Está ocorrendo, no mercado de eletrônicos, uma escassez de componentes que impede a produção de itens que vão de lâmpadas (elas levam placas eletrônicas dentro delas) a respiradores; de computadores a peças para automóveis.
E os preços dos eletroeletrônicos já apresentam alta para o consumidor final. “Componentes que comprávamos a 1 dólar chegam a custar 2,50 e já tem fábrica parada por desabastecimento. Estamos recebendo comunicados de indústrias de componentes, de todo o mundo, nos informando sobre novos prazos de entrega e reajustes de preços em todos os tipos de componentes - e, inclusive, repassamos esses comunicados, na íntegra, aos nossos clientes”, comenta Ricardo Helmlinger, CMO da Standard America, indústria de placas eletrônicas.
Segundo ele, suas entregas, que eram previstas para 60 dias, agora são combinadas com o cliente para prazos de até 90 dias – e o mercado todo está respondendo da mesma forma.
O começo da cadeia de produção de semicondutores, ou chips eletrônicos, está na mão de grandes (e poucas) indústrias asiáticas: as foundries. Elas são as enriquecedoras de silício, produtoras dos wafers, como chamamos os discos de silício semia-acabados que dão origem a todo tipo de chip.
Os Estados Unidos anunciaram que instalarão uma fábrica de alta tecnologia e produtividade no Arizona, em breve, a primeira deste nível em todo o território estadunidense. A tecnologia que lá será produzida terá wafers de 5nm.
No Rio Grande do Sul, o Ceitec produz wafers (uma peça importante para a construção de dispositivos semicondutores, assim como circuitos integrados) com tecnologia de 350nm, enquanto a nova fábrica estadunidense produzirá com tecnologia de 5nm (quanto menor este número mais moderna e eficiente será a fábrica). Já há, em Taiwan, a previsão de produzir com 3nm.
A segunda etapa traz as empresas de encapsulamento dos componentes. Nesta etapa, a quantidade de empresas é muito maior. Aqui, companhias que têm marcas reconhecidas e de maior valor, em muitos casos realizam internamente o serviço, sem terceirização.
A terceira e última a etapa é a do teste final (Back End), que assegura o alto índice de qualidade. A etapa final, de teste e qualidade, também é realizada por poucas empresas – então, temos um gargalo no começo e no final da cadeia de produção.
Por que faltam componentes eletrônicos?
No passado, a cada cinco anos, eram geradas situações de alta demanda para o setor, comandadas pelos lançamentos da Apple e respondidas pela Samsung. Ipods, Ipads, Iphones e outras inovações tecnológicas aquecem o mercado, que tem alta demanda e estas fábricas precisam responder com rapidez – o que nem sempre acontece.
Atualmente, esse ciclo de tecnologia está mais rápido. A nova onda era esperada para o período compreendido entre 2023 e 2024, puxada pelos carros automatizados, drones e outras tecnologias aeroespaciais e de mobilidade.
Porém, a pandemia chegou. Com ela, aconteceu uma desaceleração da produção, na contramão de tudo que vimos até hoje. Plantas foram enxugadas com a redução de demanda na pandemia e equipes demitidas, nos primeiros meses. Mas o quadro foi revertido rapidamente e a demanda voltou a existir – sem que a capacidade produtiva desse conta dela. E a escassez, é claro, faz o preço subir...
O que está faltando, no momento? Componentes fundamentais para todos os tipos de placas eletrônicas, como capacitores e resistores, por exemplo, que não são os mais caros, mas que são usados aos milhões. Isso impacta na produção pelo volume utilizado – sem esses componentes, não é possível deslanchar a produção. Mas não apenas eles, que foram os primeiros, e sim de forma ampla e generalizada, os semicondutores estão sofrendo aumentos que vão de meros 5% até 250%, em itens específicos.
Prazos de entrega de componentes, que antes eram de quatro semanas, passaram para 26 e até 30 semanas, em alguns casos. Fábricas estão trabalhando com 100% de sua capacidade e não dão conta de entregar toda a demanda, exemplo de uma gigante sul-coreana bastante conhecida.
O mercado deu sinais de carência de produtos a partir de outubro. Quem se antecipou conseguiu comprar com prazo de entrega menor do que o atual. “Os preços da matéria-prima, agora, estão em média de 20% a 50% mais caros, o que se refletirá nos preços finais – vale lembrar que tudo é dolarizado – e os prazos da indústria se estenderam de 60 para 75 a 90 dias. Nós conseguimos comprar antes da demanda e até repassamos o estoque a vários clientes, mas as novas compras já sofrerão com o aumento”, disse Helmlinger.
Segundo ele, o mercado se adaptará à nova demanda e recuperará o equilíbrio. “Esse processo costuma levar seis meses e pode ser que até os preços fiquem mais estáveis a partir desse período, quando a demanda reprimida estiver suprida”.