Opinião

Café (mas poderia se chamar Brasil)

A ortografia mais comum em inglês, café, corresponde ao que também é escrito em francês, espanhol e português

O café provém de um arbusto chamado cafeeiro que produz sementes das quais são torradas e elaboradas esta saborosa e estimulante bebida há séculos. Reza a lenda que os primeiros frutos de café foram descobertos por pastores de um rebanho etíope por volta de 800 da nossa era. Um pastor notou que seus animais começavam a saltitar alegremente toda vez que mastigavam suas folhas e sementes e, ao prová-las, além de notar o agradável aroma, provavelmente também se sentiu energizado.

A ortografia mais comum em inglês, café, corresponde ao que também é escrito em francês, espanhol e português, mostrando uma enorme conexão entre estes países e culturas. É também próximo da grafia italiana caffé, com dois efes. O café é oriundo da Etiópia e foi largamente cultivado no Oriente Médio, conquistando a Europa em meados do século XVII, onde foi bastante apreciado principalmente pela elite, como filósofos e artistas da época. As primeiras cafeterias ocidentais foram estabelecidas em Veneza, Itália, e por volta de 1645 e tornaram-se uma febre na Inglaterra, mais precisamente em Oxford, como o conhecido “Oxford Coffee Club”. Por sinal, o físico, matemático e teólogo inglês Isaac Newton (1642 - 1727) foi um ilustre apreciador da iguaria, e cliente assíduo de cafeterias inglesas.

Em 1727, o militar luso-brasileiro Francisco de Mello Palheta (1670 - c. 1750), trouxe da Guiana Francesa e plantou as primeiras mudas da planta no estado do Pará, Brasil, conforme descrito na bela canção “Café” do álbum “Homo Sapiens” de 1995, do incrível cantor e compositor multi-instrumentista brasileiro Jorge Duílio Lima Meneses (n. 1945), mais conhecido como Jorge Ben Jor. Tempos depois, em aproximadamente 1781, o desembargador português João Alberto de Castello Branco (c. 1703 - ?), vindo do Maranhão, deu início a primeira grande plantação no estado do Rio de Janeiro, que de certa forma promoveu a disseminação desta iguaria.

A simples apreciação do café requer alguma ciência, com predomínio da termodinâmica, ao combinar temperatura e pressão a grãos misturados a água. A primeira patente de café solúvel é creditada ao inventor inglês John Dring (c. 1751 – c. 1776) em 1771 (“Coffee Compound”). Já a primeira patente americana para moedor de café (US 198X) foi creditada ao inventor e dentista americano Thomas Bruff (c. 1772 – 1816) em 1798. Uma cafeteira foi patenteada pelo físico e inventor anglo-americano Benjamin Thompson (1753 - 1814), Conde Rumford, em 1806. A primeira patente de tostador de café foi proposta pelo joalheiro e inventor americano Peregrine Williamson (c. 1770 - 1841) em 1820 (US 3,185X, “Coffee Roaster”). Já o primeiro coador de café foi elaborado pelo militar e inventor americano James Henry Nason (c. 1811 - ?) em 1865 (US 51,741, “Coffee Percolator”).

A proposta de uma máquina de café expresso baseia-se no uso do vapor de água para forçar a passagem do mesmo entre grãos de café tostados de forma eficiente. O primeiro protótipo foi elaborado pelo inventor belga Louis Bernard Rabaut (1796 - 1857) por volta de 1822. A primeira máquina de café expresso foi patenteada pelo empreendedor e inventor italiano Angelo Moriondo (1851 - 1914) em 1884 (Brevetto 33/256: “Nuovi Apparecchi a Vapore per la Confezione Economica ed Istantanea del Caffè in Bevanda”, ou “Novas Máquinas a Vapor para Preparo Econômico e Instantânea de Café”). Sua segunda máquina de café chamava-se “La Brasiliana”.

Vale lembrar que a primeira patente do Reino do Brasil foi concedida à Luiz Louvain e Simão Clothe em 13 de julho de 1822, por meio do naturalista, estadista e poeta luso-brasileiro José Bonifácio de Andrada e Silva (1763 - 1838), representando o Príncipe Regente. Os inventores solicitaram à Real Junta do Commercio um privilégio de dez anos para um particular invento, uma “máquina para descascar café, a qual, além de ser inteiramente própria da invenção dos suplicantes, produz todo o bom resultado (…) pela perfeição com que descasca o café sem lhe quebrar o grão, ou seja, pela brevidade, e economia, e simplicidade do trabalho”. Foi concedido o pedido por cinco anos.

A primeira lei de patentes surgiu em 1830 no Brasil tendo como base um alvará elaborado pelo Príncipe Regente em 1809, que permitiu o direito exclusivo de explorar invenções por 14 anos, embora a primeira patente registrada durante o Império no Brasil seja atribuída a padre e inventor brasileiro Bartholomeu Lourenço (1685 - 1724).

Não à toa, um dos mais importantes quadros brasileiros, “Café”, obra do artista plástico brasileiro Candido Portinari (1903 - 1962), foi premiada na Exposição de Arte Moderna do Instituto Carnegie, em Nova York, idos de 1935.

Assim como nosso planeta, Terra, tem tanto líquido que deveria ser chamado Água, o café, sendo a segunda bebida mais conhecida do mundo, mereceria dar o nome de algum lugar.

Se fosse possível ser refundado, o Brasil, deveria ser chamado de Café. Mas como isso seria muito difícil, é mais fácil ressignificar. Enquanto grão, é vermelho quando maduro, como o sangue, como a brasa, da qual deriva o nome de nosso país.E depois de tostado, torna-se negro. Isto também se adequa as nossas origens africanas. E, acrescente-se, com diversos significados.

Seu nome é café, mas poderia se chamar Brasil.