O pé chato infantil é uma das razões mais comuns de pais procurarem ortopedistas e fisioterapeutas. Mas segundo a ABTPé - Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do tornozelo e Pé, até os quatro anos de idade o arco longitudinal medial ou a curvatura da sola do pé, está em desenvolvimento e até os 10 anos ele pode ou não se formar. É a partir desta idade que o problema deve ser tratado, caso seja de fato diagnosticado.
“A criança até os dois anos tem aquele pé gordinho, totalmente sem curva, que aos poucos vai formando o arco espontaneamente e sem comprometimento do desenvolvimento motor”, afirma a fisioterapeuta especialista em reabilitação de pé e palmilhas funcionais Jislane Santana, que atende com frequência pais preocupados com a curvatura dos pés dos filhos pequenos.
Segundo ela, os estudos mostram que 9,7 em cada 10 crianças têm pé plano até os dois anos, 4% vão continuar com pé plano até os 10 anos e apenas 1% vai precisar de tratamento após os 10 anos de idade.
O desenvolvimento dos membros inferiores da criança só deve ser motivo de preocupação para os pais em casos de dor constante ou deformidades aparentes ou progressivas. Se for observada perda da curvatura dos pés, principalmente por volta dos 8 ou 9 anos de idade, a criança deve ser avaliada por um especialista em ortopedia pediátrica.
E Jislane Santana orienta sobre ao que é importante prestar atenção: “os pais devem estar atentos aos casos onde a criança se queixa de dor constante ou apresenta deformidades aparentes nos pés, compensações em articulações adjacentes, nos casos de dificuldades em realizar atividades do dia a dia como correr, pular e quando houver episódios frequentes de quedas.
“Nesses casos é importante se buscar um olhar especializado para orientar adequadamente quanto a realização de exercícios físicos, fisioterapia para fortalecimento muscular específico, uso de calçados adequados e palmilhas, quando necessário, ressalta a profissional.
Mas nos primeiros anos de vida a orientação é para que os pais deixem as crianças andarem em casa, na areia, em grama, descalças, pois esse hábito ajuda a fortalecer a musculatura, trabalha a propriocepção, o equilíbrio e contribui para a formação do arco plantar, conclui Jislane Santana.
Andar descalço, normalmente ou na ponta dos pés, pular, caminhar na areia, na grama e no chão de terra batida ajudam a formar o arco do pé no bebê. Alguns ortopedistas aconselham o uso de palmilhas, natação e outros exercícios físicos, principalmente quando há queixa de dor.
Botas e palmilhas devem ser usadas?
Antigamente, era comum ver crianças utilizando botas e palmilhas especiais. Muitos familiares se baseiam no fato que eles usaram e a forma do pé “melhorou”. No entanto, nenhum estudo demonstrou qualquer efeito desses acessórios no desenvolvimento do pé. O “efeito” que era atribuído a elas na verdade era secundário à passagem dos anos. Há indícios, inclusive, que botas rígidas causem problemas devido à atrofia muscular resultantes, além do risco de trauma psicológico que a criança está exposta ao usar botas.
Em certas ocasiões, palmilhas podem ser úteis para diminuir o desgaste do calçado e proporcionar maior conforto.
O calçado deve ser visto como uma proteção. Em crianças de baixa idade o calçado deve ser flexível e com solo que não escorregue facilmente. Nas crianças maiores deve ser considerada a atividade da criança e a durabilidade desejada do calçado. Andar descalço ou com meias, desde que num solo seguro, deve ser estimulado.
São exemplos de deformidades, que necessitam de atenção especializada, o pé calcâneo valgo (quando, ao nascimento, o pé toca a frente da perna) e o pé talo vertical (pé em mata borrão) ou quando há limitação do movimento do pé. Alterações progressivas também devem ser avaliadas.
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Pés chatos - O que fazer