A vitamina D, também conhecida como “vitamina do sol”, é fundamental para auxiliar na absorção de cálcio pelo organismo, porém não é de hoje que diversos estudos científicos vem demonstrando sua ação positiva sobre o sistema imunológico das pessoas, principalmente contra infecções do trato respiratório, como pneumonia, tuberculose e influenza (gripe).
A partir deste histórico, pesquisadores de diversos países passaram a investigar a ação da vitamina D no combate às infecções causadas pelo novo coronavírus, incluindo especialistas no Brasil, para entender a atuação na prevenção ou no tratamento da Covid-19.
O medico e geriatra Alberto Frisoli Jr
Um estudo conduzido no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), pelo geriatra e professor da Unifesp, Alberto Frisoli Jr, em São Paulo, vem investigando a relação entre os níveis séricos de vitamina D e o Covid 19 em 200 pacientes hospitalizados, com 60 anos ou mais.
Níveis séricos de vitamina D são resultados mostrados em exames de sangue. Após a dosagem ter sido realizada, especialistas utilizam esses resultados para avaliação dos próximos passos do tratamento do paciente.
O especialista lidera um estudo brasileiro, no HIAE, que tem como foco a síndrome da fragilidade e o quanto os níveis de vitamina D interferem no período de hospitalização, complicações intra-hospitalares, internação em unidades de terapia intensiva e mortalidade em idosos com infecção aguda de SARS-Cov 2.
Os níveis de vitamina D interferem no período de hospitalização, complicações intra-hospitalares, internação em unidades de terapia intensiva e mortalidade em idosos com infecção pelo coronavírus.
"Estudos europeus têm sido controversos, mas têm observado que pessoas com hipovitaminose (falta de vitamina no organismo) D apresentam maior risco para períodos maiores de internação hospitalar, intubação orotraqueal ( inserção de um tubo da boca até a traquéia do paciente) e mortalidade. Entretanto, outros fatores, entre eles a fragilidade, podem interferir significativamente sobre esses eventos, o que dificulta uma conclusão sobre o assunto. Baseado nisso, o estudo realizado no Albert Einstein avaliou o quanto a hipovitaminose D e a fragilidade estão associadas ao maior tempo de internação no hospital, na UTI, necessidade de intubação orotraqueal e mortalidade".
A intenção do estudo é entender se a deficiência deste nutriente potencializa a ação da fragilidade ou atua de forma independente, sobre as chances do idoso com Covid-19 apresentar evolução clínica grave.
Segundo o médico, os participantes do estudo do HIAE apresentaram baixa prevalência de deficiência da vitamina D, sendo que cerca de 50% já utilizavam alguma forma de suplemento da vitamina.
"Foi observado que níveis mais baixos de vitamina D no sangue foi associado a maior tempo de internação, maior risco de ir para UTI e maior chance de desenvolver insuficiência renal aguda, fator determinante para levar o paciente a sessões de hemodiálise, por exemplo. A maioria dos pacientes que morreram tinham na entrada baixos índices de vitamina D. Estudos têm demonstrado que a suplementação de vitamina D de longo prazo e de forma adequada parece auxiliar na prevenção de infecções respiratórias agudas de algumas populações”, afirma o geriatra .
De acordo com o médico, com relação à atuação na Covid-19, embora possa ter sintomas semelhantes, os mecanismos da doença ainda não são completamente conhecidos, "daí o interesse científico em buscar as respostas sobre o papel dessa vitamina na pandemia”. acrescenta.
O especialista ressalta que a vitamina D por si só, não combate a infecção, mas o fato de ter níveis destas vitaminas normais ou maiores, parece diminuir o risco de ter infeção por Sars CoV 2.
"Essa ação está relacionada a capacidade que a vitamina D tem sobre a ativação do sistema imunológico regulando a resposta inflamatória, otimizando ação dos macrófagos (célula de defesa do organismo que atua no sistema imunológico) e através da ação sobre as vias de entrada do vírus na árvore respiratória", complementa
Infecções respiratórias agudas e Síndrome da Fragilidade
Segundo o especialista, infecções respiratórias agudas são todo e qualquer quadro clínico que você desenvolve de uma forma súbita, decorrente da contaminação por um agente microbiano. Essas manifestações podem ser dor de garganta, congestão nasal, mal-estar, tosse, coriza, entre outros. As gripes, resfriados e pneumonias agudas são exemplos de quadros de infecções respiratórias agudas.
Neste caso, a Vitamina D também diminui o risco de se desenvolver este tipo de infecção, pois agirá no fortalecimento do sitema imunológico. "É importante frisar que o uso da vitamina D tem de ser visto como fator preventivo"..
Já a síndrome da fragilidade é conjunto de manifestações física e metabólicas caracterizadas pelo prejuízo da capacidade que o organismo tem em responder a todo e qualquer estresse gerado por agentes externos. Ela decorre do envelhecimento.
"Por exemplo, um idoso frágil, ao desenvolver uma pneumonia, terá grande chance de não retornar o mesmo nível físico, emocional e funcional que apresentava antes. Essa síndrome pode levar o indivíduo a ficar mais propício a quedas, ter mais infecções, hospitalizações e até a morrer.
O resumo das pesquisas
Dupla função - Segundo artigo publicado pela centenária revista científica britânica The Lancet1, o papel da vitamina D na resposta à infecção por Covid-19 pode ser duplo: apoiar a primeira defesa do organismo ao vírus, que inclui por exemplo, a produção de peptídeos (biomoléculas formadas por dois ou mais aminoácidos) antimicrobianos no epitélio (tecido) das vias respiratórias, ou seja, protegendo o organismo da invasão do vírus causador de Covid-19 e, no segundo momento, promovendo a redução da resposta inflamatória à infecção.
Maior risco de infecção na deficiência - Estudo desenvolvido por pesquisadores do Departamento de Medicina da Universidade de Chicago2 analisou 489 pacientes que fizeram teste molecular (PCR) para Covid-19, e apontou que aqueles com deficiência de vitamina D poderiam ter uma chance 77% maior de infecção pela Covid-19 do que os pacientes com quantidade suficiente da mesma vitamina. Os resultados foram publicados na revista médica Journal of the American Medical Association (JAMA).