Economia

Fala de Bolsonaro sobre Petrobras leva a alta dos juros e do dólar

O presidente disse que o governo pode mudar a política de preços da Petrobras

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
A fala de Bolsonaro levou a queda nos papéis da Petrobras

Após dois dias seguidos de queda, o dólar teve uma quarta-feira volátil. Pela manhã, operou em baixa, em meio a relatos de fluxos para o Brasil e desmonte de posições contra o real, chegando a ser negociado em R$ 5,54.

Nos negócios da tarde, firmou alta e encostou nos R$ 5,66, enquanto a divisa dos Estados Unidos ganhava força no exterior, com o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) otimista com a retomada da economia dos Estados Unidos, mas sem mostrar preocupação com a inflação e com a disparada recente dos juros longos dos Treasuries.

No mercado doméstico, causou ruído nas mesas de operação a declaração do presidente da República, Jair Bolsonaro, de que o governo pode mudar a política de preços da Petrobras.

O real foi a moeda com pior desempenho nesta quarta-feira, considerando a lista de 34 moedas mais líquidas.

No fechamento, o dólar à vista encerrou com valorização de 0,78%, a R$ 5,6434. No futuro, o dólar para maio subia 0,57%, cotado em R$ 5,6305 às 17h40.

A declaração de Bolsonaro, embora sem maiores detalhes sobre o que ele pretende fazer com os preços dos combustíveis, fez o papel da Petrobras passar a cair, os juros futuros baterem máximas e também pressionou o câmbio.

Para o diretor de Tesouraria de um banco, volta o fantasma do populismo e da repetição de estratégia de governos passado, o que é mal visto pelo mercado doméstico e, especialmente, pelos estrangeiros.

O economista-chefe de mercados emergentes da consultoria inglesa Capital Economics, William Jackson, destaca que o conturbado processo de troca de comando da Petrobras já acendeu uma luz amarela no Brasil para os investidores internacionais. Essa cautela ocorre em um momento em que a preocupação fiscal ajuda a embaçar as perspectivas para o crescimento da economia, sobretudo com os recordes diários de mortes da pandemia. O Orçamento de 2021 também segue ainda sem solução.

Em meio à piora da pandemia, a agência de classificação de risco Fitch Ratings alertou no período da tarde que as incertezas sobre os rumos da doença e do processo de vacinação podem piorar as perspectivas para a atividade e a situação fiscal no Brasil, que já é pior que seus pares.

No exterior, a divulgação da ata do Fed era um dos eventos mais esperados da semana. O documento mostrou o BC americano otimista com a atividade econômica, mas avaliando que a inflação pode ter repique, mas de forma temporária.

A sinalização é que não há pressa para elevar os juros e alterar a estratégia de política monetária, comenta a economista para os EUA da Oxford Economics, Kathy Bostjancic, em nota.

Ao mesmo tempo, ela acrescenta que há uma impaciência do mercado, em meio à elevação das taxas de retorno (yield) dos juros longos, movimento para o qual o Fed não sinalizou preocupação. "O Fed será extremamente paciente para elevar os juros", afirma a economista.

Juros sobem

Após dois dias seguidos de queda, o dólar teve uma quarta-feira volátil. Pela manhã, operou em baixa, em meio a relatos de fluxos para o Brasil e desmonte de posições contra o real, chegando a ser negociado em R$ 5,54. Nos negócios da tarde, firmou alta e encostou nos R$ 5,66, enquanto a divisa dos Estados Unidos ganhava força no exterior, com o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) otimista com a retomada da economia dos Estados Unidos, mas sem mostrar preocupação com a inflação e com a disparada recente dos juros longos dos Treasuries. No mercado doméstico, causou ruído nas mesas de operação a declaração do presidente da República, Jair Bolsonaro, de que o governo pode mudar a política de preços da Petrobrás.

O real foi a moeda com pior desempenho nesta quarta-feira, considerando a lista de 34 moedas mais líquidas.

No fechamento, o dólar à vista encerrou com valorização de 0,78%, a R$ 5,6434. No futuro, o dólar para maio subia 0,57%, cotado em R$ 5,6305 às 17h40.

A declaração de Bolsonaro, embora sem maiores detalhes sobre o que ele pretende fazer com os preços dos combustíveis, fez o papel da Petrobras passar a cair, os juros futuros baterem máximas e também pressionou o câmbio.

Para o diretor de Tesouraria de um banco, volta o fantasma do populismo e da repetição de estratégia de governos passado, o que é mal visto pelo mercado doméstico e, especialmente, pelos estrangeiros.

O economista-chefe de mercados emergentes da consultoria inglesa Capital Economics, William Jackson, destaca que o conturbado processo de troca de comando da Petrobras já acendeu uma luz amarela no Brasil para os investidores internacionais. Essa cautela ocorre em um momento em que a preocupação fiscal ajuda a embaçar as perspectivas para o crescimento da economia, sobretudo com os recordes diários de mortes da pandemia. O Orçamento de 2021 também segue ainda sem solução.

Em meio à piora da pandemia, a agência de classificação de risco Fitch Ratings alertou no período da tarde que as incertezas sobre os rumos da doença e do processo de vacinação podem piorar as perspectivas para a atividade e a situação fiscal no Brasil, que já é pior que seus pares.

No exterior, a divulgação da ata do Fed era um dos eventos mais esperados da semana. O documento mostrou o BC americano otimista com a atividade econômica, mas avaliando que a inflação pode ter repique, mas de forma temporária.

A sinalização é que não há pressa para elevar os juros e alterar a estratégia de política monetária, comenta a economista para os EUA da Oxford Economics, Kathy Bostjancic, em nota.

Ao mesmo tempo, ela acrescenta que há uma impaciência do mercado, em meio à elevação das taxas de retorno (yield) dos juros longos, movimento para o qual o Fed não sinalizou preocupação. "O Fed será extremamente paciente para elevar os juros", afirma a economista.

Bolsa de valores

Com Vale ON negociada na máxima a R$ 105,32, e desempenho também positivo para siderurgia, o Ibovespa foi nesta quarta-feira aos 118.303,28 pontos (+0,68%) no melhor momento da tarde, maior nível intradia desde 22 de fevereiro, mas acabou cedendo a nova ameaça de intervenção do presidente Jair Bolsonaro na política de preços da Petrobras, uma reiteração que segurou as ações da estatal no complemento da sessão.

Para piorar, o dólar ganhou dinamismo com a ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), elevando a moeda à vista a R$ 5,6549 na máxima da sessão, com a avaliação da autoridade monetária sobre a economia americana fortalecendo a referência ante pares como euro e libra.

Embora abaixo da resistência dos 118 mil, o índice da B3 conseguiu se manter além dos 117 mil pontos pelo terceiro fechamento consecutivo e embora tenha parecido a caminho, pelo segundo dia, de fechamento bem perto do zero a zero, encontrou ao fim leve alta de 0,11%, a 117.623,58 pontos, com mínima a 116 747,95 e abertura a 117.498,87 pontos. O giro ficou em R$ 31,8 bilhões. Na semana, o Ibovespa avança 2,06%, com ganho de 0,85% neste começo de mês, limitando as perdas do ano a 1,17%.

"Prevalecia cautela até a ata do Fomc, com o intuito de avaliar se haveria indicação de movimento de normalização (da política monetária) mais cedo do que o Fed havia anunciado, embora a expectativa fosse de que o documento reiteraria posição cautelosa da autoridade monetária, em cenário de inflação ainda baixa. O que poderia pesar contra isso é a aceleração da retomada econômica, com o avanço da vacinação nos Estados Unidos e o forte nível de estímulos fiscais e monetários, que tem alimentado as expectativas de inflação", observa a economista Paloma Brum, da Toro Investimentos.

Embora, na ata, os dirigentes do Federal Reserve tenham reconhecido a melhora da perspectiva econômica, reiteraram o compromisso com a manutenção de estímulos à atividade, ainda mostrando pouca preocupação com a progressão de preços no país. No documento, os dirigentes do Fed disseram esperar queda nas leituras anualizadas de inflação, após alta transitória, e atribuíram o avanço dos juros dos Treasuries à "melhora de expectativas", bem como à emissão de títulos. Ainda assim, a avaliação sobre a economia americana não passou despercebida, resultando em apreciação do dólar, aqui e fora.

"O Ibovespa encerrou mais uma vez no zero a zero, com volume muito abaixo da média, reflexo de 'dois mundos' na bolsa brasileira: do lado positivo, as empresas de commodities e exportadoras, em mais um dia de alta do minério de ferro e com dados econômicos acima do esperado nas economias desenvolvidas; do lado negativo, economia com fracos resultados aqui, na passagem de fevereiro para março, contrariando o ritmo pelo mundo, além do imbróglio sobre o Orçamento de 2021 e o aumento do risco fiscal, traduzido em mais um dia de inclinação da curva de juros", observa Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.

Para Rodolfo Carneiro, sócio e assessor da Valor Investimentos, a ata do Fed trouxe "pensamento um pouco mais 'hawkish'", o que resultou em algum "sofrimento" para o câmbio aqui. "A declaração do Bolsonaro sobre a política de preços da Petrobras também pesou, ligeiramente. Mas o pior ponto do dia foi, de fato, essa ata do Fed, com alguma mudança em relação ao comunicado inicial, o que resultou em acréscimo de preço no dólar", acrescenta.

No período da tarde, ao dizer que "podemos mudar essa política de preços na Petrobras", o presidente Bolsonaro contribuiu para reduzir o fôlego do índice da B3, revertendo o ganho da ação PN (-0,08%) e reduzindo o da ON a 0,46% no fechamento, após ambas terem girado em torno de 1% de alta antes das declarações. Destaque nesta quarta-feira para ganho de 2,46% em Vale ON, em dia também positivo para as ações de siderurgia (Gerdau PN +1,89%, CSN +1,84%).

Na ponta do Ibovespa, Braskem fechou em alta de 5,95%, à frente de Minerva (+4,22%) e de Hapvida (+3,89%). Na face oposta, Hering cedeu 3,34%, Rumo, 3,25%, e B2W, 2,96%. O setor de bancos, o de maior peso no Ibovespa, teve desempenho majoritariamente negativo, com perdas moderadas na sessão, até 1,09% (Bradesco PN) - a exceção foi Santander, praticamente estável no fechamento (+0,03%).

Nos Estados Unidos

As bolsas de Nova York fecharam sem sinal único nesta quarta-feira, 7, e perto da estabilidade, em sessão marcada pela volatilidade. Publicação mais aguardada do dia, a ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deu algum impulso aos índices, e o S&P 500 terminou com fechamento recorde. Algumas ações de tecnologia tiveram alta, mas o recuo da Tesla acabou por pressionar o Nasdaq.

O índice Dow Jones avançou 0,05%, aos 33.446,26 pontos, o S&P 500 encerrou com ganho de 0,15%, aos 4.079,75 pontos, e o Nasdaq teve baixa de 0,07%, aos 13.688,84 pontos.

A desaceleração inicial dos juros dos Treasuries, com o retorno da T-note de 10 anos chegando a recuar, ocorreu ao mesmo tempo em que os índices tinham impulso no começo da sessão. Após a ata do Fed, contudo, os rendimentos de longo prazo passaram a subir. As petroleiras também imprimiram volatilidade à sessão, seguindo movimentos do barril. No fim, Chevron (+0,59%) e ExxonMobil (+0,43%) avançaram.

Durante a sessão, as techs apareceram em destaque, o que se seguiu no fechamento, com Facebook em alta de 2,23%, acompanhado por Apple (+1,24%) e Amazon (+1,72%). Já a Tesla recuou 2,99%, pressionando o Nasdaq, em sessão marcada pela preocupação na China sobre o uso não autorizado de câmeras nos dispositivos da empresa, algo que a companhia alegou não ocorrer.

As bolsas ganharam fôlego, embora curto, após a publicação da ata da mais recente reunião de política monetária do Fed. Entre outros aspectos, o documento trouxe que, na visão dos dirigentes, os dados econômicos dos EUA voltaram a subir, após alguma desaceleração na recuperação.

Segundo a Oxford Economics, a ata reforçou a "paciência" da entidade monetária e sua disposição em manter as condições financeiras acomodatícias até que o emprego nos EUA se recupere plenamente, contradizendo movimentos do mercado, que espera por pressão inflacionária no país.

Uma das principais altas do dia foi do JPMorgan, que subiu 1,57%, em um dia de noticiário agitado para a empresa. Além de anunciar que irá tirar suas operações na Europa, em Londres, e distribui-las a outros centros financeiros da região, o banco afirmou que não passará a ter trabalho remoto após a pandemia. Além disso, em carta anual, o CEO da empresa, Jamie Dimon, indicou ver um bom momento para a economia dos EUA que pode durar até 2023.