Educação / Mundo

Um terço dos países no mundo continua sem retomada das aulas

Pesquisa documenta como os países estão monitorando e mitigando as perdas de aprendizagem

Foto: ONU
Crianças em uma escola de educação primária em Harar, na Etiópia

O dado é do estudo global "Enquete sobre as Respostas da Educação Nacional ao Fechamento de Escolas por causa da COVID-19", desenvolvido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Banco Mundial e Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). 

A pesquisa mostra que apenas um terço dos países está tomando medidas para mensurar as perdas de aprendizagem no ensino fundamental – principalmente entre as nações de alta renda. "Medir a perda de aprendizagem é um primeiro passo crítico para mitigar suas consequências. É vital que os países invistam na avaliação da magnitude de tais perdas para implementar as medidas reparadoras apropriadas", disse Silvia Montoya, diretora do Instituto de Estatística da Unesco.

Risco de abandono

Menos de um terço dos países de renda baixa e média relatou que todos os estudantes haviam retornado ao ensino presencial, aumentando o risco de perda de aprendizagem e abandono escolar. No entanto, a maioria dos países relatou o uso de pelo menos uma forma de divulgação para incentivar o retorno dos estudantes à escola, incluindo o envolvimento da comunidade, rastreamento baseado na escola, modificação dos serviços de água, saneamento e higiene, incentivos financeiros e revisão das políticas de acesso.

"A instrução reparadora é vital para ajudar as crianças que perderam a escola a voltar aos trilhos e reduzir as perdas de aprendizagem a longo prazo. Isso requer um esforço urgente para medir os níveis de aprendizagem dos estudantes hoje e coletar dados de boa qualidade para informar as práticas de sala de aula, conforme previsto pelo Pacto de Dados de Aprendizagem do UNICEF, Unesco e Banco Mundial", enfatizou Jaime Saavedra, diretor global de Educação do Banco Mundial.

A pesquisa documenta como os países estão monitorando e mitigando as perdas de aprendizagem, enfrentando o desafio de reabrir escolas e implantar estratégias de ensino a distância. No total, 142 países responderam a pesquisa que cobre o período de fevereiro a maio de 2021 e abrange a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio.

"O ensino remoto tem sido uma tábua de salvação para muitas crianças e muitos adolescentes em todo o mundo durante o fechamento das escolas. Mas, para os mais vulneráveis, até mesmo isso estava fora de alcance. É urgente que todas as crianças e todos os adolescentes voltem para a sala de aula agora. Mas não podemos parar por aí; reabrir melhor significa implementar programas reparadores para ajudar os estudantes a voltar aos trilhos e garantir que priorizemos as meninas e crianças e adolescentes vulneráveis em todos os nossos esforços", disse o chefe global de Educação do UNICEF, Robert Jenkins.

Confira as principais descobertas da pesquisa:

-- Os países responderam com uma variedade de medidas para mitigar potenciais perdas de aprendizagem com o fechamento de escolas: cerca de 40% dos países estenderam o ano acadêmico e uma proporção semelhante de países priorizou certas áreas curriculares. No entanto, mais da metade dos países informou que nenhum ajuste foi ou será feito.

-- Muitos países melhoraram os padrões de saúde e segurança nos centros de exames; ainda assim, 28% dos países cancelaram os exames nos anos finais do ensino fundamental e 18% dos países o fizeram no ensino médio.

-- A revisão e a correção das políticas de acesso não eram comuns, especialmente para as meninas – um motivo de preocupação, pois as adolescentes correm o maior risco de não retornar à escola em países de renda baixa e média baixa.

-- Os países de baixa renda estão atrasados na implementação até mesmo das medidas mais básicas para garantir o retorno à escola. Por exemplo, apenas menos de 10% relataram ter sabão, água limpa, instalações de saneamento e higiene e máscaras suficientes, em comparação com 96% dos países de alta renda.

A pesquisa também lança luz sobre a implantação e eficácia do ensino a distância e apoio relacionado, mais de um ano após o início da pandemia.

Os resultados mostram que:

-- A maioria dos países realizou várias ações para fornecer ensino remoto: as transmissões de rádio e TV foram mais populares entre os países de baixa renda, enquanto os países de alta renda forneceram plataformas de ensino online. No entanto, mais de um terço dos países de renda baixa e média baixa relatou que menos da metade dos estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental foi alcançada.

-- Garantir a aceitação e o engajamento requer estratégias de ensino a distância adequadas ao contexto, envolvimento dos pais, apoio de e para professores e garantia de que as meninas e outras crianças e outros adolescentes vulneráveis não sejam deixados para trás. Também requer a geração de dados rigorosos sobre a eficácia do ensino remoto. Embora 73% dos países tenham avaliado a eficácia de pelo menos uma estratégia de ensino a distância, ainda há necessidade de melhores evidências sobre a eficácia nos contextos mais difíceis.

"Há uma necessidade crítica de produzir mais e melhores evidências sobre a eficácia do ensino remoto, especialmente nos contextos mais difíceis, e de apoiar o desenvolvimento de políticas de ensino digital", disse Andreas Schleicher, diretor de Educação e Habilidades da OCDE.

Em 2020, as escolas em todo o mundo foram totalmente fechadas em todos os quatro níveis de ensino por 79 dias letivos em média, representando cerca de 40% do total de dias letivos em média nos países da OCDE e G20. Os números variaram de 53 dias em países de alta renda a 115 dias em países de renda média baixa.

Mais demanda, menos receita - A demanda por fundos está aumentando, competindo com outros setores, enquanto as receitas dos governos estão caindo. No entanto, 49% dos países aumentaram seu orçamento para educação em 2020 em relação a 2019, enquanto 43% mantiveram seu orçamento constante. O financiamento deve aumentar em 2021, já que mais de 60% dos países planejam aumentar seu orçamento para a educação em relação a 2020.

Essas descobertas reforçam a importância da reabertura de escolas, do ensino reparador e de sistemas de ensino remoto mais eficazes, que podem resistir melhor a crises futuras e atingir todos os estudantes. Além disso, mostra que a medição das perdas de aprendizagem devido à COVID-19 relacionadas ao fechamento de escolas é um esforço crítico para a maioria dos países e parceiros de desenvolvimento, destacado pela recente parceria da Unesco, do UNICEF e do Banco Mundial em torno do Learning Data Compact (Dados de Aprendizagem Compactos).

A pesquisa está alinhada com a Missão: Recuperando a Educação 2021, pela qual o Banco Mundial, a Unesco e o UNICEF estão fazendo parceria para apoiar os países enquanto tomam todas as ações possíveis para planejar, priorizar e garantir que todos os estudantes voltem à escola; que as escolas tomem todas as medidas para reabrir com segurança; que os estudantes recebam aprendizagem reparadora eficaz e serviços abrangentes para ajudar a recuperar as perdas de aprendizagem e melhorar o bem-estar geral; e seus professores e professoras são preparados e apoiados para atender às suas necessidades de aprendizagem.

A pesquisa será lançada durante o segmento ministerial da Reunião Global de Educação em 13 de julho.