Uma denúncia anônima levou a Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM) a apreender um caminhão com cilindros de oxigênio, na tarde desta quinta-feira (14 de janeiro), no bairro Alvorada, zona centro-oeste de Manaus. Um homem de 38 anos foi detido e vai responder por reter produtos para o fim de especulação e ficará à disposição da Justiça.
O secretário de Segurança, Coronel Louismar Bonates, esteve no local da denúncia e encontrou o caminhão com os cilindros que estavam sendo distribuídos paulatinamente pela empresa. O fato ocorreu nas proximidades do Sesc Amazonas. Foram encontrados no caminhão 33 cilindros, dos quais 26 possuíam oxigênio.
A ação policial envolveu a Polícia Militar e a Polícia Civil do Amazonas. Conforme o delegado Bruno Fraga, diretor do Departamento de Polícia do Interior (DPI), durante o interrogatório o homem informou que possui uma empresa de comercialização de cilindros de oxigênio, porém ficou com medo de que a população invadisse o estabelecimento em busca do material, e decidiu tirá-lo do local.
“Ele informou também que os cilindros haviam sido envasados na quarta-feira (13). Os materiais apreendidos foram encaminhados na noite de hoje para unidades hospitalares de Manaus”, informou ele.
Policiais civis fizeram a escolta do material para abastecimento em quatro unidades de saúde da rede estadual, na noite de hoje. Para o Hospital Beneficente Português, foram destinados 11 cilindros. Seis foram para a Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), seis para o SPA do São Raimundo e três para o SPA do Coroado.
Durante as fiscalizações, 20 cilindros de oxigênio vazios e 20 cilindros de oxigênio cheios, sem origem, foram apreendidos no porto do São Raimundo, zona sul da capital. O material foi periciado e levado a unidades de saúde.
Na madrugada desta sexta-feira, dois aviões da Força Aérea Brasileira carregados com cilindros de oxigênio chegaram a Manaus. Os voos partiram de Guarulhos, na Grande São Paulo, para ajudar na crise de saúde que assola o estado do Amazonas, levando 6 mil litros de oxigênio líquido da empresa White Martins, fornecedora do Governo do Estado.
No total, 386 cilindros de oxigênio foram transportados, com mais de 18 toneladas. Eles serão utilizados pelos hospitais do estado no atendimento aos pacientes da Covid-19.
Os insumos estão sendo transportados ao longo da semana da cidade de Guarulhos (SP) e chegarão a 22 mil metros cúbicos de oxigênio.
Outros 200 cilindros chegaram na terça-feira (12/01) e uma remessa de 150 cilindros foi entregue na última quarta-feira. Mais 25 mil metros cúbicos em isotanques também estão na programação de voos desta semana da FAB, partindo do aeroporto de Guarulhos.
De São Paulo
27 alunos soldados da Polícia Militar do Amazonas (PMAM), que fazem parte do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças, fizeram o transporte e a segurança de 150 cilindros de oxigênio vindos do estado de São Paulo na tarde desta quinta-feira.
Além do transporte e segurança dos cilindros, os alunos também ajudaram na instalação do material em seis unidades de Serviço de Pronto-Atendimento (SPA) da capital e na distribuição de parte desses insumos para 23 municípios do Amazonas.
Os 150 cilindros de oxigênio de 10 metros cúbicos, cada, chegaram por volta das 15h30 na Central de Medicamentos do Estado (Cema).
Os alunos soldados fazem parte do efetivo de 372 policiais militares, aprovados no concurso público de 2011, e que foram convocados pelo governador Wilson Lima, em 2020.
O Governo do Amazonas requisitou administrativamente o eventual estoque ou produção de oxigênio de 17 indústrias do Polo Industrial de Manaus (PIM).
A medida tomada pela Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), nesta quinta-feira, visa garantir a assistência de pacientes, após as principais fornecedoras do insumo não suportarem a demanda das redes pública e privada do estado, que passou a ser cinco vezes maior nos últimos 15 dias.
As requisições foram encaminhadas para as empresas Gree Eletric, Moto Honda, LG Eletronics, Yahama Motor, Electrolux, TPV, Whirlpool, Sodecia da Amazônia, Denso Industrial da Amazônia, Caloi, Flextronics International, Semp TCL, Ventisol, Carrier, Daikin, Samsung e Cometais.
Para suprir tanto os hospitais públicos quanto os hospitais privados, as fornecedoras White Martins, Carbox e Nitron precisavam entregar 76.500 metros cúbicos (m³) diariamente. No entanto, a capacidade de entrega das empresas tem sido somente de 28.200 m³/dia.
Para sanar o déficit de 48.300m³ diários, o Governo do Amazonas e o Ministério da Saúde iniciaram a execução da “Operação Oxigênio” para abastecer os hospitais do Amazonas com o gás, após disparar os índices de consumo com o aumento de casos de Covid-19.
De acordo com o governador Wilson Lima, o plano começou a ser executado após as principais fornecedoras do insumo não suportarem a demanda das redes pública e privada do estado, que passou a ser cinco vezes maior nos últimos 15 dias.
A logística da operação prevê também rota terrestre com o insumo até Belém, saindo de Fortaleza, para chegar a Manaus por meio de aviões. Para atender com urgência as redes, o transporte terrestre e fluvial, que seria o procedimento mais comum, foi descartado.
Nos hospitais
A Polícia Militar do Amazonas (PMAM) reforçou o policiamento em hospitais de Manaus para garantir a segurança dos profissionais de saúde e o fluxo dos trabalhos.
A medida abrange os Pronto-Socorros, unidades do Serviço de Pronto-Atendimento (SPA) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
De acordo com o subcomandante-geral da PMAM, coronel Ronaldo Negreiros, o reforço é necessário para garantir a tranquilidade “em momento em que os nervos estão aflorados”.
“Vamos garantir o reforço enquanto perdurar essa situação”, afirmou Negreiros.
Ainda conforme o subcomandante-geral, os militares também estão auxiliando na entrega de materiais hospitalares.
“É importante salientar e reconhecer o trabalho dos valorosos policiais que estão auxiliando a Secretaria Estadual de Saúde no transporte e deslocamento de cilindros, materiais hospitalares e outros materiais”, disse Negreiros.
Toque de recolher
O governador Wilson Lima anunciou o decreto que proíbe a circulação de pessoas em Manaus no horário entre 19h e 6h. Somente serviços essenciais para a vida poderão funcionar.
De acordo com o secretário de Segurança Pública, coronel Louismar Bonates, a população tem entendido a necessidade do decreto e tem colaborado com a operação. Postos de gasolina que estavam abertos depois das 19h foram fechados.
“A única exceção para ficarem abertas são as farmácias. Qualquer outra atividade tem que ser fechada. A população, pelo que temos visto, está colaborando”, afirmou Bonates. Oito postos de gasolina, localizados nas zonas leste, norte e sul, foram fechados durante a operação.
O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Ayrton Norte, agradeceu aos policiais envolvidos e disse que a missão da instituição é preservar a vida e aplicar a Lei. “Em um momento em que a gente está passando por dificuldades, todos os esforços estão sendo aplicados pelo governo do estado, com afinco, para salvar o povo do Amazonas. E a Polícia Militar está nas ruas fazendo a sua missão”, disse.
Pacientes transferidos
235 pacientes de Manaus estão sendo transferidos para hospitais de outros estados em voos da Força Aérea Brasileira (FAB). O Ministério da Defesa informou que há voos programados nesta sexta-feira (15) para o Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba. Hospitais de Goiás, Pernambuco, Ceará e Distrito Federal também deverão receber pacientes.
De acordo com o Ministério da Saúde, as transferências dos pacientes do Manaus ocorrerão em duas aeronaves da FAB, e já estão garantidos de imediato 149 leitos. São 40 em São Luís (MA), 30 em Teresina (PI), 15 em João Pessoa (PB), 10 em Natal (RN), 20 em Goiânia (GO), 4 em Fortaleza (CE), 10 em Recife (PE) e 20 no Distrito Federal.
No início da manhã desta sexta, nove pacientes embarcaram no primeiro voo da FAB, que partiu da Base Aérea de Manaus para Teresina, como informou o Comandante da Ala 8 da Base Aérea de Manaus, Brigadeiro do Ar Luiz Guilherme da Silva Magarão.
Críticas no Senado
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, divulgou nota informando que articula medidas de emergência junto ao Palácio do Planalto para ajudar a combater os efeitos da nova onda da pandemia no estado. Nas redes sociais, Davi também disse que colocou o Congresso Nacional à disposição, em busca do que for necessário para minorar o sofrimento desses brasileiros.
“Estive em contato com o presidente Jair Bolsonaro, com o ministro Fernando Azevedo, da Defesa, com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e, ainda, com o ministro do Superior Tribunal de Justiça Mauro Campbell, que também é amazonense, para agilizar medidas urgentes de socorro à população”.
O líder do Podemos, senador Alvaro Dias (PR) destacou que cerca de 150 pacientes começaram a ser transferidos de Manaus para oito capitais brasileiras nesta sexta-feira (15). Segundo o parlamentar, duas aeronaves da Força Aérea Brasileira já iniciaram o transporte dos doentes para estados como Maranhão e Piauí.
“Parabenizamos a FAB pela eficiência que sempre demonstra em missões de emergência como esta. Desejamos que os pacientes que estão lutando pela vida sejam curados. Somos gratos por todos que atuam na linha de frente para salvar os brasileiros”.
O líder do MDB, senador Eduardo Braga (AM), ressaltou que uma onda de indignação e de solidariedade se apresentou Brasil afora, na crise vivida pelos amazonenses. Ele disse que as pessoas socorridas pela FAB para outras cidades do país nesta sexta são “quase nada” diante da tragédia registrada no Amazonas, mas ponderou que cada vida vale o esforço.
“Cada vida merece nossa atenção e nossas orações” — compartilhou.
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) considerou a situação em Manaus inadmissível e comparou os hospitais a câmaras de asfixia. Para ela, o Ministério da Saúde e os governos estaduais agem com inoperância em relação ao assunto.
“É desesperador assistir brasileiros sufocados. Uma omissão desumana morrer sem ar, enquanto em países vizinhos a vacina já é aplicada”.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) defendeu a retomada das atividades presenciais do Congresso para discutir as medidas emergenciais de combate à pandemia. Ele disse que assinou requerimento do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) nesse sentido.
“Não temos vacina, falta oxigênio, o sistema de saúde de Manaus já colapsou e em outros locais do país pode acontecer a mesma coisa. Não há estoque de seringas suficientes para atender o plano de Imunização, estamos em um dos mais graves momentos da história do país”.
Líder do PT, o senador Rogério Carvalho (SE) também alertou para a possibilidade de os acontecimentos em Manaus se repetirem em outras partes do país.
“A falta de oxigênio em Manaus nos faz perder o ar diante de tanta negligência com a gravidade em que vivemos. Chega de brincar com a vida dos brasileiros. É lamentável a constatação de que a continuidade do desprezo do governo na segunda onda da pandemia tenha como prejuízo mais e mais vidas perdidas”.
Para o senador Jean Paul Prates (PT-RN), a falta de cilindros de ar nos hospitais é resultado de “negacionismo, falta de informação e uma série de erros”. O senador informou que o Partido dos Trabalhadores acionou o Supremo Tribunal Federal para exigir que o Poder Executivo garanta oxigênio, mobilize a Força Nacional para reforçar a segurança pública e também disponibilize médicos de outras regiões para atender a população de Manaus.
“Deixamos aqui nossa solidariedade e força às famílias, aos guerreiros profissionais de saúde, e a todo o povo de Manaus”.
Ao se solidarizar com os amazonenses, a senadora Maria do Carmo Alves (DEM-SE) considerou a situação dramática e angustiante. Ela defendeu medidas urgentes de socorro à população e lembrou os brasileiros sobre a necessidade de continuarem com as medidas de prevenção e contenção do coronavírus.
“Nunca é demais repetir o protocolo orientado pelos profissionais de saúde: só saiam de casa se necessário, preservem a si e seus entes queridos. Não subestimem a força desse vírus.
O senador Antonio Anastasia (PSD-MG) também reforçou que, por mais impopulares que sejam as medidas de restrições e distanciamento social, elas ainda hoje são a forma mais eficiente de controle da proliferação da pandemia.
“A situação vivenciada em Manaus é chocante e inacreditável, é de sangrar o coração. Torço para que a vacinação que se aproxima ponha fim a esse pesadelo que vivemos no Brasil e no mundo. Espero, e estou cobrando isso, que o governo federal tome as providências para auxílio imediato à população, de forma que os pacientes contem com os insumos necessários para o tratamento da doença e tenham, acima de tudo, dignidade”.
Para o senador Carlos Fávaro (PSD-MT), é importante cada um fazer a sua parte, tomando os cuidados para evitar a propagação do vírus e, assim, evitar o colapso no sistema de saúde.
“Temos que ter, sobretudo, consciência. Cada brasileiro pode e deve salvar vidas. Precisamos olhar com carinho e cuidar dos cuidadores. Quando o sistema colapsa, vidas humanas perecem. Os profissionais de saúde estão fazendo um trabalho incansável em Manaus e em todo o Brasil. Em respeito a todos que arriscam suas vidas à exaustão, repito: vamos nos cuidar”.
Plínio Valério (PSDB-AM) disse que é hora de reforçar o sistema de saúde também no interior do estado. E cobrou ajuda dos que defendem a preservação da Amazônia.
“As pessoas no Amazonas estão morrendo asfixiadas. Onde se escondem aqueles que nos cobram a preservar 'o pulmão do mundo'? Se fosse queimada de árvores, a comoção seria mundial. Essa situação dramática nos tira o sono e a preocupação é reforçar o sistema de saúde de atendimento também no interior”.
O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) afirmou que, embora o problema não seja de responsabilidade da esfera federal, o Poder Executivo tem agido para minimizar o sofrimento dos amazonenses. Ele informou que, em 2020, o governo transferiu recursos da ordem de R$ 8,91 bilhões para o Amazonas, dos quais R$ 2,36 bilhões foram destinados a medidas de combate à pandemia em Manaus.
“Governo Bolsonaro, mais uma vez, provando que ninguém fica para trás mesmo quando a responsabilidade pelo problema não tem absolutamente nada a ver com a esfera federal. Povo de Manaus, conte conosco”.