Comportamento / Saúde

Entenda como as festas de fim de ano afetam a saúde física e mental

O resultado da combinação entre desequilíbrio mental e metabólico é o problema físico

Foto: Nicole Michalou/Pexels/Creative Commons
Uma alimentação desregrada neste período do ano repercute em problemas físicos, emocionais e metabólicos

Festas de fim de ano são momentos de celebração e fartura. É hora de tentar deixar os problemas um pouco de lado e de renovar a esperança para o novo ciclo que se inicia. É o momento de se reunir em torno de mesas fartas de comidas especiais e bebidas. Mas é preciso atenção, pois os exageros podem provocar muitos problemas no nosso organismo.

O fisioterapeuta e Ph.D. em neuroanatomia, Mario Sabha, alerta que adotar uma alimentação desregrada neste período do ano repercute em problemas físicos, emocionais e metabólicos. 

“Na parte emocional, devemos entender que todo excesso, como comer ou beber demais, é um mecanismo de compensação. Ainda mais nesta época em que geralmente estamos mais emotivos. Tanto a alegria pela festividade como as frustações e insucessos que aconteceram durante o ano podem levar ao exagero. Daí, se você sente um conforto, uma compensação muito grande ao comer e beber, você aciona um gatilho para ingerir cada vez mais”.

Sabha aponta que é importante manter a mente sob controle para que o corpo não acabe sofrendo junto. “Quando consumimos mais do que o nosso corpo está acostumado, também temos problemas com a questão metabólica, pois nosso organismo terá mais trabalho para digerir os alimentos e deixará de produzir enzimas e hormônios, por exemplo, da melhor forma ou na quantidade necessária”.

O resultado desta combinação entre desequilíbrio mental e metabólico é o problema físico, explica o especialista. 

“Consumir comidas ou bebidas em excesso gera muitos gases no nosso corpo que, junto aos próprios alimentos que não foram bem digeridos, fazem um peso muito maior entre os nossos órgãos. A consequência deste peso fora do normal é que, como os órgãos se “apoiam” na nossa coluna vertebral, ela pode se tracionar e gerar dores e desconfortos desde os que passam após algumas horas até os que persistem por muito mais tempo”, disse.

Nos casos das dores persistentes ou das que retornam toda vez que a pessoa volta a comer, o fisioterapeuta afirma que somente manipulações como a osteopatia, que atua tanto na coluna como nos órgãos afetados, possibilitam corrigir o desequilíbrio corporal. 

“Nessas situações é importante buscar ajuda profissional que possa realizar uma avaliação minuciosa, conversando com o paciente e sabendo localizar a origem do problema, para então tratar corretamente as dores. Os exageros na hora de comer e beber podem parecer inofensivos, ou que resultam somente no ganho de peso, mas não. Por este motivo, o paciente precisa profissionais qualificados que saibam analisar esses desequilíbrios em todo nosso corpo, afim de corrigí-los com métodos eficazes, baseados nas terapias manipulativas da quiropraxia e da osteopatia”.

Sabha aconselha que, mais importante do que ter cuidado com os excessos de fim de ano, é retornar a uma vida saudável após o período. 

“O maior problema não é o que você come do Natal ao Ano Novo, mas o que você come do Ano Novo até o Natal. Se você tiver um ganho muito grande de peso - o que não vai ocorrer por um descuido de apenas alguns dias - daí sim o problema físico se torna ainda maior, já que o aumento do seu peso e de seu abdômen altera seu centro de gravidade e você passa até a pisar diferente, desequilibrando todos os seus órgãos e consequentemente o quadril e a coluna vertebral, podendo gerar dores ainda mais severas”, alerta.

Comilanças de fim de ano agravam refluxo

O fim de ano, para a grande maioria das pessoas, é sinônimo de comilança. Mas essa combinação entre comidas pesadas, muita bebida alcoólica, refeições em grande quantidade e feitas  tarde da noite, definitivamente, não é adequada para o seu estômago, especialmente se você sofre da Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), um mal que atinge, segundo dados da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), 30% da população adulta do Brasil.

Os excessos cometidos nestes períodos festivos agravam os sintomas de quem tem a forma crônica da doença. 

“O refluxo acontece quando os conteúdos do estômago e do intestino (a bile) retornam ao esôfago, fazendo com que a mucosa esofágica seja agredida. Então quando o indivíduo come muito, e isso é bem comum nesta época de festas de fim de ano, esse conteúdo dentro do estômago estimula uma produção maior de ácido [gástrico] e outras secreções, e num dado momento isso é refluído, ou seja sobe e retorna para o esôfago”, explica o cirurgião e endoscopista bariátrico Sérgio Barrichello.

Segundo outro especialista, o cirurgião do aparelho digestivo, professor de medicina e membro Titular Especialista do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva, Cesar Wakoff, o refluxo crônico pode ser percebido em pacientes que apresentam com frequência sintomas como azia, queimação estomacal, arrotos frequentes, dor retroesternal, náuseas e intolerância a alguns tipos de alimentos, como massas e frituras.

“Muitas vezes esses sintomas fazem com que a qualidade de vida dos pacientes caia bruscamente. Muitos acordam com refluxo, possuem tosse crônica, podem ter pneumonia por aspiração do líquido refluído do estômago. Também não conseguem se alimentar adequadamente, alterando a sua vida social”, afirma o especialista.

O seu colega Sérgio Barrichello lembra ainda que a doença também se manifesta com sintomas nas vias aéreas como rouquidão com certa frequência, perda de voz e sensação de queimação na garganta.

“Tudo isso são sinais de que a pessoa pode ter refluxo crônico, e portanto, merecem ser alvos de uma investigação médica mais detalhada, por  meio de exames como a endoscopia, a manometria e a phmetria. Mas há também pacientes que não apresentam sintomas, mas que podem sim ter a forma crônica da doença e muitas vezes descobrir isso nessas épocas de excessos no fim de ano”, destaca.

Mas de acordo com Wakoff, mesmo quem não sofre da forma crônica do refluxo, pode ser acometido pelos sintomas da doença, em virtude dos excessos cometidos durante as festividades de fim de ano. 

“O refluxo pode atingir mesmo indivíduos saudáveis apenas pelo excesso de comida. A dilatação do estômago e aumento na pressão do esfíncter esofágico podem promover um refluxo apenas naquele momento, causando desconforto, que podem muitas vezes simular até um infarto”, alerta o especialista. 

De acordo com o cirurgião do aparelho digestivo, doutor em cirurgia clínica e professor adjunto da Escola de Medicina PUC Paraná, Flávio Ivano, os episódios de refluxo costumam ser mais frequentes e intensos nesta época do ano, pois as pessoas acabam relaxando nos cuidados com a alimentação, e consumindo alimentos que agravam ainda mais os sintomas da doença.

“Todo o excesso alimentar aumenta a chance de refluxo gastroesofágico, e isso inclui alimentos mais gordurosos, frituras, condimentados, bebidas mais ácidas (como os refrigerantes). Tudo isso é contraindicado para portadores de doença do refluxo gastroesofágico”, destaca o especialista. 

O médico lembra que as bebidas alcoólicas, também consumidas em larga escala nesta época do ano, são outro fator preponderante para a ocorrência do  refluxo gastroesofágico. “O álcool, além de ser uma  substância altamente prejudicial à mucosa esofágica, dependendo da quantidade, pode ser bastante calórico e assim contribuir para o aumento de peso, que também piora o quadro de refluxo”, explica Flávio Ivano.

De acordo com o médico Flávio Ivano, quem já sabe que tem a doença do refluxo e quer festejar neste fim de ano, precisa, mais do que nunca, seguir a linha da moderação e da disciplina. Ele dá dicas simples, e que até parecem óbvias, mas que nem sempre as pessoas seguem. “Evite as bebidas alcoólicas, e também os alimentos gordurosos, as frituras, condimentados, ácidos. Não deixe para comer tudo na noite da ceia de Natal e mantenha a rotina de comer porções menores e mais vezes ao dia.  Não coma muito antes de dormir e espere ao menos duas horas após sua última refeição para ir se deitar. Para evitar os sintomas noturnos, eleve a cabeceira da cama”, orienta o médico.

O cirurgião Sérgio Barrichello dá uma dica específica para quem bebe e fuma. “Tirar o cigarro e as bebidas alcoólicas é muito importante, já que estas duas substâncias, também causam o relaxamento do esfíncter inferior e propiciam o refluxo”, diz o médico, que reforça a importância de se ter um estilo de vida saudável.

“Quem tem refluxo, além de evitar os excessos alimentares, deve manter uma rotina de atividades físicas, pois além de combater a obesidade, que agrava o refluxo, também otimiza os movimentos do estômago, intestino e esôfago. Esses movimentos peristálticos são facilmente estimulados com uma caminhada, com uma corrida e outros exercícios. Isso facilita o esvaziamento do estômago e do intestino, evitando assim os episódios de refluxo”, esclarece.