Dezenas de milhares de ucranianos estão sem comida, água ou energia elétrica ou aquecimento, na segunda semana de guerra. Os russos recorrem cada vez mais a bombardeamentos indiscriminados para ajudar as suas forças a avançar.
1,7 milhão de ucranianos - metade dos quais crianças - transformaram-se em refugiados, de acordo com as Nações Unidas. Muitos outros estão presos nas suas próprias cidades, cercados por intensos bombardeios por parte das forças russas.
Em Mariupol, cidade portuária, os moradores ficaram dias sem comida, água e outros bens essenciais. Anton Gerashchenko, um conselheiro do governo ucraniano, disse ao NY Times que a cidade não tinha medicamentos, calor nem um sistema de água em funcionamento. Tentativas de distribuir mantimentos e ajudar as pessoas a fugirem foram impedidas no fim-de-semana diante do ataque russo à cidade.
A Rússia abriu corredores humanitários para que as pessoas possam ser retiradas de Kiev e de outras quatro cidades ucranianas: Cherhihiv, Kharkiv, Mariupol e Sumi, segundo a agência de notícias Interfax, citando o Ministério da Defesa russo nesta terça-feira, 8.
A Ucrânia começou a retirar civis da cidade de Sumi, no nordeste; e da cidade de Irpin, perto da capital Kiev, nesta terça-feira, disseram autoridades ucranianas.
O local, perto da fronteira com a Rússia, tem sido palco de violentos combates há vários dias. Pelo menos nove pessoas, incluindo duas crianças, foram mortas em um bombardeio em Sumi na noite desta segunda-feira, 7, segundo serviços de emergência ucranianos.
As retiradas de moradores começaram depois que autoridades russas e ucranianas concordaram em estabelecer "corredores humanitários" para permitir que civis saíssem de algumas cidades sitiadas pelas forças russas.
O Ministério da Defesa acrescentou que as forças russas na Ucrânia introduziram um "regime silencioso" desde o início desta manhã (madrugada de terça no Brasil), informou a Interfax.
Os civis estão encurralados pelos combates desde que as tropas russas invadiram a Ucrânia, em 24 de fevereiro.
Após a primeira onda de refugiados da Ucrânia, é provável que haja uma segunda onda composta por refugiados mais vulneráveis, disse o chefe da agência de refugiados da ONU nesta terça-feira.
"Se a guerra continuar, começaremos a ver pessoas sem recursos e sem conexões", disse o chefe do ACNUR, Filippo Grandi, em entrevista coletiva.
"Essa será uma situação mais complexa de gerenciar para os países europeus daqui para frente, e será necessário haver ainda mais solidariedade de todos na Europa e além", disse ele.
Representantes dos governos russo e ucraniano reunidos em Belarus concluíram a terceira rodada de negociações nesta segunda-feira, sem alcançar avanços significativos.
De acordo com o negociador ucraniano Mikhailo Podoliak, as conversas tiveram pequenos avanços na melhoria da logística dos corredores humanitários. Houve discusões sobre um cessar-fogo e garantias de segurança para a retirada de civis, mas ainda não há resultados que melhorem significativamente a situação.
Apesar disso, um aceno do primeiro escalão do governo russo sinalizou com a possibilidade de um término imediato para a invasão da Ucrânia.
O principal porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, declarou que a Rússia está pronta para interromper as operações militares "em um momento" se Kiev cumprir uma lista de condições.
As exigências incluem o fim das operações militares do país, o reconhecimento da Crimeia e das províncias de Donetsk e Luhansk como território russo e uma alteração em nível constitucional para garantir que a Ucrânia mantenha uma neutralidade entre Moscou e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), comprometendo-se a não aderir à aliança.
Foi a declaração russa mais explícita até agora dos termos que quer impor à Ucrânia para interromper a invasão, que já dura duas semanas.