Um ônibus da cidade de Mata Grande, em Alagoas, caiu nesta sexta-feira (4 de dezembro) de um viaduto conhecido como "Ponte Torta", na BR-381, em Minas Gerais.
O acidente aconteceu próximo ao entroncamento com a BR-262. O viaduto fica sobre o Rio Piracicaba e a Estrada de Ferro Vitória-Minas e em cima da estrada municipal João Braga, a oito quilômetros da sede do município de João Monlevade.
De acordo com a Polícia Civil de Minas Gerais, 19 mortes estão confirmadas. Dos 45 passageiros, 13 estão no Hospital Santa Margarida, em Monlevade, 3 foram transferidos para Belo Horizonte e estão no hospital João XXIII. 7 passageiros já receberam alta. 3 não precisaram de atendimento médico e uma pessoa ainda não foi localizada.
Uma pessoa encontrada ainda com vida no banheiro do veículo morreu em uma unidade de saúde.
Ambulâncias municipais e carros particulares levaram os feridos para hospitais regionais de Nova Era e Monlevade.
Duas crianças e um adulto (um pai e seus dois filhos) que ficaram em estado mais grave, foram transferidos de helicóptero do Corpo de Bombeiros para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, segundo o Corpo de Bombeiros.
Lista de mortos (identificados até o momento)
-- Caio Lucas Santos
-- Cícero Jeferson Andrade da Silva
-- Cícero Oliveira Lima
-- Clemilton Santos Nascimento
-- Denise Maria do Nascimento
-- Elias Vieira Batalha
-- Joelson Queiroz dos Santos
-- José Ricardo da Silva
-- José Roberto Santos da Silva
-- Lázaro Santos Barbosa
-- Manoel José da Silva
-- Marcondes Teixeira lima
-- Maria Silma da Silva Batalha
Segundo o delegado regional Paulo Tavares Neto, responsável pelo inquérito instaurado para apurar as causas e responsáveis pelo acidente, os responsáveis legais pela JS Turismo ainda não entraram em contato com as autoridades policiais alagoanas ou mineiras.
“A empresa não se pronunciou”, afirmou Neto, revelando que algumas testemunhas apontaram que o veículo pode ter sofrido algum problema momentos antes do acidente. “Algumas testemunhas apontam que pode ter havido uma falha mecânica, mas vamos depender da perícia técnica para esclarecer isto”, acrescentou o delegado.
O acidente
O ônibus (placa DTD- 7253 e pertencente à Localima Turismo) caiu de uma altura aproximada de 35 metros. O motorista, de acordo com a PRF-Polícia Rodoviária Federal, pulou do veículo e fugiu. "Há equipes de policiais na tentativa de localizar o motorista", disse ao G1 Minas o inspetor Cristiano Mendes, chefe-substituto da comunicação social da PRF.
Segundo relatos de moradores, o ônibus voltou de ré na ponte e quatro pessoas pularam do veículo, antes da queda.
O jornal Estado de Minas cita testemunhas segundo as quais o ônibus desceu a serra, perdeu os freios, saiu desgovernado, entrou na contramão, passou pela ponte sobre o Rio Piracicaba, depois voltou de ré e caiu no despenhadeiro.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, o ônibus perdeu tração na subida, após passar por uma ponte, e voltou desgovernado de ré, até a queda de aproximadamente 35 metros de altura sobre sobre os trilhos da Estrada de Ferro Vitória/Minas.
João Raimundo Fernandes mora próximo ao local e viu o acidente. “Eu vi o ônibus voltando, pendurando e caindo", disse ao Estado de Minas.
Eram 13h30.
Local do acidente - Foto: Google Maps
Pelas redes sociais, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, se disse “estarrecido".
À Globonews, o chefe da comunicação da Polícia Rodoviária Federal em Minas Gerais, Aristides Júnior, disse que o local onde houve a queda do ônibus não fica em uma área com histórico de acidentes: "Não se trata de ocorrência que ocorre com grande frequência no local", afirmou.
O trecho mais arriscado fica em Betim (Minas Gerais). Nele, o excesso de veículos pesados, o acostamento precário e o grande número de pedestres nas vias contribuem para uma segurança precária.

O ônibus despencou de uma altura de 35 metros.
Sem autorização
A ANTT- Agência Nacional de Transportes Terrestres informou que a empresa proprietária do ônibus não tinha autorização para transportar passageiros e operava sob liminar judicial.
“A empresa está cadastrada na ANTT e tem um Termo de Autorização para prestação de serviço regular concedido pela Justiça, por liminar. No entanto, o veículo em questão não estava habilitado para prestar o serviço de transporte de passageiros", disse o órgão.
Levantamento feito pelo Estado de Minas mostra que em 5 de julho de 2019 a empresa foi multada por "transitar efetuando transporte remunerado de pessoas quando não licenciado para esse fim", o que configura transporte irregular de passageiros. A multa, no valor de R$ 130,16, não foi paga. O fato aconteceu na BR-251, em Montes Claros, no Norte de Minas.
Há outras duas autuações relacionadas ao ônibus, sendo uma por ter passado direto por um posto de pesagem e uma outra em que foi constatada irregularidade no velocímetro, ambas foram registradas em Minas Gerais e ainda não se transformaram em multa.
Autos de infração foram lavrados nos dias 8 de fevereiro (BR-135), 18 de abril (BR-251) e 8 de julho (BR-251).
Uma queda de 35 metros, sobre a linha férrea
Em 2020 a ANTT registrou 2.490 autos de infração contra o transporte clandestino no país, gerando prejuízo de R$ 13,2 milhões para as empresas irregulares. Ao todo, 1.188 veículos foram apreendidos.
"Mãe, eu estou bem, tá?"
Vitória Cardozo Caldas Silva, de 19 anos, embarcou no ônibus por volta de 9h de quinta-feira (3) no povoado Santa Cruz do Deserto, em Mata Grande, sertão de Alagoas. Iria para São Paulo, encontrar o pai. Vitória está entre os sobreviventes e enviou uma mensagem de áudio para a mãe, Mazy Cardoso: "Mãe, eu estou bem, tá? Aconteceu um acidente e eu tive um corte na perna e a minha cabeça bateu e está doendo, mas já me deram remédio, cuidaram bem de mim e eu estou bem, tá? Fica bem mãe, não fica preocupada comigo que está tudo bem. Deus cuidou de mim, você orou por mim e está tudo certo".
Depois, fez uma chamada de vídeo. Só aí a mãe conseguiu ficar um pouco mais tranquila. "Ela está com o rostinho muito inchado, colete no pescoço e muita dor de cabeça. Mas já foi medicada."
Em Mata Grande, o prefeito Erivaldo de Melo Lima (PP) decretou três dias de luto. O ginásio de esportes da cidade e uma escola do povoado Santa Cruz do Deserto estão sendo colocados à disposição das famílias para o velório das vítimas.
Ginásio de esportes em Mata Grande, Alagoas
O governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB), decretou 3 dias de luto oficial, no estado.
Mata Grande fica a 273 quilômetros de Maceió (via BR-316) e possui 24 mil habitantes.
Segundo informações da prefeitura, o ônibus que se acidentou em Minas Gerais saiu de Santa Cruz do Deserto, na zona rural do município, e pegou passageiros nas cidades vizinhas de Delmiro Gouveia e Água Branca.
Cada passageiro pagou entre R$ 200 e R$ 250 pelo transporte.
O transporte dos corpos
Dois aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) vão ser utilizadas para transportar de Minas Gerais para Alagoas os corpos e os parentes das vítimas, bem como os feridos no acidente.
No primeiro avião serão transportados os corpos já liberados pelo Instituto Médico Legal (IML). No jato viajarão os parentes das vítimas que se deslocaram para Minas Gerais e os sobreviventes que receberam alta médica.
Segundo o coordenador adjunto da Defesa Civil de Minas Gerais, tenente-coronel Flávio Godinho, o traslado dos corpos está previsto para o meio-dia (12h) desta segunda-feira (7).
As aeronaves partirão do Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, com destino a Paulo Afonso (BA), distante cerca de 100 quilômetros da cidade de Mata Grande (AL), de onde o ônibus com destino a São Paulo partiu com 45 pessoas a bordo.
Rodovia da Morte
É como os motoristas se referem à BR-381. No trecho entre Belo Horizonte e João Monlevade há pelo menos um acidente por dia, de acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal.
De pista simples, a rodovia possui um traçado sinuoso, com muitas curvas e derivações. Começa na cidade de São Mateus, no Espírito Santo, no entroncamento com a BR-101, chegando até São Paulo, no entroncamento com a BR-116 - Rodovia Presidente Dutra. No trajeto atual, possui 1181 quilômetros, dos quais 95 são em São Paulo, 950 em Minas Gerais e 136 no Espírito Santo.
A história da rodovia BR-381 começa no século XVII. O bandeirante Fernão Dias Paes Leme, que esteve nos sertões dos atuais estados de São Paulo e Minas Gerais à procura de esmeraldas, foi o responsável pela abertura do caminho original, cujo traçado orientou o surgimento da hoje conhecida rodovia Fernão Dias.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, disse nesta sexta-feira que a duplicação da rodovia já deveria ter acontecido. "Ela deveria já ter sido duplicada há 30 anos. Eu a conheço há mais tempo do que isso até e todos nós sabemos o quanto tem o traçado sinuoso e o quanto o tráfego nela é intenso e principalmente caminhões que causam lentidão e acidentes".
Romeu Zema disse que desde 2019 as obras federais foram retomadas, na rodovia. "Quem viaja e transita por ali sabe que o número de equipamentos e máquinas por ali, aumentou muito desde o ano passado. Vários trechos já foram liberados para uso, vários outros já foram concluídos, mas ainda tem uma grande quantidade de quilômetros para pode ser executado".
Estudo da CNT-Confederação Nacional dos Transportes mostra que entre 2007 e 2017, apenas em rodovias federais policiadas, ocorreram 1,65 milhão de acidentes (média de 411,3 por dia), com 83.481 mortos (média de 20,8 por dia).
O atual índice de mortos no Brasil (aproximadamente 19 por 100 mil habitantes) equivale aos do ano de 1982 de países desenvolvidos (38 anos de atraso).
Minas registra 14,6% dos acidentes do país; Santa Catarina, 12,0% e Paraná, 11,6%. Amazonas, Amapá e Roraima são os estados com menos registros. Juntos somam menos de 1% do total. Em 2017, Minas registrou 8.574 acidentes com vítimas nas rodovias federais. Importante lembrar que é o estado com a maior malha.
27 das 141 rodovias federais pavimentadas concentram 80% das mortes. As BRs 101,116, 153, 381, 040, 316, 364 e 262 concentram 50,9% das mortes ocorridas no período de 2007 a 2017.
Ficou pior
A qualidade das rodovias brasileiras piorou, em 2019. É o que mostra a 23ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias, divulgada pela Confederação Nacional do Transporte e pelo Sest Senat.
O estado geral apresenta problemas em 59% da extensão dos trechos avaliados. Em 2018, o percentual foi de 57%. Também está pior a situação do pavimento (52,4% com problema), da sinalização (48,1%) e da geometria da via (76,3%). Em 2018, a avaliação foi 50,9%, 44,7% e 75,7% com problemas respectivamente.
O número de pontos críticos identificados ao longo dos 108.863 quilômetros pesquisados aumentou 75,6%. Passou de 454 em 2018 para 797 em 2019.
Na pesquisa da CNT, são avaliadas as condições de toda a malha federal pavimentada e dos principais trechos estaduais, também pavimentados. Na edição de 2019, foram percorridas todas as cinco regiões do Brasil, durante 30 dias (de 20 de maio a 18 de junho), por 24 equipes de pesquisadores.
Em 2018 foram registrados nas rodovias federais brasileiras 69.206 acidentes. O prejuízo gerado é da ordem de R$ 9,73 bilhões para o país, com a perda de 5.269 vidas e, ainda, com 76.525 pessoas feridas. O cálculo considera os prejuízos com veículos, cargas, despesas médicohospitalares. Também considera a perda de produção das pessoas que morrem nas rodovias, parte delas ainda muito jovem.
A CNT estima a necessidade de R$ 38,60 bilhões para reconstrução e restauração das rodovias brasileiras.