Pedro Oliveira

Queimadas: onde um santo foi condenado por homicídio


Ruínas da antiga igreja de Queimadas

Um mergulho na rica história do município de Queimadas, ainda pouco explorada, nos permite conhecer os contos e encantos da cultura regional, a exemplo da curiosa prisão da imagem de Santo Antônio responsabilizado pelo crime cometido por um suposto escravo foragido.

O massacre de soldados fuzilados na porta do quartel por Lampião.

A árvore (juazeiro) que nasceu entre duas rochas, as ruinas da velha igreja e a ponte de ferro edificada pelos ingleses sobre o rio Itapicuru, além das belezas naturais que deixam os visitantes deslumbrados, os atrativos oferecem ainda, um mergulho nas águas do Itapicuru e trilhas feitas a pé ou de bicicleta, em meio a natureza e canto dos pássaros. 

A invocação a Santo Antônio não se deu por acaso e um fato curioso, é que a mesma imagem antes símbolo de devoção, após um indivíduo ter aparecido morto frente da igreja, como as autoridades não conseguiram identificar o verdadeiro criminoso, atribuíram o crime a imagem do santo que foi preso e conduzido amarrado de cabeça para baixo no lombo de um burro até Água Fria para ser julgado.

Ao ser condenado, Santo Antônio foi desapossado e teve seus bens confiscados. Segundo a lenda, a imagem original do santo que surgiu milagrosamente em Queimadas desapareceu com sua ida para Água Fria.

Segundo o ex-vereador Valmir Bezerra, a data de 22 de dezembro de 1929 é lembrado com muita tristeza pelos queimadenses, por ter sido o dia que Lampião invadiu a cidade e matou sete soldados a tiro na frente do quartel, que servia de prisão. Os homens eram chamados um a um pelo cangaceiro que o mandava abaixar a cabeça e atirava na nuca e seus “seguidores” sangravam os mortos e os colocava na porta da prefeitura, lado a lado. 

Bezerra comenta ainda, que as ruinas da velha igreja de Queimadas, tem sido um testemunho solitário da antiga Vila Bela de Santo Antônio das Queimadas, destruída pela enchente que elevou o nível das águas do rio Itapicuru a quase nove metros de altura em 1911, tornando o local ponto turístico. A igreja de Nossa Senhora do Rosario (Igreja da Matriz), é tida como uma das edificações mais antiga da cidade.

Símbolo da beleza natural e de inspiração para poetas e cancioneiros, o juazeiro que nasceu entre duas rochas as margens do rio Itapicuru, se constitui em um presente da natureza e da resistência da arvore, que tem suas raízes aprofundadas nas rechãs do bloco de granito, frutificando há mais de um século. A denominação Queimadas vem de duas fazendas chamadas 'As Queimadas', onde se iniciou o povoamento da comunidade. Emancipada em 20 de julho de 1884, a localidade foi desmembrada do território do município de Vila Nova da Rainha – Senhor do Bonfim.

Para o servidor público Janden Góes, Queimadas é uma cidade com enorme diversidade histórico-cultural e lembra que em 6 de fevereiro de 1886, houve a inauguração da estação de trem e sobre o rio Itapicuru, foram erguidas duas pontes, sendo uma metálica construída por ingleses para servi a estrada-de-ferro de Salvador a Juazeiro, até hoje utilizada e no período da República Velha entre 1889 e 1930, o município serviu de descanso das tropas militares que seguiam para a cidade de Canudos, terra de antigos coronéis.