Brasil

Todos os 10 mortos do "Mar de Minas" estavam na mesma lancha

4 embarcações sofreram o impacto, 2 delas diretamente

Uma estrutura rochosa desabou na região dos cânions de Capitólio, a 293 km de Belo Horizonte, nesse sábado (8 de janeiro), atingindo 4 embarcações, com 34 pessoas, e causando 10 mortes. As equipes de buscas não trabalham mais com a possibilidade de desaparecidos.

A Polícia Civil confirmou formalmente apenas a identidade de uma das pessoas que morreram no acidente. Segundo o delegado regional da Polícia Civil de Passos, Marcos Pimenta, trata-se de Júlio Borges Antunes, de 68 anos.

A vítima era natural de Alpinópolis (MG). O corpo já foi liberado para a família e deve ser enterrado ainda neste domingo (9) em São José da Barra (MG).

Outros mortos

  • Um homem de 40 anos, natural de Betim, que seria o piloto da lancha
  • Uma mulher de 43 anos, de Cajamar (SP) e sua filha de 18 anos, natural de Paulínia
  • Um homem de 67 anos, nascido em Anhumas (SP), sua mulher de 57 anos, seu filho de 37 anos e seu neto de 14 anos
  • Um homem de 24 anos, natural de Campinas
  • Um homem de 24 anos, nascido em Passos

Segundo o médico legista Marcos Amaral, de Passos, as identificações serão feitas por meio de amostras de DNA, raios-X de arcadas dentárias e outros recursos, com o apoio do Instituto de Identificação de Belo Horizonte. "Como foi um impacto de altíssima energia, os corpos estão bastante prejudicados, o que dificulta o trabalho".

Todos os turistas da lancha estavam em uma pousada em São José da Barra, em Minas Gerais.

Segundo Marcos de Souza Pimenta, delegado regional de Passos, o foco do trabalho será continuar a identificação das vítimas, por meio da coleta de material genético dos familiares de primeiro grau, para confrontá-los com os corpos e fragmentos corporais encontrados.

O delegado disse que se o tempo não estivesse chuvoso poderia haver entre 50 e 100 pessoas nadando naquele trecho, inclusive crianças.

As embarcações

2 embarcações sofreram impacto direto: EDL (de onde foram resgatadas 14 pessoas com vida) e Jesus (que levava as 10 pessoas que morreram).

Outras 2 embarcações tiveram impacto indireto: uma lancha vermelha, sem identificação (10 vítimas socorridas) e Nova Mãe (8 pessoas foram resgatadas com vida).

Todos os mortos e desaparecidos eram de São Paulo e Minas Gerais. A informação foi divulgada no último boletim do Corpo de Bombeiros, às 21h do sábado. 

Veja o desmoronamento

50 militares participaram da operação de busca, entre bombeiros militares e militares da Marinha do Brasil; 11 mergulhadores dos bombeiros, especialistas nesse tipo de operação e já familiarizados com a área de busca; 4 lanchas e 3 motos aquáticas da Marinha e dos bombeiros lançadas no local de busca já delimitado, além do apoio de 7 viaturas.

Mar de Minas

A região é chamada pelos operadores náuticos de  "Mar de Minas". No local onde as lanchas atracam, os turistas podem tomar banho e se aproximar das cachoeiras no cânion, mas visitas a áreas rochosas devem ser evitadas em momentos chuvosos, ressaltou o tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, em entrevista à CNN.

Desde ontem havia ocorrência de episódios de tromba d'água nas cachoeiras que desaguam no Lago de Furnas.

A orientação que já existe é que, no momento de fortes chuvas como o atual, ou de cenário de solo muito saturado em áreas de risco geológico, as pessoas mantenham distância segura dessas regiões rochosas”, disse. “Essa situação poderá ser reavaliada, mas, pela característica da região, pode haver novos desabamentos”.

Às 10h22 da manhã deste sábado, a Defesa Civil de Minas Gerais fez um post no Twitter alertando para o perigo de “cabeça d’água” na região e pedindo que o público evite cachoeiras no período de chuvas.

O resgate

Foto: Corpo de Bombeiros de MG

À espera de um milagre

Segundo o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, 32 pessoas foram atendidas por causa do acidente, a maioria com ferimentos leves. Dessas, 23 foram atendidas e liberadas da Santa Casa de Capitólio.

Feridos

-- 2 pessoas com fraturas expostas foram para a Santa Casa de Piumhi, a cerca de 23 km de Capitólio

-- Um jovem de 26 anos e morador de Pimenta (MG) internado na Santa Casa de Passos, a 74 km de Capitólio

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, se manifestou sobre a tragédia. "Sofremos hoje a dor de uma tragédia em nosso Estado, devido às fortes chuvas, que provocaram o desprendimento de um paredão de pedras no lago de Furnas, em Capitólio. Solidarizo-me com as famílias neste difícil momento. Seguiremos atuando para fornecer o apoio e amparo necessários."

Por meio de nota, a Marinha do Brasil informou que um inquérito será instaurado para apurar causas, circunstâncias do acidente.

Confira a íntegra da nota da Marinha

A Marinha do Brasil informa que tomou conhecimento de um acidente, no fim da manhã de hoje, após deslizamento de rochedo atingir embarcações que navegavam a região dos cânions, em Capitólio-MG.

A DelFurnas deslocou, imediatamente, equipes de Busca e Salvamento (SAR) para o local, integrantes da Operação Verão ora em andamento, a fim de prestar o apoio necessário às tripulações envolvidas no acidente, no transporte de feridos para a Santa Casa de Capitólio, e no auxílio aos outros órgãos atuando no local.

Um inquérito será instaurado para apurar causas, circunstâncias do acidente/fato ocorrido.

Em entrevista à BandNews TV, o engenheiro geotécnico Paulo Afonso explicou que a queda de paredões rochosos costuma ser rara. Segundo ele, "os cânions se formaram em milhões de anos geológicos por erosão das partes mais fracas das rochas. Quem sobra, em termos mais práticos, são as partes resistentes. Elas raramente caem”.

Gustavo Cunha Melo, especialista em gerenciamento de risco, disse em entrevista à Globo News que a rocha que despencou aparentava estar com muita erosão. Ele também afirma que a queda é parte de um fenômeno natural.

"Desabamento de falésias acontecem em algumas praias do nordeste. E, no caso desse cânion, são acidentes naturais, eles vão acontecer. Essa rocha estaca com muita erosão, totalmente fragmentada. Aparece uma cicatriz incrível na rocha e ali iria desabar em algum momento", disse.

Em entrevista ao g1 Centro-Oeste, Joana Paula Sanchez, especialista em turismo geológico e professora da Universidade Federal de Goiás, disse que a existência de um mapeamento técnico da região poderia ter evitado que pessoas estivem tão próximas de uma área de risco.

"Nessa região, que tem muito quartzito, que sofreu uma deformação, é comum que essas rochas sejam fraturadas. Cair um paredão de pedras não é tão comum, mas pode acontecer", afirmou.


Sobreviventes e destroços das lanchas - Foto: Corpo de Bombeiros

O "Mar de Minas" é um lago artificial que surgiu a partir da implantação da hidrelétrica de Furnas na década de 1950. Com 1.440 km2 de área e perímetro de 3.700 quilômetros é quatro vezes maior que a Baía da Guanabara. 

O reservatório, formado no fim dos anos 50, banha 34 cidades, e tem como atrativos os paredões de rocha com mais de 20 metros de altura, cânions, ilhas, piscinas naturais, praias de areia e cascalho e cachoeiras que deságuam diretamente no lago.

A água é de uma cor verde-esmeralda que lembra o litoral do Rio e é relativamente quente (média de 20 graus). 

Buscas continuam

As buscas no Lago de Furnas, em Capitólio (MG), continuarão pelos próximos dias, anunciaram hoje (9) a Defesa Civil e a Polícia Civil de Minas Gerais. Segundo os órgãos, os trabalhos prosseguirão porque, embora todos os dez mortos tenham sido resgatados, algumas vítimas tiveram somente pedaços de corpos encontrados. 

Além disso, a polícia aguarda eventuais comunicações de novos desaparecimentos, no caso de eventuais turistas que estavam sozinhos. “Pode ser que uma pessoa ou um casal estivesse caminhando e tenha caído uma pedra. Até o momento, nenhum dos órgãos recebeu informação de outros desaparecidos. Nós estamos iniciando e não temos pressa de terminar os trabalhos”, disse o delegado Marcos Pimenta, da Polícia Civil mineira.

Segundo Pimenta, até agora foram identificados apenas dois corpos, um formalmente, com base nas impressões digitais, e outro com base em reconhecimento precário de parentes, que ainda requer comparação com material genético. O impacto da rocha, informou o delegado, está dificultando os trabalhos de reconhecimento.


A Marinha está ajudando nas buscas

O sargento da Defesa Civil de Minas Gerais Wander Silva informou que a apuração sobre a falta de fiscalização e de medidas de segurança, que poderiam ter prevenido a tragédia, será discutida na investigação do inquérito aberto pela Marinha.

“Este não é o momento [de discutir isso]. Estamos concentrados nas buscas, e essas responsabilidades, no decorrer do inquérito, serão apuradas. Isso será verificado posteriormente”, argumentou. Cerca de duas horas antes da tragédia, a Defesa Civil mineira emitiu um alerta de cabeça d´água (forte enxurrada em rios provocada por chuvas) para a região de Capitólio, mas os passeios turísticos continuaram normalmente.

Os prefeitos de São José da Barra, Paulo Sergio de Oliveira, e de Capitólio, Cristiano Silva, anunciaram que medidas para reforçar a segurança do turismo no Lago de Furnas serão discutidas amanhã (10). O encontro reunirá prefeitos da região e representantes da Defesa Civil de Minas Gerais, da Polícia Militar e da Marinha.

Segundo o prefeito de Capitólio, uma lei municipal de 2019 disciplina o turismo no cânion, proibindo banhos na área de circulação das lanchas e limitando a 40 o número de embarcações que podem permanecer por até 30 minutos na área do cânion. Além disso, normas da Marinha estabelecem o ordenamento da orla do lago.

Ele admitiu, no entanto, que, até agora, não existia uma norma sobre a distância mínima entre as lanchas e os paredões rochosos. Segundo ele, um perímetro mínimo de segurança só poderá ser definido após estudo técnico. O prefeito ressaltou que o desprendimento de um bloco tão grande é inédito na região.

“Meu pai vive aqui há 76 anos e nunca viu um desligamento de rocha desses. Acredito que, daqui para a frente, a gente precisa fazer uma análise [geológica]. Aquelas falésias estão ali há milhares de anos. Essa formação rochosa de quartzito tem essas fendas e fissuras. Já foram feitos vários estudos geológicos. Se tinha algum risco, tinha de ser emitido por um órgão superior”, explicou.

O prefeito disse ainda que uma foto de 2012, divulgada ontem nas redes sociais, com paredão com fissura larga, não se refere à rocha que desabou, mas a um que continua intacto no trecho central do cânion. De acordo com ele, a fissura no bloco que desmoronou era menor que a da pedra mostrada na foto.

Visita cancelada

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, que visitaria o município de Capitólio neste domingo, cancelou a ida à região. Segundo o governo estadual, o mau tempo impossibilitou a viagem.

“Por causa das fortes chuvas que atingem o estado, as quais inviabilizam as autorizações e condições para voo, o governador não irá a Capitólio neste domingo. Nova data para a viagem será anunciada em breve”, informou a Secretaria de Governo do estado.