Hoje, 31 de maio, é meu aniversário.
Fiz 57 anos às 7h5 da manhã.
Eu gosto de celebrar meus aniversários. Tem gente que não gosta. Acha que é um dia para lembrar que estamos ficando mais velhos ou mais perto da morte.
Eu sinto que celebro a mim mesma e à minha vida, e que é um dia de receber carinho e comer bolo e rir. Eu não encuco...
A vida para mim é uma experiência contínua da minha alma neste planeta incrível. Uma bola azul girando, uma entre infindáveis outras, num universo que não tem fim e eu saio pensando nestas coisas e a existência ganha outras dimensões.
Nasci em 1962 e assisti o homem chegar à lua grudada na TV preto e branco, sentada no chão da sala. Fui a única pessoa a fazer isso na casa. Tinha sete anos. Eu tenho uma banda totalmente nerd sci-fi que me leva a pensar na existência desse jeito também.
E porque para mim a vida é uma experiência contínua, e eu vejo o quanto é efêmera e como somos pequenininhos em relação ao Cosmo, eu não encaro envelhecer de maneira assim tão triste não.
Não vou dizer que não reconheço as mudanças e as perdas, que não tenho medo, que acho que será fácil se/ quando eu ficar velhinha. Mas há ganhos também.
Eu sou uma pessoa muito mais feliz do que era e com muito mais momentos de paz de espírito – estado ao qual eu aspiro sempre – do que tinha.
E me sinto mais forte, mais bem resolvida a respeito deste eterno conflito que a gente tem entre o mundo de fora e o mundo da gente, o mundo de dentro da gente.
Tá... a lataria está precisando de uns reparos aqui e ali. As bochechas de hamster que minha mãe tinha já apareceram em mim, minhas pernas bonitas estão precisando de cuidados especiais, se não vão virar dois abacaxis e a barriga... ah a barriga!... odeio com todas as minhas forças.
Há também a necessidade de perder peso, não é muito, mas eu era tão magrela que comia para engordar. Para mim é tão antinatural ter de fazer dieta...
Como eu dou presentes musicais nas minhas colunas de aniversário, agora, para a gente fazer uma pausa, curtir e voltar ao papo depois, lá vai, da velhinha Rita Lee, Saúde ...
Mas o que me motivou a falar sobre encarar o inevitável envelhecimento, coisa que acontece com todos os seres vivos, além do fato de estar fazendo aniversário, foi uma fake news/piadinha que circulou pelo WhatsApp.
Eu achei engraçada e acredito que reflete o que muitos pensam, mas não falam. E obviamente foi feita por alguém que “já entrou na faixa”.
É assim:
“Fomos reclassificados, olha que legal, não somos mais da terceira idade, nem idosos!
OMS reclassifica conceito de Jovem / Idoso
Anteriormente, uma Instituição Inglesa (Friendly Society Act) definiu, em 1875, que "Idosos" eram indivíduos a partir de 50 anos...
Diante da evolução da qualidade dos alimentos, das atividades físicas, hoje praticadas pela maioria das pessoas, e do avanço do número de pessoas que escolheram melhorar a alimentação, o que deu mais qualidade e aumentou a expectativa de vida, a Organização Mundial de Saúde (OMS), fez uma nova avaliação do conceito de ser Jovem, ter Meia Idade, e, ser Velho.....
1) Menor de idade: 0 a 17 anos;
2) Jovens: 18 a 65 anos;
3) Meia Idade: 66 a 79 anos;
4) Idosos: 80 a 99 anos;
5) Idosos de Longa Vida: maiores de 100 anos
Claro que quem tem 60 anos não se sente idoso e é empurrado para um clube do qual não quer fazer parte. Por que ser idoso te coloca no imaginário coletivo, e no seu próprio, na área da perda de muitas coisas legais. Gradativamente vai desqualificando você.
Pois é, justo você que batalhou tanto para ser você mesmo, enfrentou tantos desafios, conquistou tantas coisas, perdeu tantas outras e está aí, com cicatrizes, mas em pé, tendo aprendido qual é a da vida mesmo e muitas vezes sendo mais feliz do que era quando mais jovem.
Justo você, justo qualquer pessoa que consiga a proeza de sobreviver aos perigos da vida – porque só não envelhece quem morre antes – começa a ser tratado como uma pessoa que está perdendo as capacidades, faculdades mentais, o discernimento, além de deixar de ser atraente.
Para dar mais uma pausa/presente, porque a gente merece, do idoso Roberto Carlos, Emoções.
Mas sabe uma coisa que me deixa bem chateada, é que as próprias pessoas mais maduras se depreciam. Me irrita muito quando entram numas de dizer : “ah, queria ter os neurônios de um adolescente”, como se aquele fosse o momento perfeito, o ápice das capacidades, o mais operacional da vida. Só se for na Pré-história quando as pessoas morriam quase todas lá pelos 19, 20 anos.
Pois eu digo. Troco uma semana minha pela de um adolescente. Encaro aula de matemática, espinha na cara, crise existencial, incertezas no amor, briga com amiga, disputa com inimiga. Pode mandar ! Aposto que vou arrasar no videogame.
Agora eu quero ver um adolescente, ou mesmo mais velho, jovem adulto, ou mesmo mais velho, pode mandar... encarar as coisas que a gente administra every day e buscando sempre ter serenidade ...
“Concedei-me, Senhor a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar.
Coragem para modificar aquelas que posso e sabedoria para conhecer a diferença entre elas.”
Adoro este trecho da Oração da Serenidade
Bom. Mas perdendo a serenidade um pouquinho, quero contar um caso que me aconteceu e fazer o que finalmente vim fazer aqui : lançar minha campanha.
Estava eu com meu vestidinho lindo de crochê azul turquesa num workshop para o qual fui convidada por minha querida colega/amiga Suely Temporal, justo para entender mais sobre como utilizar a rede para virar o que quero ser daqui para a frente - má influencer da coroada – quando uma das pessoas que estava participando (que deve ter por volta de 35 anos, e que tem um instablog de moda plus size) no momento de falar sobre como estava sendo a experiência disse que era bacana ver gente da minha idade, vestida da maneira como eu estava, participando.
Eu chapei.
Como assim ?
Qual o problema com minha idade ?
Olhei para minha igualmente colega/amiga Cinthya Medeiros, sócia de Suely, e ela, que deve ter mais ou menos minha idade, estava morrendo de rir.
Só rindo mesmo...
Eu nem respondi nada e acabei ficando amiga de uma outra influencer, mais novinha ainda, uma menina massa que trabalha com decoração e me tratou de igual para igual, gente pra gente, sabe...
E aí eu fiquei pensando. OK, não devemos mesmo ter preconceito com pessoas que estão acima do peso, plus size como está na moda dizer. Mas o que dá o direito a ela, ou a qualquer pessoa de, especialmente advogando em nome da quebra do preconceito contra as pessoas gordas, fazer um comentário que claramente reflete o preconceito com idade?
E o mais louco é que você pode deixar de ser gordo, mas você nunca vai deixar de envelhecer, a não ser que morra antes, como eu já disse. Então, se você cultiva esse preconceito, é com ele que você vai ter de lidar no seu próprio futuro.
Então, em nome de todas as pessoas que hoje que vão da faixa da coroísse até os Idosos de Longa Vida, eu proclamo que está lançada a campanha contra a velhofobia !E para fechar com mais uma música que eu gosto muito e define o que eu sinto em relação à minha vida, do super gato idoso Ivan Lins, Daquilo que Eu Sei .