Do hedonismo, da vivência com a natureza, dos mergulhos nas cachoeiras, da imersão no meu interior, da profunda inspiração e expiração criativa, dos extremos com drogas, álcool, sexo, dos joelhos sobre a terra dura, das lanternas acesas durante o dia, dos meus olhos arrancados para que eu pudesse enxergar através de outros sentidos, inventar novos olhos... A minha escola... É fato que tais abusos já existiam na Grécia antiga e no império romano. O século XX passou por outra era dionisíaca. Nietzsche descreve tal fenômeno em sua obra “O nascimento da tragédia”.
É o mergulho para dentro de si, a busca tresloucada por autoconhecimento, o povoamento no deserto do cérebro, o registro autoral da potencialidade individual, o impulso bêbado, a produção literária, a falta de razão do existir; viver o instante para simplesmente produzir arte; um uivo descontente na névoa de tabaco, expondo a incapacidade intelectual da elite e dos burocratas diante da fúria artística dos plebeus, o vômito intelectual, a angústia musicada. Como escreveu Ginsberg: "dançaram sobre garrafas quebradas de vinho, descalços, arrebentando nostálgicos, discos de jazz europeu dos anos 30".
Este sentimento, que habita muitos corpos, tem estado por aqui desde sempre. E trago comigo, um outro, e que aparece como um disco riscado, revirando meu peito, machucando, machucando, procurando conexão com alguém, ou algo maior e transcendente: Deus! Deus! E sou nocauteado pelo sentimento de culpa. É um sentimento agudo. Volta e meia percebo que sou visitado por este hóspede emocional indesejado que, pela lógica, não devia vir, pois não foi convidado. Só que ele chega de repente, ocupa os espaços. E o pior não é o incômodo que causa, aquela dor emocional que fica ali, como um tumor saindo pra fora do corpo, um chute na boca do estômago, lembrando que ele existe, e que sua única função é mesmo doer. Doer!
A culpa pode ser de coisas que aconteceram antes de eu nascer - como grandes crueldades da humanidade, genocídios -, como também coisas que não cometi hoje... O amor que guardei, que escondi... Minha culpa! E é só o amor que nos liberta e nos redime das mazelas deste mundo! Ao reparar no brilho inocente dos olhos de minhas filhas, a culpa derrete, como acontece com metais que entram em contato a elevadas temperaturas. Foi o calor do amor que me salvou. Me salvou de mim mesmo. E isso não pode ser escrito. Vem de outro lugar. Nem em grego, nem em português, japonês, nem em esperanto, etc! Porque não pode ser traduzido, irmãos.