Levei minhas filhas para o interior de São Paulo para comemorar, antecipadamente, o aniversário da Valentina, a Zazá. E me entreguei completamente à experiência...
O privilégio da infância é podermos transitar livremente entre a magia da vida, bolos, brigadeiros, carinho de avós. É uma alegria sem limites.
"Quando era criança, sentia dificuldade para distinguir entre o que era imaginado e o que era real”, escreveu o cineasta sueco Ingmar Bergman. Eu me identifico com isso. A alegria, por exemplo, tem um formato corporal que nos lembra uma criança, não é? Assim como a tristeza tem o contorno de gota, como uma lágrima.
Brincamos de bola, nadamos na piscina gelada, comemos pipoca, coloquei minhas filhas sobre os meus ombros. Estava muito feliz! "Papai, tem uma surpresa pra você no quarto", diz Dodó, enquanto Zazá me leva pelas mãos. Imagino o quarto de pernas pro ar. Quando entro, está tudo arrumado, e nos mínimos detalhes - a cama, a mala está com as roupas dobradas.
De lá, elas caminham até o quintal e mostram todos os brinquedos guardados. Riem, pulam em mim, pegam duas bexigas e me chamam para brincar de 'bobinho'. Eu sou o bobinho no início do "jogo".
Falta pouco para voltarmos para São Paulo. Nunca senti um amor assim por ninguém. As crianças despertam o melhor que há em mim; sentimentos que imaginava não existir mais, pois a cada dia que passa o mundo fica menos humano.
Concordo plenamente com Rubem Alves, quero desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar sentidos.