Você já deve ter visto e algum momento, em algum lugar de Salvador, um ‘macaquinho’ correndo pelos fios dos postes. Esses animais são os saguis, uma das espécies de animais silvestres que mais se adaptaram à urbanização e estão em constante contato com os humanos em nossas cidades.
Originalmente os saguis são animais típicos dos biomas Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica Costeira, todos muito presentes no Nordeste brasileiro. Em Salvador, as espécies mais comuns são o sagui de tufo branco e o de tufo preto.
Esses seres são arbóreos (vivem em árvores) e eventualmente utilizam o solo para transitar em áreas desprovidas de vegetação. Se alimentam principalmente de frutas e insetos, mas são capazes de se adaptar muito bem à cidades, onde encontram alimento abundante.
A manutenção dos saguis na natureza é muito importante no controle de população de insetos, que fazem parte da sua dieta. Além disso, é uma espécie útil para o desenvolvimento de pesquisas epidemiológicas e também são dispersores de sementes, o que facilita o desenvolvimento de áreas de vegetação.
Risco de contágio
Eles também são encontrados comumente em parques urbanos. No entanto, existe um risco no contato direto com os saguis. Por possuírem uma genética muito parecida com a dos humanos, o contato através de alimentos, por exemplo pode ser fatal para esses animais, já que muitas vezes nós humanos podemos portar vírus que podem ser fatais para eles.
Apesar de ser pouco comum, a transmissão de doenças pode ser um risco real. A maior recomendação é que não se busque adotar esses animais ou domesticá-los.
Em 2018 houve um surto de febre amarela e muitos cidadãos, por falta de informação, passaram a caçar e matar micos. Na verdade, esses animais são muito úteis justamente para indicar uma incidência de doenças. Mas eles não transmitem para as pessoas. A principal forma de transmissão é através do mosquito e portanto, os micos são tão vítimas quanto os humanos.
Por isso, é sempre necessário recorrer ao Centro de Controle de Zoonoses local para sanar qualquer dúvida ou resolver qualquer problema que envolva animais silvestres. Em Salvador também existe o SASE, o Setor de Animais Silvestres e Exóticos, no Hospital Veterinário da UFBA, onde é realizado o atendimento a estes animais feito por profissionais voluntários e estudantes supervisionados.
Os saguis são arbóreos (vivem em árvores) - Foto: Pixabay/Creative Commons
Tráfico de animais silvestres
Em muitos lugares esses seres são considerados “exóticos”, e isso só potencializa um problema que ameaça a espécie o tráfico desses animais, que são levados em grande número, justamente da região Nordeste, para outros lugares do mundo.
O tráfico de animais silvestres é a terceira atividade ilegal que mais movimenta dinheiro no mundo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e de armas. No Brasil, essa atividade têm um forte impacto sobre a continuidade das espécies de animais.
Em março deste ano, uma ONG, o Projeto Mucky, resgatou 68 filhotes de saguis em operação realizada pela Polícia Ambiental de São Paulo, em Osasco, no combate ao tráfico de animais silvestres.
O sagui é uma das principais espécies que são alvo dessa atividade e isso aumentou a distribuição desse animal para regiões nas quais eles não são comuns. Isso pode gerar consequências perigosas para a fauna local, como por exemplo, a supressão da fauna nativa.
Também pode acontecer o aumento da transmissão de zoonoses, já que quando os animais são introduzidos em localidades diferentes do seu habitat natural, a sua alimentação passa a depender dos recursos que são disponibilizados pelos seres humanos e no contato pode haver transmissão de doenças.
Como vivem os saguis
Os saguis-de-tufos-brancos (Callithrix jacchus) também são conhecidos como sonhim, soim, sauim, saguim ou ainda mico. São uma espécie de macaco de pequeno porte do Novo Mundo. Hoje podem ser encontrados em partes das regiões Sudeste e Norte do Brasil, por causa do tráfico de animais silvestres, mas a origem dos “miquinhos” é nordestina..
Nossos saguis-de-tufos-brancos são primatas com peso entre 350 e 450 gramas. Têm pelagem estriada nas orelhas e mancha branca na testa. A coloração geral do corpo é acinzentada-clara com reflexos castanhos e pretos. A cauda é maior do que o corpo e tem a função de garantir o equilíbrio do animal. Quando é ameaçado ou está protegendo o seu território, o sagui emite guinchos muito agudos, alertando o grupo.
Eles vivem vive em grupos de 3 a 15 animais, formados por indivíduos reprodutores e não reprodutores, adaptando-se a uma área de coleta pequena. Alimentam-se de insetos, aranhas, pequenos vertebrados, ovos e pássaro, frutos e são também gumívoros (alimentam-se da goma exsudada de troncos que roem com os dentes incisivos inferiores, de árvores gumíferas). Essa goma serve de fonte de carboidratos, cálcio e algumas proteínas. O sagui despende cerca de 25 a 30% de seu tempo ativo procurando por alimentos.
Nas fêmeas, a maturidade sexual é atingida aos 18 meses e nos machos aos 24. O período de gestação varia entre 140 e 160 dias, depois de um ciclo estral de cerca de 15 dias. Nascem dois filhotes a cada gestação, os quais já não relativamente grandes.
Com duas semanas de vida começam a experimentar frutas maduras, sem deixar a amamentação (que vai até os dois meses). O pai ajuda carregando os filhotes que se agarram muito bem ao pai, sendo transferidos para a mãe na hora da alimentação. Aos 21 dias, os jovens começam a explorar um pouco o ambiente ao redor, mas andam nas costas dos pais até a idade de 6-7 semanas.
Os saguis de tufo preto, mico-estrela ou simplesmente sagui (nome científico: Callithrix penicillata) é uma espécie que faz parte do grupo dos "saguis do leste Brasileiro", que são as espécies de calitriquídeos típicos da Mata Atlântica, mas que ocorrem frequentemente no Cerrado e na Caatinga.
Essa espécie possui uma distribuição geográfica muito ampla, sendo encontrado nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Tocantins, Piauí, Bahia, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal, introduzido nos estados de Santa Catarina, Rio de Janeiro e Maranhão.
As florestas de galeria – que formam cooredores ao longos dos rios - são o principal habitat destes saguis, que se adaptam a áreas de floresta secundária ou altamente invadidas pelo homem.
São igualmente animais onívoros-insetívoros-gumívoros, alimentam-se de grande variedade de matéria vegetal, como sementes, flores, frutos, néctar e dos exsudatos das árvores. Comem também artrópodes (entre eles aranhas e escorpiões), moluscos, filhotes de aves e de mamíferos, anfíbios e pequenos lagartos.
São animais de pequeno porte, pesam em média 250 gramas, com comprimento de 17,4 cm. A cauda é anelada e mede 26,5 cm. O pelo é estriado no dorso e na cauda e uma mancha branca marca a testa. Das orelhas saem tufos longos de peloem forma de pinel, pretos.
A gestação é de 140 a 150 dias, nascendo de dois filhotes. É uma animal de hábitos diurnos, arborícola, ágeis e bons caçadores. Formam grupos compostos de dois a nove indivíduos.