Eu fiquei relutando dentro de mim para falar aqui sobre os animais da minha vida, porque dói sentir saudade deles, mas acabou de acontecer uma cena que me fez sentar na frente do computador e enfim falar sobre estes seres maravilhosos que compartilham a vida com a gente (pena que sempre por pouco tempo demais).
Nós temos aqui em casa três salsichas marrons (dachshund, eu sei...) – Janis Joplin, a mãe e Elvis Presley (na foto) e Bob Marley, irmãos da mesma barriga.
Eles acabaram de fazer uma manifestação para que eu abrisse a porta do quarto do meu filho para eles entrarem, subirem na cama e o lamberem. Eles gostam especialmente das costas e das pernas. Imagino que nas pernas deva ter um plus, uma cosquinha na língua por causa dos pelos de Eric.
Pois bem. Estes três maluquetes, que parecem pokemons me seguindo pela casa, são três figuras impagáveis, cada um bem diferente do outro.
Chegamos à conclusão, eu e meu filho, que Bob (na foto, o cachorro mais doce do mundo), que é magrinho e ágil, acha que é um gato; Elvis, que é fortão e gosta de dar umas mordidas, acha que é um rottweiler; e Janis (está até melhor...) que é metida, acha que é gente.
Eles são alegria, ciúmes, amor, graça, energia, felicidade, carinho e, como não param de pensar em comida, uns interesseiros...
Eu estava relutante porque agora mesmo meus olhos se enchem de lágrimas.
Não sei como será quando eles não estiverem mais comigo.
Eles me dão tanto, preenchem minha vida de tantas formas (inclusive com pelos curtos e marrons em tudo), me ajudaram a superar a ausência de minha mãe e cada vez que eu choro me consolam, olham bem nos meus olhos e perguntam: “o que é que há?”.
Janis (foto de quando estava mais jovem, ela não ia querer outra...) então é uma verdadeira amiga mulher, daquelas que ficam ao seu lado, vão fazer um chá para te acalmar (lembrei agora que quando criança, quando a gente se assustava, ou chorava muito, alguém ia buscar água com açúcar, para acalmar).
E é tão bacana como eles gostam de receber visitas, e até entram voluntariamente no banheiro para eu abrir a porta. Janis então, fica no meio da conversa, batendo papo, como uma anfitriã muito bem educada e indignada, com razão, quando não a cumprimentam direito ao entrar aqui em casa.
Mas meus dogs são o capítulo atual da minha vida com os bichos.
Sempre com eles
Recentemente me dei conta de que sempre tive bichos, não humanos, perto de mim.
Na infância do meu filho uma leva enorme de hamsteres.
Na minha infância uma infinidade de animais.
Olha eu aí pronta para ir ao carnaval, na frente da primeira casinha dos micos. Banguela, zoiúda, feliz...
Meu pai era louco por bichos.
Menino nascido em São Félix, criou micos (saguis) e colocava neles nomes de grandes líderes, generais da Segunda Guerra Mundial.
Lembro-me de de Gaulle, um mico bonito, alto, ombros largos, inteligente e elegante (Charles de Gaulle foi general, político e estadista francês que liderou as Forças Francesas Livres durante a Segunda Guerra Mundial. Mais tarde fundou a Quinta República Francesa em 1958 e foi seu primeiro presidente, de 1959 a 1969. Só para situar).
Houve também Jonhson (não consegui nada sobre ele na internet). Esse era um mico gordo, zangado, mau humorado, brabo, que atacou o pé de minha irmã quando ela entrou numa das casas que meu pai construiu para eles. Lembro até hoje da cena... Ninguém gostava dele.
Mas meu pai não se limitava aos micos. Ele tentou criar um gato do mato que era o terror da casa quando se soltava. Acabou sendo doado ao zoológico. Uma cobra jiboia, que não durou um dia lá em casa porque minha avó desmaiou assim que a viu chegar.
Como na nossa casa havia quintal, tivemos galinhas e galos, patos, pacas, e muitosss gatos, a maioria deles, meus. Mas antes de falar sobre a gataria, que eu amo, quero falar de Mônica, minha coruja. Sim, uma corujinha...
Ela chegou lá em casa pelas mãos do meu padrinho Rubens, que tinha uma fazenda em Catu. Lembro da expressão dele de felicidade ao entregar a meu pai a corujinha que havia caído do ninho.
Ela era linda... e quem cuidava dela era eu. Não sei que idade tinha. Uns oito, nove anos. Eu a alimentava com pedacinhos de carne, e a colocava para dormir numa “caverninha” que fiz com livros na estante...
Infelizmente Mônica comeu um inseto envenenado e morreu bem na minha frente, no pátio de casa. Eu, na minha ingenuidade, tentei dar leite. Nunca chorei tanto em minha vida. Juro. Chorei o dia inteiro, de forma inconsolável.
Hoje saberíamos que não era possível criar uma coruja em casa, por todos os motivos. Mas para a gente era o caso de dar uma casa a ela, que ficou órfã.
Na verdade nunca criamos pássaros (fora galinhas e patos), porque não queríamos privá-los da liberdade de voar. Uma vez tivemos um papa capim, demos o nome de Joe, mas eu e meus irmãos – Gina e Roberto – chegamos à conclusão de que não queríamos que Joe ficasse dentro de uma gaiola e o soltamos, desejando que ele conseguisse se cuidar bem e desejando que voltasse de vez em quando para a gente saber que estava bem e poder dar uma comidinha a ele.
Na nossa fantasia, ele voltou uma vez... Não sei se foi verdade, ou apenas no que queríamos acreditar.
Os gatos
Amo gatos e fico muito chateada quando falam mal deles.
Os cachorros são espetaculares, mas os gatos também o são, do jeito deles.
Eles são felinos, não vivem em bandos. Como querer que ajam como cachorros, que vivem em matilhas?
Minha primeira gata foi Diana (coloquei o nome por causa da Deusa da Caça romana). Uma pé-duro linda, preta e branca, com a boquinha rosa, olhos verdes e unhas muito afiadas. Eu, criança, vivia arranhada. Ela era brava.
Tivemos Salomé, toda tigrada, e Igor, uma gatão lindo, peludo, branco, manso...
E os siameses Oros (um gato grande e muito gente boa) e minha paixão absoluta, a siamesa zarolha, charmosa, inteligente e linda Charlotte, que viveu 21 anos.
Todos deixaram marcas das suas patinhas na minha vida e me ensinaram muito sobre muitas coisas, como se responsabilizar pelo bem estar de alguém que você cuida, sobre a morte, sobre amizade sincera, sobre amor, e me fizeram muita companhia, aplacaram minha solidão num mundo cheio de humanos complicados.