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Estudantes brasileiros entram clandestinamente no Paraguai

A informação foi dada pela embaixada do Brasil naquele país

A Univalle, na Bolívia, que além do Paraguai e Argentina atrai os estudantes brasileiros

O embaixador Flávio Damico afirmou ter tomado conhecimento de que "estudantes brasileiros matriculados em universidades de Pedro Juan Caballero, na expectativa de que as aulas sejam retomadas, têm ingressado de forma clandestina no território paraguaio".

Universidades de medicina da Bolívia, Paraguai e Argentina atraem os estudantes brasileiros, por serem mais baratas e menos concorridas (às vezes até sem vestibular), mas se deparam com falta de equipamentos básicos para formação e até maus-tratos.

A Univalle, considerada a mais cara em Cochabamba, cidade no centro da Bolívia, cobra uma mensalidade em torno de US$ 300 (cerca de R$ 1.900). No Brasil, A mensalidade pode variar de R$ 4.800 a R$ 12.500.

No segundo semestre de 2018, o Ministério da Educação (MEC) procurou os consulados do Brasil nos 3 países para saber como estavam os cursos e quais eram as principais dificuldades enfrentadas por eles. 

Em uma série de telegramas diplomáticos, os consulados relatam problemas graves, como falta de professores, falta de domínio do espanhol pelos alunos – com alta evasão por este motivo – e até falta de moradia, que faz com que alunos precisem atravessar com frequência regiões dominadas por narcotraficantes.

O Consulado de Cobija, na Bolívia, por exemplo, afirmou o seguinte: “infraestrutura organizacional, administrativa e acadêmica deficientes e o consequente nível de aprendizado e práticas estagiárias insuficientes; orientação psicológica de difícil alcance; aproveitamento insatisfatório do curso por domínio parcial ou deficiente do espanhol, situação econômica precária, que leva muitos a buscar trabalho paralelo informal, com prejuízo para os estudos; pouca convivência com a sociedade local; inexistência de assistência médico-hospitalar gratuita; desvirtuamento do projeto estudantil inicial e desistência do curso.”

Em Puerto Quijarro, houve relatos de problemas com a regularização migratória e documentos escolares. Em Santa Cruz de la Sierra, foram registradas “condições precárias de infraestrutura nas universidades, tais como reduzida disponibilidade de equipamentos e laboratórios, entre outros problemas.

Na Argentina, o consulado em Buenos Aires relatou “inexistência de espaço que possa comportar o contingente e escassez de docentes.” No País também há alta taxa de evasão, por falta de conhecimento do idioma, segundo o relatório de Rosário.

Caso grave foi registrado no Paraguai, no consulado de Pedro Juan Caballero. Segundo o documento, a falta de alojamentos na cidade de Pedro Juan Caballero faz com que muitos estudantes precisem voltar diariamente para suas cidades no Brasil, pela fronteira. “Com marcada violência, crimes horrendos aqui são cometidos quase a diário, muitos dos quais com requintes de crueldade, vinculados ao narcotráfico”, diz a denúncia.

Um aluno de uma universidade na região denunciou que havia um péssimo tratamento dado aos brasileiros. Ele enviou uma carta ao consulado afirmando que os alunos sofrem com “provas que somem, notas alteradas, bullying, ignorado pelos diretores”. O documento cita ainda “falta de comprometimento dos professores”. “Muitos deles chegam atrasados,  não cumprem com a carga horária estabelecida e simplesmente não dão aulas, limitando-se a apresentar sessão de slides.”

Quantos são

Documentos da diplomacia brasileira, de 2018, revelam que na região de Cochabamba a Universidad Amazõnica de Pando, que é pública, tem 601 alunos brasileiros cursando medicina. A Universidad Técnica Privada Cosmos tem 707. Em 7 universidades bolivianas são mais de 5 mil brasileiros matriculados em cursos da área de saúde.

A grande maioria dos estudantes brasileiros matriculados em curso superior na Bolívia é oriunda dos estados do norte e do centro-oeste, com predominância do Acre, Rondônia e Mato Grosso do Sul.

Ainda na Bolívia, em Santa Cruz de la Sierra há 20 mil universitários brasileiros inscritos em cursos de medicina e enfermagem. Eles estão concentrados principalmente em Santa Cruz de Ia Sierra e em grandes cidades como Warnes, Montero ou La Guardia, onde cursam períodos de residência médica, ali chamada de "internado".

Na Argentina, era 8.900 em 2018. divididos majoritariamente entre as cidades de Rosário, sendo 2.400 na Universidade Nacional de Rosário (UNR), pública, e 300 em faculdades privadas. Em La Plata (província de Buenos Aires) era cerca de 1.500 na Universidade Nacional de La Plata (UNL) e Buenos Aires cerca de 4.700, sendo 1.800 na Universidade de Buenos Aires (UBA), pública, e os demais em faculdades privadas, principalmente a Fundação Barceló e a Universidad Abierta Interamericana.

Em Assunção (Paraguai), calcula-se em 4. 600 0 número de brasileiros que estudam medicina ou outros cursos na área de saúde. No total, estima-se em mais de 12 mil o número de brasileiros matriculados em instituições de ensino paraguaias.

A graduação em medicina (cerca de 90% do total) é a principal opção, sendo os 10% restantes distribuídos entre enfermagem e odontologia, além de administração de empresas e mestrado em ciências da educação.