Cassiano Antico

A lição de vida que aprendi com minha filha pequena

 
Penso que não há nada mais artístico do que amar verdadeiramente as pessoas
-- Vincent van Gogh

Minha filha caiu, levantou. Caiu novamente e se levantou mais uma vez para continuar brincando com os seus amiguinhos. Uma verdadeira lição de vida pra mim. Tão simples e tão na cara!

A perfeição não existe. O próprio universo está em contínua expansão e retração; mudança. É lindo, é imperfeito! Erros acontecem. Seja por nossa própria incompetência, imperícia, ou mesmo por motivos externos que escapam ao nosso controle. Não importam os motivos. O difícil é assumi-los de peito aberto, não apenas para os outros, mas para nós mesmos.

Escondemos dos outros porque temos vergonha e medo de não sermos compreendidos ou absolvidos. Tememos que nossos fantasmas internos também não nos perdoem.

A coragem para se levantar, para se reerger, e continuar depende unicamente de cada um de nós. Entre um passo e outro há um desequilíbrio, uma leve tremedeira, quase imperceptível - para chegarmos mais adiante.

Já vivi momentos em que não sabia se conseguiria levantar da cama. Existia um buraco dentro de mim que eu não tinha ideia de como preencher ou como fazer para parar de doer. Poucas foram as pessoas com quem consegui expor a minha dor, ou pude contar de verdade. Eu me fechava de todas as formas. E isso, definitivamente, não me ajudava. Então comecei a me obrigar a sair. Eu respirava fundo e ia. A dor ia comigo, e eu já havia me acostumado a ela. Percebi que, apesar dela, eu precisava seguir em frente. Seguir respirando fundo e seguindo em frente.

Foi assim que eu também renasci pela primeira vez. Quem renasceu nem percebe que nasceu de novo.

Renascemos muitas vezes ao longo da vida. Muitas vezes nem notamos. Assim como só lembramos da saúde quando estamos doentes, debilitados. Mas no meu caso, o renascimento me trouxe dois lindos presentes. Duas lindas meninas. Minhas filhas. E elas são a alegria e o sentido maior para eu me levantar depois de cada tombo, de cada nocaute que a vida me dá. E, muitas vezes, a porrada é forte demais.

Mas tenho conseguido me colocar sobre minhas pernas e seguir em frente, de cabeça erguida, como minha filha pequena me ensinou.