Quem nunca avançou em um grande pedaço de torta coberta e recheada de chocolate, mesmo sem fome, e comeu até sentir falta de ar? Pode não ter sido uma torta, mas esse episódio já aconteceu com todas as pessoas ao menos uma vez na vida.
O problema é quando essa condição passa de episódios isolados para algo recorrente, até desencadear um transtorno alimentar e problemas de saúde associados à má alimentação. Para a nutricionista e fisioterapeuta dermato-funcional Carolina Dias, sócia da Clínica Carolina Dias, o comer por impulso precisa ser tratado não apenas com dieta, mas com uma profunda mudança comportamental.
“A nutrição comportamental traz algumas estratégias para que essa mudança seja consciente, ou seja, a pessoa precisa mudar a mentalidade para emagrecer de forma efetiva e saudável. Recebo muitos pacientes que tentaram emagrecer sem sucesso porque acreditam que o emagrecimento se resume a contar calorias, parar de comer ou tomar medicamentos para emagrecer. Então, como essa pessoa vai permanecer magra após o processo sem entender os gatilhos que estão fazendo ela comer?”.
Compulsão alimentar e comer transtornado: quais as diferenças?
Exagerar no rodízio pode causar mal-estar, mas não configura uma compulsão alimentar. De acordo com a psicóloga da Clínica Carolina Dias, Laís Lopes, especialista em transtornos alimentares e emagrecimento, a compulsão é uma palavra que foi muito popularizada de forma incorreta. “É importante lembrar que a pessoa com compulsão não é seletiva. A compulsão alimentar é uma doença psiquiátrica que se caracteriza pela ingestão de grande quantidade de alimento em curto período de tempo, o que é muito relativo, por isso a importância de uma pessoa especialista para fechar o diagnóstico”.
Existem outros fatores que precisam ser considerados para diagnosticar a condição. “O episódio precisa acontecer ao menos uma vez por semana por no mínimo três meses seguidos. Além disso, existem sintomas comuns e frequentes associados a emoções negativas: comer até se sentir mal, sentir vergonha de comer em público ou de mostrar o próprio prato e não gostar de socializar enquanto tá comendo. Após comer, a pessoa compulsiva costuma se sentir deprimida, culpada ou triste. O problema tem tratamento e, quando não é feito no início, a tendência é que piorem os sintomas”, explica a psicóloga, que atua com terapia cognitiva comportamental.
Já o ‘comer transtornado’ está ligado a problemas alimentares relacionados a comportamentos que incluem práticas purgativas, compulsões, restrições alimentares e outros métodos inadequados para perder ou controlar o peso. “É comum a gente perceber uma tendência de buscar o alimento para regulação emocional, associado a casos de ansiedade. Então, a pessoa precisa entender e acolher os próprios sentimentos para buscar uma outra estratégia para regular as emoções”, comenta Laís.
Quais exercícios ajudam a controlar o hábito de comer por impulso?
O primeiro exercício, fundamental não apenas para entender a compulsão, mas qualquer problema psicológico, é o autoconhecimento, destaca a psicóloga. “É necessário compreender o efeito dos alimentos em sua vida e o impacto na saúde, se observar, anotar o que aconteceu no dia que teve descontrole em relação a alimentação. É muito importante mapear esses eventos desencadeantes, os gatilhos, para a partir disso desenvolver uma estratégia”.
Carolina Dias também reforça a importância do acompanhamento profissional para fazer o diagnóstico adequado e oferecer uma orientação integral para o paciente. “Se a gente não entende porque tá comendo, assim como não percebe os sentimentos que nos levam a comer, a gente não vai emagrecer. Por isso, a nossa abordagem é interdisciplinar, porque a gente entende que o emagrecimento não se resume a parar de comer”.
Partindo da nutrição comportamental, Carolina Dias e Laís Lopes reuniram algumas dicas para evitar o descontrole ao comer:
1. Organize-se: estabeleça uma rotina e coma sempre nos mesmos horários. Anote as refeições feitas ao longo do dia.
2. Crie pequenas metas: o que é possível dentro da sua realidade? Você pode começar uma rotina com pequenas caminhadas.
3. Não faça mercado com fome.
4. Tenha consciência sobre a alimentação: pense no sentimento que está levando você a comer e se vale a pena. Antes de comer, pense: eu vou me arrepender?
5. Faça as refeições na mesa.
6. Evite o consumo de carboidratos de carga glicêmica alta (pizza, massa, pão e alimentos feitos com farinha branca): eles fazem parte do grupo de macronutrientes, que são as principais fontes de energia do nosso corpo. No entanto, esses carboidratos trazem mais vontade de comer em um curto período de tempo. Além de causar mais fome após comer, tem muitas calorias e poucos nutrientes.
7. Corte o açúcar refinado da sua dieta.
8. Coma alimentos com fibras e vitaminas: alimentos naturais como frutas, legumes e verduras além de reporem os nutrientes necessários para todo o corpo funcionar bem, contém fibras que ajudam na saciedade e facilitam a digestão.
9. Coma em intervalos menores para evitar o jejum prolongado e, assim, comer em maiores quantidades depois. O jejum intermitente não é recomendado para quem tem transtorno alimentar.
10. Dormir bem é fundamental: libera mais hormônio do crescimento e diminui a produção de cortisol, hormônio do estresse, que aumenta a ansiedade e a fome.
11. Troque o café, que aumenta a ansiedade, por chá de nibs de cacau, que contém triptofano e ajuda a relaxar.
12. Coma em variedade no café da manhã e coma menos à noite, quando o metabolismo está mais lento.
13. Busque ajuda profissional para começar com o detox corporal e receber toda a ajuda para enfrentar o período de abstinência e iniciar uma estratégia personalizada.