É o que mostra o Ranking do Saneamento, divulgado pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a GO Associados, que mapeou as 100 maiores cidades do País, com dados do SNIS-Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) de 2019. A publicação anual avalia os indicadores de acesso à água potável, coleta e tratamento dos esgotos.
Santos (SP) manteve a 1ª posição, obtida já no Ranking 2020, seguido de Maringá (PR), Uberlândia (MG), Franca (SP), Limeira (SP) e Cascavel (PR).
Entre as piores cidades, pela primeira vez, Macapá (AP) obteve a pior nota, seguida de outros municípios que sempre ficam entre os últimos, tais como Porto Velho (RO), Ananindeua (PA), São João de Meriti (RJ), Belém (PA) e Santarém (PA).
Entre as capitais, pela primeira vez São Paulo-SP aparece como a mais bem colocada (8ª), seguida de Palmas-TO (13ª), Curitiba-PR (16ª), Goiânia-GO (18ª) e Brasília-DF (20ª). Salvador piorou 19 posições e está em 63º lugar, a capital com a maior queda entre as 100 maiores cidades.
Gesner Oliveira, sócio da GO Associados, mostra preocupação ao ver capitais nas últimas posições. “Ver cidades desse porte com indicadores baixos em saneamento é ruim, mas quando temos capitais, como Macapá, Porto Velho, Belém e Rio Branco nas últimas posições, o cenário é muito pior, pois são referências em seus estados.”
O novo ranking confirma que o país mantém sem serviços de água tratada quase 35 milhões de habitantes, sendo 5,5 milhões nas 100 maiores cidades (população da Noruega).
Temos aproximadamente 100 milhões de pessoas sem acesso à coleta de esgotos, sendo 21,7 milhões nesses maiores municípios (população do Chile).
O Brasil ainda não trata metade dos esgotos que gera (49%), o que representa jogar na natureza, todos os dias, 5,3 mil piscinas olímpicas de esgotos sem tratamento. Nas 100 maiores cidades, em 2019, descartou-se um volume correspondente a 1,8 mil piscinas olímpicas diárias.
Esses grandes municípios possuem indicadores melhores do que a média nacional e, em 2019, investiram, juntos, 50% de tudo o que país colocou na infraestrutura de água e esgoto.
Fazendo uma comparação dos indicadores, entre 2012 e 2019, a população com acesso à rede de água no país evoluiu timidamente (de 82,7% com acesso para 83,7%), assim como nas 100 maiores cidades (de 93,45% com acesso para 93,51%).
Em 7 anos de comparação, o país saiu de 48,3% da população com rede de esgoto (2012) para 54,1% em 2019, enquanto nos 100 maiores municípios foi de 69,39% para 74,47%.
O país tratava, em 2012, 38,7% do esgoto gerado e foi para 49,1% em 2019, enquanto nos maiores municípios o índice passou de 48,8% para 62,17%.
Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil, chama atenção para o abismo que cada vez mais separa as cidades nas primeiras e nas últimas posições do ranking. “Vimos com preocupação que os municípios mais bem colocados se mantém entre os que mais investem, enquanto as cidades que mais precisam evoluir persistem com baixos investimentos em água e esgotos. Se nada mudar, ampliaremos a noção de termos dois “Brasis”: o dos com e o dos sem saneamento.”
Em 89 cidades, mais de 80% da população possui atendimento de água potável, o que significa que 11 grandes municípios ainda possuem grandes desafios em entregar água a mais pessoas. Na média dos 100 maiores municípios, 93,51% da população tem acesso à água, 10 pontos percentuais a mais que a média nacional.
Um pouco mais da metade das cidades estudadas apresentaram indicadores superiores a 80% da população com coleta de esgotos, contudo, 35 grandes cidades apresentaram indicadores inferiores a 60%, sendo que oito deles atendem a menos de 20% com o serviço. O indicador médio de população com coleta de esgotos nesses municípios foi de 74,47%, ou seja, 20 pontos percentuais superior à média nacional.
Somente 23 cidades tratam mais de 80% do esgoto gerado, ratificando que esse é o indicador mais desafiador até mesmo para os grandes municípios. Juntos, os 100 maiores municípios do país tratam 62,17% de esgoto gerado, ou seja, 12 pontos percentuais a mais do que a média nacional.15 grandes municípios não tratam nem 20% do volume de esgoto gerado.
70% dos municípios investem menos de 30% do valor arrecadado em saneamento. Seis municípios investem mais de 60% de sua arrecadação nos serviços.
Enquanto o Brasil perde 39% da água potável produzida (para cada 100 litros de água produzida no país, 39 não chegam formalmente a nenhuma moradia), o indicador para as 100 maiores cidades está 4 pontos percentuais abaixo, ou seja, 35,66%. 79 dos 100 municípios perdem acima de 30% da água, com destaque para 7 deles com índices acima de 60%. Estas perdas são, na maioria das vezes, devido a vazamentos, furtos, roubos ou erros de medição.
Pela primeira vez no Ranking do Saneamento, o Índice de Perdas Volumétricas passa a ser considerado e ele avalia a quantidade de litros de água perdidas por dia por ligação. Não necessariamente esse indicador tem ligação com o Índice de Perdas na Distribuição porque o cálculo incorpora o volume de perdas ao número de ramais de ligações de água dos usuários.
Em áreas urbanas, que possuem densidade de ramais, esse indicador pode traduzir melhor a quantidade de água perdida, uma vez que os vazamentos de água ocorrem, de 80% a 90%, nos ramais, conforme aponta a IWA – International Water Association.
Ainda de acordo com instituições internacionais, o patamar adequado é perdas de até 250 litros por ligação-dia, no entanto, a média das 100 cidades foi de 454,75 litros. 23 cidades alcançaram o patamar adequado, enquanto 16 passaram da perda de 750 litros por ligação dia.