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Cotação do dólar fecha no menor valor dos últimos quatro meses

Em 5 de janeiro, o dólar chegou a ser vendido a R$ 5,71

Foto: Pixabay | Creative Commons
A moeda norte-americana está no menor valor desde 22 de setembro do ano passado

Beneficiado pelo fluxo de recursos para países emergentes, o dólar aproximou-se de R$ 5,30 e fechou hoje (31) no menor valor em quatro meses. A Bolsa de Valores teve pequena alta, mas encerrou janeiro com o maior ganho em mais de um ano.

O dólar comercial encerrou esta segunda-feira vendido a R$ 5, 306, com recuo de R$ 0,084 (-1,56%). A cotação abriu perto da estabilidade, mas desabou após a abertura do mercado norte-americano. Na mínima do dia, por volta das 13h15, chegou a R$ 5,28.

A moeda norte-americana está no menor valor desde 22 de setembro do ano passado, quando estava em R$ 5,304. Com o desempenho de hoje, a divisa encerrou janeiro com recuo de 4,84%. Esse foi o maior ganho mensal desde novembro de 2020.

Em 5 de janeiro, o dólar chegou a ser vendido a R$ 5,71, num momento de nervosismo no mercado financeiro global. Desde então, a cotação caiu 7,11%.

Taxas de juros

Com o cenário do Copom desta semana consolidado, o grande movimento da curva de juros nesta segunda-feira foi o desmonte de posições nos vértices médio e longo. A queda firme, de mais de 10 pontos-base em alguns contratos, se deve à baixa forte do dólar ante o real, que nesta segunda-feira furou o piso de R$ 5,30.

Assim, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 passou de 12,259% no ajuste de sexta-feira a 12,255% (regular) e 12,250% (estendida). O janeiro 2025 caiu de 11,353% a 11,27% (regular) e 11,215% (estendida). O janeiro 2027 cedeu de 11,327% a 11,22% (regular) e 11,17% (estendida). E o janeiro 2029 recuou de 11,451% a 11,35% (regular) e 11,30% (estendida).

A forte queda do dólar nesta segunda ajudou a tirar prêmios da curva de juros, especialmente nos trechos que são mais expostos ao risco.

A forte decida do dólar tem relação com o maior ingresso de recursos no País, para a Bolsa e o carry trade de juros, fazendo com que o fluxo alinhave o movimento nos três principais mercados domésticos. Há também o alto custo de carrego de posições contra o dólar, por causa das taxas em alta.

Agentes do mercado também avaliam que as incertezas do cenário eleitoral dão sinais de se dissiparem mais cedo do que o projetado, com reflexos nos ativos domésticos como um todo - ainda que um tanto tardios nos juros, dado o cenário fiscal que prescreve cuidados. Mesmo sem a terceira via, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder das pesquisas para o Planalto, deu sinais de moderação em seu discurso.

Nesta segunda-feira, a agência Bloomberg publicou entrevista em que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega reconheceu erros durante a sua gestão na pasta e disse que não será ministro de Lula caso o petista vença a eleição em outubro

Nos vértices mais curtos, o mercado segue em compasso de espera da decisão do Copom na quarta-feira. É consenso entre analistas e na curva de juros que a elevação será de 150 pontos-base. A questão, então, são os prováveis sinais do fim do ciclo de alta e até quando esse nível terminal será mantido.

Na curva de juros, por exemplo, a curva projeta taxa de 12,40% no fim do ano, o que embute 60% de chance de Selic a 12,50% e 40%, a 12,25%.

Bolsa

Após ter fechado 2021 acumulando perda de quase 12%, aos 104,8 mil pontos no último dia de negócios de dezembro, o Ibovespa teve boa recuperação em janeiro, bem perto de 7% - melhor desempenho do índice desde dezembro de 2020.

No mês, continuou a atrair fluxo externo para a oferta de descontos em dólar, em meio à correção em Nova York e na maior parte dos principais mercados da Europa e da Ásia, contidos em especial pela reorientação "hawkish" da política monetária na maior economia do mundo, da qual se espera ao menos quatro aumentos de juros este ano.

Na B3, o ganho acumulado no mês foi a 6,98%, enquanto em Nova York as perdas ficaram entre 3,32% (Dow Jones) e 8,98% (Nasdaq). Na Ásia, Tóquio cedeu 6,22% e, na Europa, Frankfurt recuou 2,60% neste começo de ano.

Na última sessão de janeiro, tendo se mantido descolado de Nova York na semana passada, o Ibovespa parecia que emendaria o segundo ajuste negativo, moderado como o anterior e também na contramão do sinal visto no exterior nesta segunda-feira. Depois das 16 horas, firmou-se em leve alta acompanhando S&P 500 e Nasdaq, que acentuavam retomada na sessão. Assim, a referência da B3 obteve nesta segunda ganho de 0,21%, a 112.143,51 pontos, tendo chegado aos 113 mil pontos na máxima intradia do mês, na última quinta-feira, no que foi seu melhor nível desde 19 de outubro passado.

O mês foi de recuperação na casa de dois dígitos para ações e setores de peso no índice, como Petrobras (ON +14,89%, PN +13,71%) e bancos (Itaú PN +21,02%, Bradesco PN +18,81%), que acumulavam descontos e costumam estar entre os preferidos do investidor estrangeiro, pela elevada liquidez.

Na sessão, destaque para Azul (+7,99%), Banco Pan (+7,58%), Gol (+7,52%) e CVC (+5,93%), parte dos quais com exposição a dólar, beneficiados nesta segunda pela queda de 1,56%, a R$ 5,3059, na moeda americana à vista. Na face oposta, Vale ON (-3,33%, na mínima do dia no fechamento), JBS (-2,69%) e CSN Mineração (-2,38%), em dia no qual o minério caiu mais de 6% em Cingapura, após desaceleração em janeiro no índice de atividade (PMI) oficial da indústria na China.

Nesta segunda-feira, em abertura de semana que tem como ponto alto a reunião do Copom, o Ibovespa oscilou entre mínima de 111 194,57 e máxima de 112.678,44 (+0,69%), renovada na reta final da sessão, com giro a R$ 32,8 bilhões. Ao longo da tarde, oscilou em torno da linha que demarca a estabilidade, sem firmar direção até que veio a acentuação de ganhos em Nova York, com os índices amplo e de tecnologia buscando mitigar as perdas que se acumularam no mês.

"Em fevereiro, o investidor seguirá calibrando expectativas com o Federal Reserve, que já promete a primeira alta de juros em março, sinaliza que mais estão por vir e deixa em aberto o início do movimento de enxugamento de seu balanço em 'dois ou três' encontros do FOMC (o comitê de política monetária do BC americano)", observa em nota a Guide Investimentos.

"Parece que o Fed lutará para chegar a um consenso claro sobre quão agressiva será a decolagem de março, então a agressiva 'buy the dip' não acontecerá tão cedo. As condições econômicas ainda parecem boas este ano, mas o reposicionamento sobre as avaliações e as preocupações com o crescimento provavelmente manterão a volatilidade elevada no curto prazo", diz Edward Moya, analista da OANDA, em Nova York, em nota.

Aqui, o relatório Focus desta semana trouxe, pela manhã, avanço na projeção de inflação do ano, de 5,15% para 5,38%, enquanto a do PIB teve leve aumento, de 0,29% para 0,30%, e a expectativa para a Selic se manteve em 11,75%, aponta a Nova Futura Investimentos.

Além da deliberação do Copom, na quarta-feira, o mercado estará atento, a partir de terça, ao início da temporada de balanços no Brasil, referentes ao quarto trimestre de 2021.

"Em relação ao mesmo período de 2020, o mercado espera uma queda do Lucro por Ação (LPA) das empresas do Ibovespa em 15,1%, pela piora do cenário macroeconômico, comparado com um início consistente de recuperação econômica no final de 2020, e uma queda nos preços das commodities", escrevem em relatório Fernando Ferreira, head de research, Jennie Li, estrategista de ações, e Rebecca Nossig, analista de estratégia de ações da XP Investimentos. "Em relação ao Lucro Operacional (Ebitda) das empresas, o mercado espera 18,6% de crescimento. E para a receita, o consenso espera uma desaceleração, mas ainda com um sólido crescimento de 26,3%", acrescentam.

Enquanto o Ibovespa acumulou recuperação de cerca de 7% no mês, a moeda americana iniciou o ano mais comportada, acumulando queda de 4,84% em janeiro frente ao real. Assim, em dólar, o Ibovespa terminou o mês a 21.135,62 pontos, comparado a 18 799,19 pontos no fechamento de 2021 e a 22.937,77 pontos no encerramento de 2020.