Bahia / Nordeste

Cresce o número de filhotes de baleias jubarte no litoral da Bahia

Projeto Baleia Jubarte registrou 424 grupos da espécie, totalizando 1.040 indivíduos

Foto: Projeto Baleia Jubarte
Pesquisadores conseguiram seguir monitorando as baleias

Praia do Forte e Caravelas (BA) - Foi uma temporada atípica em função da pandemia de Covid-19. Mas tomando os cuidados necessários, o Projeto Baleia Jubarte conseguiu finalizar mais uma temporada de pesquisa com as baleias – a 33ª desde 1988, quando o Projeto, patrocinado pela Petrobras, iniciou suas atividades.

Foi necessário reduzir o número de pesquisadores a bordo, usar equipamentos de proteção e manter o distanciamento, mas o trabalho de campo foi realizado com bons resultados. Nesta temporada 2020, além do trabalho regular nas bases de Praia do Forte e Caravelas (BA) e em Vitória (ES), foi realizada uma expedição desde Praia do Forte até Vitória para avaliar a ocupação do litoral baiano e capixaba pelas baleias.

No total, o Projeto Baleia Jubarte registrou 424 grupos da espécie, totalizando 1.040 indivíduos, dos quais 279 eram filhotes nascidos na Bahia e no Espírito Santo. Para isso, as equipes de pesquisa navegaram mais de 4.250 km, o equivalente a mais da metade da costa do Brasil.

Agora, as jubartes já estão retornando à região antártica para se alimentar, e é hora de as equipes de pesquisa analisarem todos os dados coletados e se prepararem para o próximo inverno, quando elas estarão de volta. “Acabamos de enviar 209 amostras de pele de baleia para análise genética no Laboratório de Biologia Genômica e Molecular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), e estamos aguardando uma licença para exportar 58 amostras de gordura para a Universidade Griffith, na Austrália”, informa Milton Marcondes, coordenador de pesquisa do Projeto Baleia Jubarte.

Com as análises genéticas, é possível identificar os indivíduos, saber o grau de parentesco entre as baleias e determinar se há migração entre as diferentes populações. Já as amostras de gordura, ajudam a entender o quanto as mudanças climáticas estão afetando a Antártica e, indiretamente, as baleias. A jubarte está sendo usada, assim, como uma sentinela da condição climática de toda a região.

A temporada 2020 se caracterizou por um aumento no nascimento de filhotes. Segundo Eduardo Camargo, coordenador geral do Projeto Baleia Jubarte, “em 2019 tivemos 11,4% de filhotes do total de animais registrados, mas neste ano encontramos 17,6%; isso quer dizer que muitas baleias que vieram acasalar em 2019 tiveram filhotes neste ano. No fim da temporada, quase todo grupo que avistávamos tinha um filhote junto à sua mãe”.

Algumas atividades, porém, não puderam ser realizadas. Os estudos feitos na Ilha de Santa Bárbara, no Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, foram cancelados devido às restrições impostas pela pandemia. E também o turismo de observação de baleias, atividade que vem ganhando cada vez mais força ao longo do litoral brasileiro, teve que ser interrompido. “Uma pena que o turismo foi prejudicado, mas enfrentamos uma situação atípica assim como em diversos outros setores, e já estamos trabalhando com os operadores para que a temporada 2021 seja de muito sucesso”, complementa Eduardo.

Os pesquisadores acham que a diminuição do número de embarcações no mar pode ter sido positiva para as baleias. A redução no transporte de carga e nas atividades pesqueiras pode ter diminuído o risco de atropelamento de baleias por navios e emalhe em equipamentos de pesca. Também com menos navios o canto dos machos de jubarte pôde ser melhor ouvido pelas fêmeas, com menor interferência do ruído de embarcações.

Até o fim de novembro foram registrados 68 encalhes de baleias na costa do Brasil. Embora este número seja um pouco maior que 2019, quando houve 60 encalhes, é bem menor que os 122 encalhes registrados em 2017. “Existe uma tendência de crescimento no número de baleias que aparecem mortas nas praias porque a população de baleias está crescendo. Hoje temos mais de 20 mil jubartes no Brasil. Parte desta população morre de causas naturais, como doenças e velhice, e parte morre por influência de atividades humanas, como é o caso do emalhamento em redes de pesca e atropelamentos por grandes navios. É nesta segunda parte que precisamos tentar atuar cada vez mais, para prevenir este tipo de acidentes”, informa Milton.

Atuando há mais de 30 anos na pesquisa e conservação das baleias-jubarte e do ambiente marinho no Brasil, o Projeto Baleia Jubarte, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, integra a Rede Biomar juntamente com outros projetos patrocinados pela empresa (Albatroz, Coral Vivo, Golfinho Rotador, Meros do Brasil e Tamar), que atuam de forma integrada na conservação da biodiversidade marinha do Brasil.

O Projeto Baleia Jubarte é realizado pelo Instituto Baleia Jubarte, a partir de suas sedes na Praia do Forte e em Caravelas (BA) e em Vitória (ES). Por meio deste projeto, são realizadas ações de pesquisa científica, turismo responsável, ações de educação ambiental, bem como atividades de conservação que tem contribuído para o sucesso da recuperação da população de jubartes do atlântico sul ocidental.