Brasil

Preços dos testes de Covid-19 têm reajuste de até 700% em São Paulo

Testes que iam de R$ 50 a R$ 90 pularam para R$ 350 a R$ 400

A alta procura por testes de covid-19, registrada com o espalhamento da Ômicron pelo País, tem levado agora a uma série de denúncias por parte de pacientes, que além de dificuldade para realizar o exame, também estão verificando preços elevados. Para investigar as denúncias, o Procon de São Paulo (Procon-SP) realiza a 'Operação Teste Covid-19 - Sem Abusos'. O objetivo é fiscalizar a conduta abusiva de farmácias e laboratórios, que sem nenhuma razão, estão aumentando de maneira exagerada os preços dos testes.

"Testes que iam de R$ 50 a R$ 90 pularam para R$ 350 a R$ 400. Desta maneira, aquela população que está combalida economicamente, por força dos efeitos econômicos da pandemia, não têm condições de fazer toda hora testes de covid, pois o preço explodiu e sem nenhuma razão para isso", afirmou o diretor executivo do Procon-SP, Fernando Capez, em entrevista nesta segunda-feira, 17, à Rádio Eldorado.

A entidade irá verificar se está havendo falta de estoque ou se os estabelecimentos estão escondendo os testes para questões especulativas. E em segundo lugar, por qual motivo estão exageradamente praticando os preços abusivos.

"Vamos fiscalizar em laboratórios e farmácias o preço dos testes de covid. Verificando que houve aumento exagerado da margem de lucro, a empresa será autuada por prática abusiva, com multa podendo chegar até R$ 11 milhões", detalhou o diretor executivo da entidade.

Caso o consumidor encontre preços abusivos, deve comunicar os órgãos de defesa do consumidor. "Em plena pandemia, quando existe uma necessidade da população por exames, não se pode admitir que a empresa pratique de forma especulativa o aumento exagerado dos preços", disse Capez.

O Procon-SP vai apurar ainda o tempo médio de espera para o paciente realizar o agendamento dos testes de covid.

Desde o fim do ano, o avanço da Ômicron no Brasil tem levado a uma corrida por testes para detectar o coronavírus. Nas farmácias, as dificuldades de agendamento e a falta de estoque são os principais gargalos. Dados da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) apontam que 283,8 mil testagens foram feitas entre 27 de dezembro e 2 de janeiro: 50% superior ao de 20 a 26 de dezembro. Já o volume de resultados positivos para covid pulou de 22,3 mil (11,8% do total) para 94,5 mil (33,3%).

Na rede pública, em razão da grande demanda, a capital paulista começou desde o último sábado, 15, a fazer testagem de síndrome gripal e coronavírus apenas para pessoas com condições de risco. Hospitais e laboratórios particulares também têm priorizado pacientes com quadros graves e profissionais de saúde.

Recentemente, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) alertou para a possibilidade de falta de testes de antígeno e PCR (o molecular, tipo mais preciso), se estoques de insumos necessários para a realização de exames laboratoriais para o diagnóstico da covid-19 não forem repostos rapidamente. A entidade disse não saber até quando os laboratórios conseguirão atender a demanda por exames, que cresceu principalmente por causa da alta transmissibilidade da variante Ômicron, e recomendou parar de testar casos leves da doença.

Para muitos pacientes com suspeita de contaminação pela doença, o teste se tornou sinônimo de resiliência nas longas filas do serviço público, ou de custo adicional para aqueles que recorrem aos grandes laboratórios privados, que, por sua vez, também estão com alta demanda de agendamentos.

Estoque para 7 dias

Com o aumento do número de pessoas infectadas pela variante Ômicron e pelo vírus Influenza, a quantidade de testes para detecção dos casos de covid-19 e gripe Influenza diminuíram. E caiu consideravelmente.

Em mais da metade dos laboratórios privados do estado de São Paulo só há testes suficientes para sete dias – ou menos. Isso é o que revelou uma pesquisa feita pelo Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (Sindhosp). A pesquisa ouviu 111 laboratórios privados entre os dias 10 e 14 de janeiro.

Segundo a pesquisa, a procura por testagem para o vírus Influenza, causador da gripe, cresceu 92% nos laboratórios nos últimos 15 dias. Para a covid-19 o índice cresceu 99% nesse mesmo período.

A procura por testes de covid-19 dobrou na quase totalidade dos laboratórios pesquisados (92%). Em algumas regiões do interior do estado como Jacareí e São José do Rio Preto o crescimento variou entre 501% e 1000%.

Dentro dessa amostra, mais da metade dos serviços de saúde pesquisados informou ter estoque de testes para covid-19 e Influenza suficientes para até sete dias. E 22,5% dos laboratórios informaram ter estoque para 15 ou 21 dias, sendo que a maioria deles fica no interior do estado.

Para Luiz Fernando Ferrari, coordenador do Comitê de Laboratórios do SindHosp, a pesquisa constatou que a maioria dos testes positivos de covid-19 ocorre na faixa etária entre 30 e 50 anos.

Nesta semana, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) já havia alertado que, assim como em outras partes do mundo, a alta demanda de exames laboratoriais para o diagnóstico da covid-19 trouxe ao setor de medicina diagnóstica brasileiro a preocupação com a falta de insumos necessários para a realização desses exames.

"A alta transmissibilidade da nova variante Ômicron causou aumento exponencial de casos, o que vem demandando significativo aumento da capacidade produtiva global de testes, tanto de PCR como de antígeno, e se os estoques não forem recompostos rapidamente poderá ocorrer a falta de oferta de exames", disse a associação.

A falta de testes não afeta somente os laboratórios privados de São Paulo. Nas unidades de saúde administradas pela prefeitura de São Paulo, por exemplo, os estoques estão baixos e, por isso, a administração municipal decidiu limitar os testes para grupos prioritários ou grupos de risco.

Segundo o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, fazem parte desse grupo as gestantes e puérperas, idosos, pessoas que se preparam para fazer cirurgia, profissionais da saúde e população em situação de rua. Para este grupo, disse ele, não devem faltar exames.

Para fazer o teste, essas pessoas devem apresentar mais de dois sintomas gripais. Para as demais pessoas que não fazem parte do grupo de risco, o diagnóstico será clínico, considerando o histórico de contato próximo ou domiciliar nos 14 dias anteriores ao aparecimento de sintomas. Os principais sintomas gripais relacionados são febre, calafrios, dor de garganta, tosse, coriza e distúrbios olfativos ou gustativos.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, informou que a falta de testes não se deve à falta de recursos da administração municipal. “Não existe nenhum problema com falta de recursos ou dificuldade de fazer aquisição, com exceção da falta de teste por parte do próprio fabricante. O volume de pessoas aumentou de forma assustadora. E a prefeitura fez protocolo para priorizar sintomáticos que tenham necessidade de internação e alguns setores como pessoas em situação de rua. Estamos atentos. Assim que houver testes disponíveis no mercado, vamos fazer aquisição. Mas é importante que não deixemos faltar exames para quem vai fazer internação ou cirurgia”.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, desde o dia 30 de dezembro do ano passado, quando começou a testagem rápida para diagnóstico de Influenza, mais de 97,5 mil testes foram feitos, sendo que mais de 14 mil deram positivo para a doença.

No caso da covid-19, desde dezembro até ontem (16) foram realizados 227,7 mil testes rápidos de antígeno, sendo mais de 90,6 mil deles positivos. A taxa de positividade é 39,8%.