Os dias com minhas filhas têm uma forma especial de calma, paz, sossego e distância da crueldade e da discórdia do mundo.
Há pouco, estávamos regando as plantas do nosso apartamento; que não são muitas, mas estão conosco desde que elas nasceram, ou seja, há mais de seis anos.
A árvore da felicidade (polyscias fruticosa), as violetas, o pé de manjericão: são regados religiosamente por mãos pequenas e corações puros. As mesmas mãos que batem na porta do banheiro para me alertar que estou demorando no banho, que temos que cuidar da água do planeta; os mesmos corações puros que não foram corrompidos ou destruídos pelo mundo que criamos já aprenderam a separar os lixos recicláveis dos orgânicos.
E, por uma coincidência do destino, Valentina (seis anos) lê um livro sobre a fauna do pantanal - a arara-azul-grande, o tucano, o periquito, a garça-branca, o jaburu, o beija-flor, a onça-pintada, a capivara, o lobo-guará, o macaco-prego, o cervo-do-pantanal, o porco-do-mato, o tamanduá, a anta, o bicho-preguiça, o jacaré, a cachara, o camaleão...
Valentina se esforça para pronunciar corretamente todas as nobres espécies que habitam o bioma. E Isadora (4 anos) me pergunta sobre os índios. Respondo no automático.
Imagens de fogo, destruição, agonia, crueldade e morte tumultuam a minha cabeça e partem o meu coração. Se uma criança de 4 anos consegue cuidar de plantas, alimentar animais, separar o lixo, economizar a água do planeta: por que adultos, tão dotados (lotados!) de "bons costumes" e etiquetas massacram, metem fogo em tantas criaturas vivas enquanto escrevo a coluna de hoje?
Li que comparar a crueldade do homem à das feras seria injuriar estas últimas. Sêneca acreditava que toda crueldade resultava da fraqueza. O homem fraco e covarde destruindo.
Muitos no comando! E, às vezes, é possível ver um deles, com os dentes brancos, azuis!, todo engomadinho, falando manso ou babando de raiva, mas matando com apenas uma assinatura... Decretando, assim, o extermínio da vida. "Mudar as regras e deixar a boiada passar", como diria o outro.
Quem sabe tal tipo de bípede perceba, num futuro próximo, que dinheiro não é comestível e muito menos bebível e nem fumável, como o seu charuto.
Só posso concordar com Mark Twain: "A mais perfeita polidez é apenas um belo edifício, do chão ao teto, de graciosas e douradas formas de caridosas e generosas mentiras".
Mentiras! Hitler só andava com calças com vinco, bigodinho aparado e não falava nenhum palavrão.
Temos assistido o recuo do homem à besta. De novo, não vamos aqui insultar as bestas.