A Extremo Sul Ultramarathon 2019 chegou ao final neste sábado (16 de novembro).
Em uma faixa de areia desértica beirando as águas do oceano Atlântico e tendo como companhia o soprar do vento, o quebrar das ondas e a própria mente, os 41 ultramaratonistas percorreram os 226 quilômetros da competição que ocorreu de 14 a 16 de novembro.
A prova teve sua largada na quinta-feira (14), às 11h10min, da Avenida Brasil, na cidade do Chuí (RS). Em seguida os atletas percorreram a Barra do Chuí, a Praia do Hermenegildo em Santa Vitória do Palmar (RS), até a linha de chegada, na Praia do Cassino, no município do Rio Grande (RS).
A Extremo Sul Ultramarathon é organizada pela empresa Osmose Promoção de Eventos Turísticos Esportivos e recebeu, nesta edição, 38 atletas brasileiros, duas argentinas e um português. Destes, 17 abandonaram a competição.
As premissas da organização são, além de proporcionar a associação da prática esportiva ao turismo de experiências e a momentos de autoconhecimento, trazer conforto e segurança aos participantes. O organizador da prova, o português Paulo Garcia, fez um balanço positivo da ultramaratona.
“Este ano foi uma prova bem-sucedida. Tudo transcorreu muito bem, não tivemos acidentes, os voluntários foram fantásticos, as bases de apoio estavam preparadas e os participantes da prova se sentiram muito seguros, acolhidos e abraçados. O lugar de chegada favoreceu a prova, tivemos mais alegria e mais dinâmica com o público. A Extremo Sul Ultramarathon foi feita para continuar. Estou muito satisfeito e com sentimento de dever cumprido”, concluiu Paulo.
Brasileiro deficiente visual é recordista mundial
O paratleta, deficiente visual e ultramaratonista brasileiro Vladmi Virgílio dos Santos, 48 anos, natural da cidade do Rio Grande (RS), percorreu, durante 47h08min, os 226 quilômetros sem o auxílio de um corredor guia.
Enrolado com uma bandeira do Brasil no corpo, o atleta, emocionado e sorridente, cruzou a linha de chegada neste sábado (16), às 10h18min, sendo o décimo primeiro competidor a cruzar a linha de chegada.
Vladmi Virgílio dos Santos - Foto: Rafael Piva
“Sacrifiquei muito meus pés, foram vários riscos enfrentados e superados durante o trajeto. Mas, no fim, graças a Deus, tudo deu certo. Ferimentos daqui dois, três dias estão curados. Mas a minha conquista é eterna”, disse o ultramaratonista que perdeu a visão aos 34 anos e tem a corrida enraizada em sua vida desde a infância.
No ano de 2016, Vladmi havia batido o recorde do francês Clement Glass, na mesma modalidade, percorrendo 69 quilômetros em 9h15min, também na competição Extremo Sul.
Vladmi já percorreu os desertos de Atacama (Chile), do Saara (África), de Gobi (Ásia) e da Antártida e é uma figura conhecida em todo o mundo.
“Me superei a cada momento na prova, me sacrifiquei muito para chegar ao fim”, comentou o atleta, ressaltando: “na solidão da praia eu me encontro. Eu sinto uma espiritualidade tão forte, como se nada pudesse me atingir. Algo que sempre levo comigo é: não importa o que tiraram de você, faça o melhor com o que te restou".
Recorde da competição
Pela primeira vez participando da competição, o português João Oliveira, 41 anos, considerado um ultramaratonista renomado que já realizou dezenas de provas e carrega títulos e recordes em sua bagagem de experiências, marcou a Extremo Sul Ultramarathon com um novo recorde da prova.
Após a largada, o competidor se manteve focado e cumpriu a competição, percorrendo os 226 quilômetros do trajeto em 27h45min, chegando ontem (15), às 14h55min, diminuindo o recorde da prova que era de 29 horas e 29 minutos do brasileiro João Schena, subindo ao pódio como primeiro colocado.
Segundo o ultramaratonista, essa foi uma das provas mais difíceis que ele percorreu durante sua jornada de corridas de longas distâncias.
“É uma prova difícil. Diria que foi uma das provas mais complicadas que fiz, pois a cada passo que eu dava era cada energia que não voltava. E depois, em termos de concentração, a força psicológica era ao extremo. Do começo até o final da prova só enxergamos uma paisagem, o mar e a areia. É cansativo visualmente. Ou seja, o indivíduo precisa ser forte psicologicamente ou ele é derrotado por ele mesmo”, relatou o português, campeão da prova.
Além disso, João usou a estratégia e o foco para vencer a competição. Ele foi o último a sair da largada e tomou a liderança da prova no décimo sétimo quilômetro, utilizando diferentes tipos de ritmos até assumir de vez a competição.
“Eu estava enfrentando um desafio totalmente diferente e eu tinha um objetivo principal que era de bater o recorde. Eu não tive sono, não tive perda de nada. Eu estava tão focado que, por vezes, eu não escutava o barulho do mar”, comentou o campeão.
O ultramaratonista considerou a prova ideal para aqueles que querem reforçar o psicológico e o sentimento de superação. “Aqui se supera tudo. Supera a distância e supera a força psicológica”, concluiu João.
Superação feminina
Este ano, a prova ficou marcada pela representação e superação feminina. Durante todo o percurso, as mulheres mantiveram-se serenas, aparentando desenvolver a melhor estratégia para dosar a energia. As desistências, que foram de três mulheres, ocorreram por motivos de saúde. Além disso, elas conquistaram uma ótima colocação na categoria geral, consecutivamente o terceiro, quarto, quinto e nono lugar.
Ao cruzarem a linha de chegada, a energia feminina era evidente e contagiante.
A vencedora do feminino da Extremo Sul do ano passado, a catarinense da cidade de Indaial Ivoneti Wild, 45 anos, é bicampeã da prova Extremo Sul na sua categoria. A atleta bateu o recorde na competição, que era da carioca Cleide Marques, que em 2016 completou a Extremo Sul em 37h19min, e concluiu os 226 quilômetros em 33h50min.
Ivoneti Wild - Foto: Rodrigo Kaspary
“Estou me sentindo muito feliz, esse recorde da prova no ano passado eu mesma coloquei para mim, que eu queria completar a prova em 35 horas e durante o ano eu treinei muito para que eu conseguisse alcançar esse objetivo. Com certeza eu estou muito feliz de baixar meu recorde e de ser bicampeã da prova. Esse pensamento eu tive durante todo o percurso, durante esses dois dias, e isso me deixou forte e quando o pensamento estava em minha cabeça de forma negativa procurava mudá-lo e me mantinha focada no que eu queria buscar, no objetivo final”, disse a campeã Ivoneti.
A ultramaratonista também pontuou que o reflexo positivo da colocação das mulheres na competição é fruto de muita disciplina e superação. “Eu acredito que nós mulheres tenhamos bastante disciplina, organização e planejamento. Ainda mais que em ultramaratonas, a faixa etária que as mulheres possuem demonstram serem participantes com mais experiência, então elas acabam conseguindo ver que elas são capazes de se superar, de conquistar coisas que talvez antes elas não conseguiriam, seja uma prova de cinco ou dez quilômetros. Eu tenho certeza que as mulheres estão vindo fortes e viemos mostrar que somos capazes de muito mais”, concluiu Ivoneti.
Classificação geral:
1º João Oliveira (Portugal)
2º Wagner Zanzi Martins (Santa Catarina)
3º Ivoneti Loes Wild (Santa Catarina)
4º Maria Eugenia Challiol (Argentina)
5º Rosana Almeida (Rio Grande do Sul)
6º Sérgio Cedano e Adilson Hertel (São Paulo e Santa Catarina)
7º Moisés Carmona Torres (Paraná)
8º Jorge Coentro (Brasília)
9º Cleide Marques (Rio de Janeiro)
10º Sandro Cassuriaga (Rio Grande do Sul)
11º Vladmi Virgílio (Rio Grande do Sul)
12º Eduardo Pinto (Rio de Janeiro)
13º Marcos Rosa (Rio Grande do Sul)
14º Christian Vicente (Rio Grande do Sul)
15º Thiago Willians (Brasília)
16º Sérgio Souza (São Paulo)
17º Alex Mello Azambuja (Rio Grande do Sul)
18º Nelsi Strelow (São Paulo)
19º Ana Matilde Fauat (Paraná)
20º Ariovaldo Júnior (Espírito Santo)
21º Marcos Dias e Michel Lourenço (Rio Grande do Sul)
22º Jean de Moraes (Santa Catarina)