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Negros têm mais chance de serem abordados de forma violenta pela polícia

Nove em cada dez brasileiros reconhecem que negros têm mais chance de serem abordados de forma violenta

Foto: ONU Brasil
Pessoas negras
Cerca de 76% dos entrevistados de cor negra afirmaram conhecer alguém que já sofreu preconceito

O primeiro webinário Fórum Data Favela, com a organização da Central Única das Favelas (CUFA), do Instituto Locomotiva e da UNESCO no Brasil, apresentou na quarta-feira (17 de junho) dados inéditos da pesquisa “As Faces do Racismo”.

O levantamento aponta as desigualdades que os negros enfrentam para entrar no mercado de trabalho e para ter acesso e oportunidades de estudo.

Também revela que nove em cada dez brasileiros reconhecem que pessoas negras têm mais chance de serem abordados de forma violenta pela polícia.  A pesquisa pode ser acessada aqui. 

Participaram desse encontro virtual a diretora e representante da UNESCO no Brasil, Marlova Noleto; o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles; o fundador da CUFA, Celso Athayde; o presidente da CUFA Global, Preto Zezé; a presidente e fundadora da Feira Preta, Adriana Barbosa; a representante do Frente Favela Brasil, Anna Karla Pereira; e os atores Bruno Gagliasso e Hélio de la Peña.

Neste primeiro webnário, os convidados debateram como o racismo tem se manifestado na sociedade e os principais desafios para superá-lo.

Segundo a pesquisa apresentada, cerca de 76% dos entrevistados de cor negra afirmaram conhecer alguém que já sofreu preconceito ou algum tipo de discriminação dentro do ambiente de trabalho.

O levantamento foi feito com 3.100 pessoas com idades entre 16 e 69 anos, de todos os estados do país, nos dias 4 e 5 de junho.

“É urgente promovermos esse debate, com dados concretos como os que nos traz o Instituto Locomotiva, que mostram a desigualdade e o racismo estrutural da sociedade brasileira. Precisamos investir em uma agenda de inclusão e da igualdade”, destacou Marlova Noleto, diretora e representante da UNESCO no Brasil.

“A educação e a cultura têm um papel transformador neste processo e podem contribuir para mudar significativamente a realidade. Precisamos fortalecer as políticas públicas de inclusão e combate ao racismo, inclusive com ações afirmativas. Temos o compromisso de construir uma sociedade inclusiva, onde ninguém seja deixado para trás.”

Dados da pesquisa mostram que 91% dos entrevistados entendem que uma pessoa branca tem mais chances de conseguir emprego que uma negra.

A maioria dos entrevistados, cerca de 66%, diz ter chefes brancos e 46% da população reconhece ter pouca ou nenhuma diversidade em seu ambiente de trabalho. De acordo com o estudo, trabalhadores não negros ganham, em média, 76% a mais que os negros.

Ao apresentar a pesquisa, Renato Meirelles observou: “ganho mais do que um negro com 42 anos. Ganho muito mais do que uma mulher negra com 42 anos.

Ganho mais porque na ‘corrida dos 100 metros’ eu queimei a largada. Isso significa que a cor da minha pele e o fato de ser homem, fez com que saísse na frente na luta do chamado ‘vencer na vida’. Isso reflete os dados apontados na pesquisa que escancaram a desigualdade racial no Brasil.”

Para Celso Athayde, “a primeira coisa que temos que reconhecer é que somos diferentes. Para que nós negros, que somos maioria, possamos tirar proveito dessas diferenças e equalizar o nosso lugar na sociedade. Para que um dia a gente possa então parar de largar em desvantagem nessa corrida”.

Abaixo, a opinião de alguns dos convidados do Fórum Data Favela

Adriana Barbosa, presidente e fundadora da Feira Preta

“Passo a me reconhecer negra pelo olhar do outro. Desde a época da escola. Então me engajei no movimento negro e na cultura negra, através do audiovisual, então a busca pela representação negra começou a pautar minha vida, fazendo com que eu me tornasse uma grande empreendedora da cultura e da representatividade negra. Com esse tipo de busca, vejo cada vez mais jovens negros, principalmente nos grandes centros urbanos, com uma maior autoestima em relação a sua cor de pele. Precisamos falar sobre o legado que essa juventude com consciência pode nos trazer. Como essa juventude vai reconstruir o nosso futuro”.

Bruno Gagliasso, ator

“Quero colaborar para ampliar o debate sobre as questões que envolvem o racismo. Ao acompanhar os dados da pesquisa ‘As Faces do Racismo’, senti dor, raiva por notar que esses dados estão entre nós há muito tempo. Sinto que as pessoas ainda não acreditam nem notam o que continua acontecendo. Anseio por ações concretas contra o racismo. Quero ajudar nesse sentido. Hoje tenho dois filhos negros e em breve terei um filho branco. Quero propagar a todos os três que somos iguais”.

Hélio de la Peña, ator.

“Creio que a educação é a melhor ação concreta para que as pessoas passem a entender o racismo. Digo isso, porque minha mãe foi uma professora que me orientou a estudar e foi através da educação que conquistei aprendizado e tornei-me uma exceção no contexto do racismo. Mas, reforço que não precisamos pensar na exceção, mas sim no racismo como um todo”.

Encontros Fórum Data Favela

O Fórum Data Favela já tem programados outros três webinários, todos às quartas-feiras. Confira a agenda:

24/06 – “Tecnologia nas favelas e a colaboração das organizações diante dos impactos da pandemia”

01/07 – “Racismo e o desenvolvimento econômico”

08/07 – “Os desafios da favela após a COVID-19”