarentena em massa ou para hospitais, dependendo da gravidade dos sintomas. Muitos moradores temem mais isso do que pegar o vírus, porque não querem ficar confinados em hospitais de campanha temporários. Muitas vezes não há médicos e enfermeiros à disposição ou instalações para dormir ou tomar banho.


Cachorro-robot percorre as ruas de Xangai

Briga por comida

Segundo o correspondente da BBC News em Xangai Robin Brant, após três semanas de confinamento as pessoas estão com raiva. "A alguns quilômetros de distância, houve um protesto organizado, uma postura ousada enquanto o bloqueio se instala em um país onde pode-se ir para a prisão por provocar brigas. Eles estão com raiva de uma escola local ser transformada em outra instalação de quarentena. A polícia os expulsou das ruas", relata Brant.

Vídeos mostram pessoas brigando por suprimentos e, em alguns casos, tentando escapar desses centros. Na quinta-feira, moradores de um complexo de apartamentos no parque de alta tecnologia de Zhangjiang, em Pudong, entraram em confronto com a polícia depois que as autoridades disseram que o complexo seria convertido em um local de isolamento. Imagens postadas mostram a polícia arrastando os moradores; enquanto uma mulher implora para que eles parem, os espectadores gritam: “Por que você está batendo em idosos?

Os restantes dos moradores de Xangai devem ficar em casa sob ordens impostas por agentes comunitários e policiais. Drones sobrevoam e, às vezes, entregam remédios a idosos - aumentando ainda mais o vazio assustador de uma cidade em pausa. Apenas os profissionais de saúde, motoristas de entrega e voluntários podem circular livremente. Robôs patrulham as ruas, incentivando os moradores a desinfetar suas casas, evitar aglomerações e “permanecerem civilizados”.

Nem animais domésticos podem sair. Nas redes sociais chinesas, causou revolta o vídeo de um agente do governo espancando um cachorro que foi separado do tutor, que estava positivo.

De acordo com o jornal inglês The Guardian, há relatos de chineses pedindo ajuda no Weibo, uma rede social semelhante ao Twitter. Boa parte das reclamações é por falta de alimentos.

Em alguns bairros, moradores chegam às janelas para protestar e são confrontados por um drone, que divulga uma mensagem: "Controlem o desejo por liberdade, não abram as janelas".

As medidas, que entraram em vigor em toda cidade em abril, deram aos moradores e autoridades pouco tempo para se prepararem. A escassez de alimento é abundante. A realidade não condiz com a narrativa oficial de ampla alimentação e suprimentos médicos.