Os filósofos são uns sujeitos bem malucos. Sempre desvalidando seus pares, antecessores, e carregando um calhamaço debaixo do sovaco, como quem volta da padaria com a resposta para todas as coisas que não têm. Mas qual era mesmo a pergunta? Mergulho no existencialismo: "Quem somos?" "O que estamos fazendo?" "Para onde vamos, gafanhotos?" "Quem nos move?"
E esta consciência de solidão me é bem conhecida; como uma velha amiga - desde que senti o gelo do fórceps de alívio -, antes de eu me embrenhar pelos labirintos de Kierkegaard, Sartre ou Nietzsche.
Os sentimentos mais profundos, os verdadeiros aprendizados, tudo que me arranhou o peito e a alma: foram encontrados nas experiências mais simples e, portanto, demasiadas humanas - como o primeiro beijo, o perdão de um amigo, o nascimento de minhas filhas, a ajuda abnegada, a dolorosa conversão de Valjean (Os Miseráveis, Victor Hugo), a misericórdia do bispo Bienvenu, o coração bondoso do príncipe Míchkin (O Idiota, Dostoiévski), meu joelho ralado no asfato, Neal Cassady atravessando a America, o sacrifício de uma mãe.
"Quando eu crescer, eu quero salvar o mundo", diz minha caçula aos 4 anos. Todos os livros que li e toda minha busca por redenção, tudo, tudo: está justificado em mãos pequenas e um coração puro. Bem na minha frente... E dança e ri!
A necessidade de aprovação, de formar parágrafos esbeltos - bem construídos como uma igreja gótica -, frases de efeito ou de encontrar culpados: desaparece. O inferno não são os outros porque seria o mesmo que assumir que o paraíso também são eles. Seria delegar a outrem minha existência, seria não existir, seria me acovardar como um verme.
O Google não é oráculo. O "conatus" é a força que nos alimenta e nos move. É o motor que nos faz levantar da cama todos os dias; que nos impede de estourar os próprios miolos; que nos permite sobreviver a um campo de concentração nazista ou brasileiro; que nos faz tentar de novo. Albert Einstein acreditava em Deus e em Spinoza.
E qual é o combustível do conatus? O propósito. O que alegra um, entristece outro. O que estimula um, entedia outro. Não há fórmulas.
Valentina, 6 anos, é mais tímida, mais precavida, e a gente precisa incentivá-la, apoiá-la mais para as experiências da vida. Isadora, 4 anos, é completamente destemida, praticamente uma super-heroína, é gasolina e, como pai, a ideia não é riscar um fósforo sobre ela, né?
E outro problema também é a felicidade, que precisa ser definida. E é também por essa mesma razão que não existe definição. O conceito de felicidade — a quem o poeta alemão Goethe chamava de “a deusa das pessoas vivas” — é pessoal e intransferível.
Primeiro sabe-se quem se é, e depois parte-se para a busca do seu sentido. Por isso, levanta o bundão do sofá e descobre. Para de culpar a mamãe ou o papai ou a vovó! Descobre o teu propósito e caminha com ele até o fim - com a cabeça erguida -, mesmo que seja por um vale de lágrimas.
"Viver não tem cura" (Paulo Leminski).