Eu queria a aprovação do mundo, dos meus amigos, queria pertencer a alguma coisa. Um grupo, qualquer coisa que me permitisse fazer parte. Ser um pedaço!
Uma eterna sensação de inadequação me perseguindo. Não passava de um rebeldinho sem causa.
Mas eu não nasci assim. Eu havia sido o “Caninos Brancos” de Jack London (como todos nós fomos um dia), antes de ser domesticado, antes de aprender a dar as patinhas, eu tinha sido livre, eu tinha sonhado. Mas tudo aquilo havia ficado para trás.
E eu não lembrava, tinha esquecido a que vim e havia esquecido o verdadeiro sentido de minha existência. Se é que existe isso...
Sentido? Então: eu era sem sentido! Então: eu era uma piada de mau gosto! Então: a minha existência nunca havia “sido justificada”! Principalmente por mim! Porque eu não me identificava com o pernóstico do chefinho e nem com o pomposo do doutor. E nem com o guru. E nem com o gênio caçador de pokémon. E nem tinha dó das vitimas. E achava o carrasco um puta dum mala - chato pra cacete.
E nem conseguia andar em bando, todo mundo igual, tendo que ser igual, pensar igual, zeros iguais rolando pelo mundo afora. Não existia um lugar pra mim no mundo.
Então: naquela época, ser nada na vida, parecia ser a coisa mais digna, a mais correta a se “fazer”. Eu não tinha nenhuma dúvida disso.
E aqui me confesso. E como registrou Dostoievski, eu escrevo só para mim e declaro duma vez por todas que, se pareço dirigir-me ao leitor, é apenas um processo de que me sirvo para maior facilidade.
Descobri, tardiamente, que não sou só um pedaço... Sou também o mundo inteiro.
As pessoas reais foram embora. Mas eu vou encontrar uma "palavra" melhor, algum dia, para contar a minha história. Deixando lá dentro não apenas as minhas feridas, mas também os meus sonhos e a minha alegria.