Menos de um dia após o rover Perseverance da Nasa pousar com sucesso na superfície de Marte, engenheiros e cientistas do Laboratório de Propulsão a Jato da agência no sul da Califórnia começaram a trabalhar, esperando as próximas transmissões do Perseverance.
Conforme os dados chegavam gradualmente, transmitidos por várias espaçonaves orbitando o Planeta Vermelho, a equipe do Perseverance ficou aliviada ao ver os relatórios mostrando que tudo parecia estar funcionando conforme o esperado.
Enquanto o rover Curiosity da Nasa enviava um filme stop-motion de sua descida, as câmeras do Perseverance são destinadas a capturar o vídeo de seu toque e esta nova imagem foi tirada dessa filmagem, que ainda está sendo retransmitida para a Terra e processada.
Ao contrário dos rovers anteriores, a maioria das câmeras do Perseverance captura imagens em cores. Após o pouso, duas das câmeras de perigo (Hazcams) capturaram imagens da frente e de trás do veículo espacial, mostrando uma de suas rodas na terra marciana.
Espera-se que várias cargas pirotécnicas sejam disparadas mais tarde nesta sexta-feira (19 de fevereiro), liberando o mastro do Perseverance (a "cabeça" do rover) de onde ele está fixado no convés.
As câmeras de navegação (Navcams), usadas para dirigir, dividem espaço no mastro com duas câmeras científicas: a Mastcam-Z com zoom e um instrumento a laser chamado SuperCam.
O mastro está programado para ser levantado no sábado, 20 de fevereiro, após o que os Navcams devem tirar panoramas do convés do rover e seus arredores.
Nos próximos dias, os engenheiros se debruçarão sobre os dados do sistema do rover, atualizando seu software e começando a testar seus vários instrumentos.
Nas semanas seguintes, o Perseverance testará seu braço robótico e fará sua primeira e curta viagem.
Levará pelo menos um ou dois meses até que o Perseverance encontre um local plano para deixar o Ingenuity, o mini-helicóptero preso à barriga do rover, e ainda mais antes que ele finalmente pegue a estrada, iniciando sua missão científica e buscando sua primeira amostra de rocha e sedimentos marcianos.
Em uma conferência de imprensa comemorativa nesta sexta-feira, a Nasa compartilhou novas imagens, incluindo as primeiras coloridas transmitidas diretamente de Marte.
A imagem mostra o Perseverance momentos antes de tocar o solo de Marte - Foto: Nasa
A missão da Nasa é a de procurar por sinais antigos de vida. As amostras coletadas pelo rover serão devolvidas à Terra em uma missão futura.
O rover possui uma broca capaz de perfurar o solo marciano para recolher amostras e deixá-las na superfície de Marte. Uma missão futura poderia recolher essas amostras e trazer de volta para a Terra para serem estudadas.
Perseverance - carinhosamente conhecido como Percy - pesa mais de uma tonelada e pousou quase no meio da zona de aterrissagem, dentro da cratera Jezero, 45 quilômeros, ao norte do equador do planeta. O local foi escolhido por sua promessa de preservação de sinais de vida: já foi o lar de um antigo lago e delta de rio que pode ter coletado e soterrado micróbios, trancado-s dentro das rochas.
Missões anteriores a Marte, incluindo Curiosity e Opportunity, sugeriram que Marte já foi um planeta úmido, com um ambiente que provavelmente deu suporte à vida há bilhões de anos. Os astrobiólogos esperam que esta última missão possa oferecer algumas evidências para provar se esse foi o caso.
Números do Perseverance
Massa: 1.050 kg
Altura: 2,2 metros
Largura: 2,7 metros
Comprimento: 3 metros
O Planeta Vermelho
Marte é conhecido desde a antiguidade, e destaca-se no céu pelo seu aspecto avermelhado; devido a isso é conhecido como o "O Planeta Vermelho".
Os babilônios já faziam observações cuidadosas do que eles chamavam de Nergal (A Estrela da Morte), mas tudo o que viam tinha propósitos exclusivamente religiosos. Os gregos foram os primeiros a fazer observações mais racionais e identificaram Marte como sendo uma das cinco estrelas errantes (planetas) do céu.
O astrónomo grego Hiparco (160 - 125 a.C.) verificou que Marte nem sempre se movia de oeste para leste. Ocasionalmente, o planeta invertia o seu caminho no céu para a direcção contrária; para depois voltar a deslocar-se normalmente; esta característica tornava a procura do planeta muito difícil e era contrária à teoria vigente de que a Terra (Gaia) era o centro do universo.
As observações do movimento aparente de Marte feitas por Tycho Brahe (1546 - 1601) permitiram a seu discípulo Johannes Kepler descobrir as leis dos movimentos dos planetas, que deram suporte à teoria heliocêntrica de Copérnico.
Em 1655, Christiaan Huygens fez experimentações com novos óculos e nesse mesmo ano construiu um bom telescópio com uma ampliação de 50x. Em 1659, quando Marte se encontrava em oposição, Huygens decidiu ver Marte com o seu telescópio e distinguiu manchas no disco do planeta e no seu esboço fez uma marca em forma de V, o que é hoje identificado como Syrtis Major. Huygens notou que a marca se movia, e assim calculou a rotação do planeta, anotando no seu diário:
O ano de 1877 foi um ano-chave para os estudos do planeta, já que Marte se encontrava numa oposição muito mais próxima da Terra. Assim, o astrónomo norte-americano Asaph Hall descobriu os satélites naturais de Marte: Fobos e Deimos; e o italiano Giovanni Schiaparelli dedicou-se a cartografar cuidadosamente o planeta; com efeito, ainda hoje se usa a nomenclatura criada por ele para os nomes das regiões marcianas: Syrtis Major, Noachis Terra, Solis Lacus, entre outros nomes. Já a nomenclatura das observações de Marte na Madeira em Agosto e Setembro de 1877 por Nathaniel Green não prevaleceram. Essa nomenclatura tinha nomes mais antigos e honrava personalidades da astronomia.
Schiaparelli também acreditou que observava umas linhas finas em Marte, a que batizou de canali (canais). Em inglês a palavra foi traduzida como canals em vez de channels, que implicava algo de artificial, o que despertou a mente do aristocrata norte-americano Percival Lowell que se dedicou a especular sobre vida inteligente em Marte. Lowell estava tão entusiasmado que montou o seu próprio observatório. As suas observações convenceram-no que Marte era um planeta que estava a secar, e que existia uma antiga civilização marciana que construiu esses canais para drenar as calotas polares e enviar água para as cidades sedentas.
Essa ideia de uma civilização marciana passou para a imaginação popular. H.G. Wells escreveu A Guerra dos Mundos em 1898 em que a Terra seria invadida por marcianos que usavam armas poderosas. Em 1938, Orson Welles fez uma adaptação do conto para a rádio, o que causou o pânico generalizado e que levou algumas pessoas a fugir e outras a afirmar que sentiam o cheiro do gás venenoso lançado pelos marcianos ou que viam luzes ao longe, da luta dos marcianos para se apoderarem da Terra.
Mais tarde, provou-se que a grande maioria dos canais eram apenas uma ilusão de ótica. Na década de 1950, já quase ninguém acreditava em vida inteligente em Marte, mas muitos estavam convencidos da existência de musgos e líquenes primitivos.