Cassiano Antico

É impossível salvar o Planeta matando os pássaros

A fabricação de uma existência sem vida leva tempo

 
Cada um de nós pensa em mudar a humanidade, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo
-- Tolstoi

É chegado o tempo de compreender o próprio valor e importância. À medida que você toma consciência de sua singularidade e do quanto você é único, os outros não têm escolha, a não ser lhe respeitar.

A fabricação de uma existência sem vida leva tempo. Treino... demora para chegar ao completo adestramento.

A coisa espontânea, a sinceridade desconcertante das crianças pode causar vergonha, mas também orgulho, porque as crianças ainda possuem os sentidos preservados, não estão adestradas por completo. São como aqueles cavalos selvagens que correm livres pelo campo. Leões em seu habitat! 

"Pai, por que as pessoas prendem os pássaros em gaiolas? Eles podem voar, já nasceram com asas. A Super-Girl aprendeu a voar com os pássaros, eu acho" - diz minha filha.

Sinto orgulho e um profundo amor por tudo que é criança. 

Você acha que a maldade nasce Freddy Krueger? E a bondade nasce Padre Pio, ou Madre Calcutá? Ver a domesticação é algo que apraz a multidão, é doentio. Talvez seja por isso que dizem que precisamos aprender a nos perdoar. Só podemos mudar a nós mesmos, mas para isso é necessário perdoar nossos erros, culpas, vergonhas do passado.

O passado é o passado. Experimenta ler "O Homem que Ri", do próprio Hugo, escrito há mais de 150 anos. A infância do pequeno Gwynplaine, traficado pelos comprachicos, que o mutilaram, cortaram-lhe os dois lados da boca para que sempre estivesse "rindo".

Seria o futuro Joker? Cujo riso não é de alegria, mas de desespero, ódio - os alicerces da nossa civilização? Mas apontar erros e mostrar máculas alheias é fácil. Podemos até falar sobre os salvadores da raça humana...

Os que têm a nobre missão de salvar o planeta inteiro, de torná-lo uma bola "iluminada" - mas que maltratam os pássaros, destroem a luz natural das crianças, ferem o próprio irmão. 

Na real, aceitar minha ignorância, minha pequenez: é muito doloroso! Olhar com honestidade para dentro de mim também é. Mas aquela coisa sartriana (Jean-Paul Sartre) - não importa o que fizeram de mim. O que importa é o que eu faço com aquilo que fizeram de mim.