Katherine Coleman Goble Johnson tinha apenas um lápis, uma régua de cálculo e a mente, o bastante para realizar os cálculos matemáticos capazes de levar o homem à Lua, permitir à Apollo 11 pousar no satélite em 1969 e, após o passeio lunar de Neil Armstrong, garantir seu retorno à Terra.
Sua matemática já havia ajudado a planejar o voo bem-sucedido de Alan B. Shepard Jr., que se tornou o primeiro americano no espaço, a bordo da espaçonave Mercury, em 1961.
No ano seguinte, ela também ajudou a tornar possível que John Glenn, na Mercury Friendship 7, se tornasse o primeiro americano a orbitar a Terra.
Ela fez contribuições fundamentais para a aeronáutica e exploração espacial dos Estados Unidos, em especial em aplicações da computação na Nasa.
Johnson era uma das centenas de mulheres com educação rigorosa, de capacidade ímpar e ainda assim sem grande notoriedade que, muito antes do movimento feminista moderno, trabalhavam como matemáticas da Nasa.
Mas não foi apenas o sexo que a manteve muito marginalizada e muito ignorada: Katherine Coleman Goble Johnson, uma nativa da Virgínia Ocidental que iniciou sua carreira científica na era de Jim Crow, também era afro-americana.
Na velhice, Johnson tornou-se a mais famosa do pequeno grupo de mulheres negras - menos de 40 - que, no meio do século, serviram como matemáticas para a agência espacial e seu antecessor, o Comitê Consultivo Nacional de Aeronáutica.
A história foi contada no filme de Hollywood de 2016 "Estrelas Além do Tempo" ("Hidden Figures", no título original), baseado no livro de não ficção de Margot Lee Shetterly com o mesmo título, publicado naquele ano.
Katherine nasceu em 1918, pais Joshua e Joylette Coleman, em White Sulphur Springs, West Virginia, condado de Greenbrier. Uma entre cinco filhos, seu pai trabalhava como madeireiro, agricultor e carpinteiro no Hotel Greenbrier. Sua mãe era ex-professora.

Katherine Johnson
Muito cedo, Katherine mostrou talento para matemática e seus pais enfatizavam a importância da educação para os filhos. Como o condado de Greenbrier não oferecia escola para estudantes negros após a oitava série, as crianças da família foram para o ensino médio no condado de Kanawha, no chamado Instituto, onde hoje é a universidade de West Virginia.
Em 1939, Katherine se tornaria a primeira negra a se dissociar da graduação na West Virginia University, em Morgantown e a única mulher entre três estudantes negros selecionados a integrar a graduação depois da decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, que decidiu separar as escolas e universidades para negros e brancos.
Desde 1979, antes de se aposentar da NASA, sua biografia tem lugar de destaque entre a lista de negros pioneiros em ciência e tecnologia.
Em 24 de novembro de 2015, o então presidente Barack Obama incluiu Katherine na exclusiva lista de 17 estadunidenses que receberam a Medalha Presidencial da Liberdade e seu nome foi citado como exemplo pioneiro de mulheres negras na ciência, tecnologia, engenharia e matemática.
"Depois de uma vida inteira alcançando as estrelas, hoje, Katherine Johnson pousou entre elas. Ela passou décadas como uma figura oculta, quebrando barreiras nos bastidores. Mas até o final de sua vida, ela se tornou uma heroína para milhões - incluindo Michelle e eu.", divulgou o ex-presidente Obama em sua conta no Twitter.
Barack Obama e Katherine Johnson - Foto: Arquivo pessoal/Obama
Ela "ajudou nossa nação a ampliar as fronteiras do espaço", disse o administrador da Nasa, Jim Bridenstine, em comunicado, "enquanto fazia grandes progressos que também abriram portas para mulheres e pessoas de cor na busca humana universal de explorar o espaço.”
Como a própria Johnson gostava de dizer, seu mandato em Langley - de 1953 até sua aposentadoria em 1986 —foi "uma época em que os computadores usavam saias".
A morte de Katherine Johnson foi divulgada nesta segunda-feira, 24 de fevereiro.