As filas nas estações de ônibus e trem em Kiev, capital e cidade mais populosa da Ucrânia, com cerca de três milhões de habitantes são um retrato do desespero de quem tenta escapar da Ucrânia, invadida pela Rússia.
As principais estradas de Kiev estão bloqueadas. Vários aeroportos em todo o país também foram bombardeados na quinta-feira.
Mulheres e crianças ucranianas estão fugindo para o leste da Polônia para escapar da invasão russa de seu país, um êxodo para a segurança que está acelerando em conjunto com o ritmo dos combates.
Carregando bebês e levando crianças mais velhas pela mão, milhares de mulheres ucranianas atravessaram uma passagem de fronteira em Korczowa nessa sexta-feira (25), recebidas por voluntários poloneses oferecendo comida e fraldas.
Nem todos podem sair. A Ucrânia impôs a lei marcial e proibiu cidadãos do sexo masculino com idades entre 18 e 60 anos de deixar o país.
Há temores de que o conflito na Ucrânia possa desencadear uma crise de refugiados. Preparativos frenéticos estão sendo feitos pelos governos dos cinco países que fazem fronteira com a Ucrânia – Polônia, Eslováquia, Hungria, Romênia e Moldávia. Eles anunciaram que receberão refugiados ucranianos.
A Irlanda está dispensando a exigência de visto para ucranianos e a UE. também se comprometeu a processar refugiados ucranianos.
Um grupo de brasileiros formado por jogadores do Shakhtar Donetsk e do Dínamo de Kiev, assim como suas famílias e outros profissionais do futebol, conseguiu deixar o bunker onde se protegia em um hotel de Kiev, capital ucraniana, em meio à invasão russa no país. Eles saíram do local neste sábado, dentro de carros marcados com bandeiras do Brasil, e embarcaram em um trem com destino à fronteira entre Ucrânia e Romênia.
Maria Souza, esposa do zagueiro Marlon, do Shakhtar, gravou vídeos mostrando parte do trajeto no carro e a chegada na estação. "Vai dar tudo certo. Estamos com três crianças, vou ter que desligar, orem bastante pela gente. Nos vemos no Brasil, se Deus quiser", diz a mulher, chorando, assim que o carro estaciona. Depois, o meio-campista Marcos Antônio publicou uma foto já dentro do trem, ao lado de outros jogadores.
Algumas horas antes, o grupo havia compartilhado um vídeo para dizer que não era seguro se deslocar a pé para pegar um dos trens oferecidos pelo Itamaraty. Segundo eles, isso colocaria crianças e idosos em uma situação de risco.
Na gravação, também apontaram que o governo de Portugal ofereceu “veículos para um plano de fuga de seus cidadãos”, diferente do governo brasileiro. Algum tempo depois, diante das complicações vividas no hotel, como a falta de alimento, decidiram que era o momento de tentar o deslocamento.
Neste sábado (26 de fevereiro), a Embaixada do Brasil em Kiev informou que trens iriam partir da capital para locais perto da fronteira com a Romênia, mas pediu que os brasileiros se dirigissem à estação apenas se considerassem a situação segura.
Um primeiro trem saiu na sexta-feira. Nele, estavam os jogadores Busanello, Felipe Pires e Bill, todos do Dnipro. Os três desembarcaram na Romênia na madrugada de sábado, como contou Bill em publicação no Instagram.
“Pessoal, conseguimos sair pela fronteira Ucrânia x Romênia! Graças a Deus deu tudo certo. Estou no Aeroporto a caminho do Brasil, mas nossa luta não terminou, tem outras pessoas presas na Ucrânia sem saber o que fazer e sem saber para onde ir! Orem, ajudem, façam o que for possível”, escreveu.
Brasileiros deixam o hotel em que estavam, na Ucrânia
O Itamaraty enviou uma missão para a fronteira da Romênia com a Ucrânia e tem coordenado a operação de evacuação de brasileiros por meio do contato direto com o chefe da estação central de trens de Kiev, com as autoridades migratórias e com as autoridades locais de Chernivtsi.
"Mesmo diante de um cenário de tão difícil, reforçamos: ninguém será deixado para trás. Peço aos brasileiros em territórios conflagrados que mantenham-se firmes, sigam as diretrizes e nos reportem qualquer incidente. Sei das dificuldades, mas não pouparemos esforços para resolvê-las", disse o presidente Jair Bolsonaro.
A Força Aérea Brasileira (FAB), sob orientações do Ministério da Defesa e coordenação do Ministério das Relações Exteriores (MRE), colocou de prontidão duas aeronaves KC-390 Millennium para transporte de brasileiros evacuados da Ucrânia.
As aeronaves são do mesmo modelo utilizado em outras missões humanitárias internacionais: o transporte de donativos para as vítimas da explosão em Beirute, capital do Líbano, em 2020; e o apoio emergencial à tragédia causada pelo terremoto ocorrido em agosto de 2021 no Haiti.
KC-390 Millennium, para evacuação dos brasileiros
Imagens de satélite mostravam nessa sexta-feira um engarrafamento de seis quilômetros de veículos tentando deixar a Ucrânia em uma passagem de fronteira no sudoeste com a Romênia. À medida que a ofensiva russa se intensificou, civis ucranianos tentaram fugir, causando longas filas de tráfego em todo o país. Neste sábado, o Alto Comissariado da ONU para Refugiados disse no Twitter que 150 mil refugiados ucranianos cruzaram para países vizinhos.
Quase 20 mil estudantes indianos ficaram retidos na Ucrânia na quinta-feira, de acordo com reportagens indianas. Um voo da Air India que estava indo para Kiev voltou para Delhi na quinta-feira, quando a Ucrânia fechou seu espaço aéreo, e vários estudantes se reuniram na embaixada indiana em Kiev em busca de ajuda.
Estudantes de outras nacionalidades também estão presos. Vukile Dlamini, da pequena nação sul-africana de Eswatini, disse à revista TIME que se refugiou em um abrigo antiaéreo em sua universidade em Vinnytsia, no centro do país.
Ela disse que estava com vários outros estudantes estrangeiros, a maioria deles estudando medicina ou odontologia. Dlamini, 19, está procurando uma maneira de chegar à fronteira da Romênia ou da Polônia, mas disse que ouviu falar de combates perto de uma passagem de fronteira, e as sirenes de ataques aéreos soam a cada 10 a 15 minutos.
“Estou tentando manter a calma, porque todos ao nosso redor estão em pânico”, disse ela. “Alguns dos trens não estão funcionando, e os que estão funcionando, as pessoas estão lotadas como sardinhas.” Ela planejava deixar o abrigo “e ir para a rodoviária novamente e esperar nas longas filas e torcer para que algo aconteça hoje”.
A Polônia concordou em acolher temporariamente alguns filipinos que fogem da Ucrânia, de acordo com notícias filipinas.
A Embaixada dos EUA em Kiev pediu aos cidadãos americanos na Ucrânia que partam imediatamente “se for seguro fazê-lo usando qualquer opção de transporte terrestre comercial ou privada disponível”.
O ator Sean Penn está entre os americanos na Ucrânia. A Vice Studios confirmou à Variety que Penn estava no país fazendo um documentário sobre a invasão russa.
De acordo com o New York Times, países que há anos resistem em receber refugiados de guerras na Síria, Iraque e Afeganistão estão agora abrindo suas portas para os ucranianos enquanto as forças russas realizam um ataque militar nacional.
Talvez 100 mil ucranianos já tenham deixado suas casas, de acordo com estimativas das Nações Unidas, e pelo menos metade deles se amontoaram em trens, congestionaram rodovias ou caminharam para atravessar as fronteiras de seu país, no que autoridades alertam que pode se tornar a próxima crise de refugiados do mundo.