Chico Ribeiro Neto

Como pedir para namorar (e o que fazer quando a coisa toda desanda)

"Jovem, recue um pouco que eu preciso lhe falar a sós"

sapo
Imagem: pxhere/Creative Commons

Uma amiga me contou que, adolescente, uma noite estava dando uma volta na praça de uma cidade do interior, junto com umas quatro amigas, quando um rapaz se aproximou e disse pra ela: “Jovem, recue um pouco que eu preciso lhe falar a sós”.

Era assim. A gente tinha que falar pra namorar. “Podemos começar uma amizade mais íntima?” Na minha adolescência uma boa cantada era chamar para ir ao cinema. Se ela topasse, assim que a luz apagava acontecia o primeiro beijo, selando o início do namoro, e a gente já saía de mãos dadas.

Uma vez, marquei com uma paquera na porta do Cine Guarani (atual Glauber Rocha) no dia seguinte, às 13h30, para a sessão das 14 horas. Comentei com um amigo, que logo me disse: “Rapaz, ela deve ir com a irmã e você vai ter que pagar três ingressos. Vá mais cedo e fique logo do lado de dentro do cinema”. Cheguei às 13 horas, comprei ingresso e entrei rapidinho. Daqui a pouco, ói ela com a irmã: “Você já entrou?” “Já, espero vocês aqui”. Tiveram que pagar o próprio ingresso e no meu bolso ainda ficou uma graninha para drops e chicletes.

Quando eu tinha uns 13 anos era doido pra namorar com uma menina da minha rua, a Gabriel Soares, em Salvador. Ela, que sabia da minha paixão avassaladora e era doida pra namorar com um estudante de medicina que a chamava de pirralha, passava perto de mim cantando: “Quem eu quero não me quer/Quem me quer é muito pequeno”. Lembra o poema “Quadrilha”, de Carlos Drummond de Andrade: “João amava Teresa que amava Raimundo/que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili/que não amava ninguém (...)”

A maioria das garotas, mesmo querendo, dizia “vou pensar”. Difícil uma responder logo a uma proposta de namoro, mas doía muito ter de ouvir: “Gosto muito de você como amigo, mas pra namorar não dá, viu?”

Pior do que começar era a luta para terminar

Outro dia vi a notícia de que na Alemanha um sujeito ganha dinheiro atuando como intermediário para acabar relacionamentos. O cara sem coragem de se separar da mulher contrata ele. Há vários preços: pela Internet é mais barato e pessoalmente é o mais caro, com flores ou sem flores. Se eu fosse ele, nesses casos eu iria de capacete.

Lembro que na década de 70 tinha um vendedor de literatura de cordel no passeio do Mercado das 7 Portas com folhetos que eram modelos de cartas para iniciar um amor, terminar um amor, reatar um amor ou pedir a mão da moça. Era só o cara copiar com uma letra bem caprichada.

Falar pra casar foi o que fez meu pai Waldemar na carta que escreveu para meu avô, Chico Ribeiro, em 1941. Rio Novo era o nome antigo de Ipiaú, onde nasci. Segue a carta, cuja grafia original foi mantida:

“Rio Novo, 31 de outubro de 1941

Ilmo. Snr. Francisco Ribeiro

Almejo-lhe uma bôa saúde e muitas felicidades para o seu lar.

A finalidade da presente, é firmar officialmente as minhas intenções para com a sua dilecta filha Cleonice pedindo a V. S. a mão da mesma, para dentro em breve, ser a minha esposa.

O destino traçou assim esta futura união e não posso dissuadir d’este propósito, visto que, a sua filha preenche todos os requisitos dignos de um abençoado enlace.

Terminando, peço recomendar-me á sua Exmª família e espero breve resposta.

Sem mais, firmo-me como amigo,

Waldemar Brandi”

O original