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Trânsito mata mais de 1200 crianças por ano no Brasil

Veja os principais riscos para as crianças no trânsito

Foto: Pixabay/Creative Commons
A criança é um dos atores mais frágeis no trânsito
A criança é um dos atores mais frágeis no trânsito

A informação é do Ministério da Saúde. Só em 2016 morreram 1.292 crianças no País em decorrência de acidentes no trânsito. 469 delas (36,3%) ocupavam veículos, 386 (29,9%) eram pedestres e 137 foram atropeladas por motocicletas (10,6%).

As maiores vítimas, em qualquer situação, tem de 10 a 14 anos, que representaram 545 mortes só em 2016. Como nesta faixa etária a criança já adquiriu mais independência, há menor vigilância dos pais ou responsáveis quanto aos procedimentos seguros no trânsito.

Não usar o cinto de segurança e atravessar a rua distraídos são alguns descuidos comuns. O mesmo fator atinge outra faixa etária, de cinco a nove anos de idade, representando 352 vítimas no ano.

Os números de crianças e adolescentes internados por acidente de trânsito também é alto. Em 2018, o Brasil registrou 11.037 internações, de acordo com o Datasus. Dessas, 3.596 representam meninas e meninos que se encontravam em condição de pedestre, 2.634 representam acidentes em que a criança ou o adolescente em motocicleta e 2.483 crianças em bicicletas.

A legislação brasileira recomenda que, até os 10 anos de idade, as crianças sejam transportadas no banco traseiro do veículo automotivo, usando cinto de segurança. E, até os sete anos e meio elas precisam usar um dispositivo de retenção veicular (bebê conforto, cadeirinha e assento de elevação).

Fatores de risco 

A Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) estabeleceu os principais fatores de risco para acidentes de trânsito, expostos em sua publicação Salvar Vidas.

-- Velocidade
-- Não usar sistema de retenção para crianças
-- Distrações
-- Velocidade
-- Não usar capacete
-- Dirigir sob efeito do álcool
-- Não usar cinto de segurança

O excesso de velocidade é uma das principais causas de acidentes de trânsito. Quanto maior é a velocidade de um veículo, mais tempo ele precisa para parar totalmente após o motorista acionar o freio. Além disso, quanto maior a velocidade, maior é o impacto em caso de colisão.

Devido a isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o limite máximo de velocidade em vias urbanas seja de 50 km/h.

De acordo com estudos, um pedestre atropelado por um veículo que circula até essa velocidade tem menos de 20% de chance de morrer em caso de atropelamento. Quando os automóveis circulam à 80 km/h, a probabilidade de morte é de quase 60%.

Usar a cadeirinha, o bebê conforto ou o assento de elevação é a única maneira segura para transportar crianças em veículos. De acordo com a legislação brasileira, é obrigatório o uso do equipamento de retenção para crianças de até sete anos e meio. Se a lei não for cumprida, o infrator deverá pagar uma multa de R$ 293,47, perde sete pontos na carteira de habilitação e tem o veículo retido para regularização.

Para cada idade, peso e altura de meninas e meninos, existe um equipamento correto a ser utilizado, que sempre deve possuir certificação o Inmetro e ser instalado corretamente. Saiba qual é o equipamento mais indicado para cada caso:

Quando usados e instalados corretamente, esses dispositivos reduzem em até 71% a chance de morte de uma criança em caso de acidente de trânsito.

Para dirigir carro ou moto, pedalar uma bike ou andar pela rua com segurança é preciso muita atenção o tempo todo. Qualquer distração pode provocar um acidente. Por isso, sempre que estiver no trânsito - seja como motorista ou pedestre - evite usar fones de ouvido ou o celular. Caso precise atender uma ligação ou responder uma mensagem, pare em um local seguro. Converse com as crianças e adolescentes sobre a importância de manter sempre atento olhos e ouvidos ao trânsito para evitar acidentes.

A criança e o trânsito

As principais características que tornam as crianças mais vulneráveis no trânsito são as seguintes:

Visão - A criança não enxerga como um adulto. Ela não tem a mesma amplitude de visão periférica que uma pessoa adulta tem. Devido a isso, os pequenos praticamente só enxergam o que está na frente deles.

Além disso, uma criança leva aproximadamente quatro segundos para que consiga perceber se um automóvel está parado ou em movimento.

Conceitos como "altura" e "distância" também são confusos para crianças. Por exemplo, um automóvel, que é menor, parece mais afastado que um caminhão, que é grande.

A mesma confusão acontece com os conceitos de "ver" e "ser visto". Se uma criança vê um automóvel, ela imediatamente acredita que também foi vista. Entretanto, isso nem sempre acontece, até mesmo em consequência à sua baixa estatura, que pode acabar deixando o pequeno fora do campo de visão dos motoristas.

Audição - Uma criança não ouve como um adulto. Ela não consegue detectar bem de onde provêm os sons e os ruídos da vida cotidiana a distraem, fazendo com que elas prestem atenção apenas nos barulhos que a interessam (algum colega a chamando, por exemplo).

Relação causa-efeito - A criança não compreende a relação causa-efeito. Com isso, ela entende que o automóvel pode parar imediatamente assim que motorista frear. Para ela, é incompreensível o conceito de que é preciso uma distância e um tempo para um veículo parar completamente após o motorista pisar no freio.

Imitação - As crianças tendem a imitar os adultos. Por exemplo, ela vê um adulto atravessando a rua e, imediatamente, acredita que ela também pode atravessar, sem compreender que, no trânsito, em alguns segundos a situação pode se alterar completamente.

Satisfação das suas necessidades - Para a criança, brincar, mover, chegar na hora na escola ou em casa, juntar-se aos seus pais do outro lado da rua ou recuperar a sua bola é mais importante que observar a circulação. Para isso, ela é capaz de correr para a rua sem observar antes se um carro está vindo.

Os acidentes têm consequências mais sérias com crianças e adolescentes porque seus corpos são mais frágeis que um corpo adulto. Isso acontece porque eles ainda estão se desenvolvendo.

Estudiosos do desenvolvimento infantil dizem que crianças menores de dez anos ainda não possuem habilidades motoras e cognitivas totalmente amadurecidas para perceber e para reagir de forma segura diante dos riscos e das regras que o trânsito dispõe.

Por causa de sua baixa estatura, em caso de atropelamento, por exemplo, o impacto de um veículo contra o corpo de uma criança atinge regiões da cabeça, pélvis e abdômen, que são muito frágeis do corpo humano, o que acaba aumentando as chances de lesões gravíssimas e fatais.

Além disso, crianças de até 12 anos ainda não possuem um desenvolvimento perceptivo-motor completo para transitarem de forma segura em vias públicas. Esse desenvolvimento se manifesta por meio da observação, da percepção e da interpretação adequada dos estímulos do ambiente. Isso tudo servirá como ferramentas que as ajudarão na tomada de decisão e ação eficientes e eficazes diante dos riscos.

Por isso, cabe aos pais, familiares, responsáveis e cuidadores desde cedo explicar os conceitos de segurança no trânsito para os pequenos e observarem as crianças durante os trajetos para perceberem se elas já estão preparadas para andarem sozinhas na rua com segurança.

Aprenda a evitar acidentes com crianças

No carro

Nunca saia de carro com crianças sem usar o bebê conforto, a cadeirinha ou o assento de elevação, nem mesmo para ir só até a esquina. Esteja sempre atento, pois muitas colisões acontecem próximas à área de destino e origem ou em ruas com baixo limite de velocidade;

Só use bebê conforto, cadeirinha e assento de elevação que possuam o selo do Inmetro ou a certificação americana ou europeia;

Siga sempre o manual de instrução dos dispositivos de retenção veicular, certifique-se que eles são apropriados a idade da criança e que se adaptem adequadamente ao seu veículo;

O cinto de segurança é projetado para pessoas com no mínimo 1,45m de altura. Se a criança ainda não atingiu essa altura, ela precisa usar o assento de elevação para evitar que se machuque gravemente em caso de acidente;

O airbag do passageiro pode machucar seriamente uma criança quando essa estiver sentada no banco da frente. Por isso, se for transportar uma criança em camionete, desative esse dispositivo;

Na rua

Dê o exemplo. Exerça o comportamento seguro como pedestre e ensine para as crianças: atravesse as ruas olhando para ambos os lados, respeite os sinais de trânsito e faixas para pedestres e, antes de atravessar na frente dos veículos, faça contato visual com os motoristas para ter certeza de que eles te viram;

Não permita que uma criança menor de 10 anos ande sozinha pela rua. A supervisão de um adulto é vital até que a criança demonstre habilidades e capacidade de julgamento do trânsito. Segure sempre sua mão, firme, pelo pulso, enquanto estiverem caminhando na rua;

Entradas de garagens, quintais sem cerca, ruas ou estacionamentos não são locais seguros para que as crianças brinquem;

Tenha certeza de que as crianças fazem sempre o mesmo trajeto para destinos comuns, como de casa para a escola. Acompanhe-as algumas vezes para identificar o caminho mais seguro e ensine-as a completá-lo de forma prudente e cuidadosa. Escolha o trajeto mais reto, com poucas ruas para atravessar;

Usar uma lanterna ou materiais reflexivos nas roupas da criança pode evitar atropelamentos durante a noite;

Ensine a criança a olhar para os dois lados várias vezes antes de atravessar a rua, a atravessa-la só quando estiver livre e continuar olhando para os dois lados enquanto caminha;

Explique para os pequenos que eles devem usar a faixa de pedestres sempre que possível. Mesmo na faixa, devem olhar várias vezes para os dois lados e atravessar em linha reta. Quando não houver faixa de pedestre, devem procurar outros locais seguros para atravessar, seja na esquina, em passarelas ou próximo a lombadas eletrônicas;

Explique o que significam os sinais de trânsito para meninos e meninas e diga que eles devem respeitá-los;

Fale para as crianças que elas não devem atravessar a rua por trás de carros, ônibus, árvores e postes. Ensine-as a fazer contato visual com os motoristas antes de atravessar a rua para ter certeza de que foi vista;

Explique a meninos e meninas que eles nunca devem correr para a rua sem antes parar e olhar se vem carro – seja para pegar uma bola, o cachorro ou por qualquer outra razão. Correr precipitadamente para a rua é a causa da maioria dos atropelamentos fatais com crianças;

Em estradas ou vias sem calçadas, diga às crianças para caminharem de frente para o tráfego (no sentido contrário aos veículos). Assim, elas podem ver e ser vista mais facilmente;

Peça para os pequenos terem atenção especial com carro que estão virando em uma rua ou dando ré;

Ensine meninos e meninas a caminharem em fila única sempre que estiverem com mais crianças;

Ao desembarcar do ônibus, diga para as crianças esperarem que o veículo pare totalmente para descer e aguardem que ele se afaste para atravessar a rua.

De bicicleta, skate ou patins

Ao brincar com bicicleta, skate ou patins, as crianças precisam de vigilância constante de um adulto. Além disso, essas atividades devem acontecer em locais seguros, como parques, ciclovias e praças, fora do fluxo de carros e longe de piscinas e sacadas;

Crianças devem sempre usar equipamentos de segurança (capacete, joelheira e cotoveleira) ao andar de bicicleta, skate ou patins. Verifique se os equipamentos possuem o selo do Inmetro;

No momento da compra de um equipamento de segurança, deixa que a criança escolha o modelo e a cor que mais lhe agradam. Isso fará com que seu uso seja mais prazeroso;

Verifique se o capacete está devidamente ajustado à cabeça da criança. O ideal é que fique centrado na parte de cima da cabeça, sem balançar para frente, para trás ou para os lados. Ajuste as correias para que ele fique firme, mas não apertado;

Converse com outros responsáveis para que eles convençam suas crianças a usarem o capacete também. Dessa forma, todas ficaram mais confortáveis ao usarem esse equipamento de segurança;

Para andar de bicicleta, as crianças devem sempre usar sapatos fechados e evitar cadarços folgados ou soltos;

Ao andar de bicicleta ao entardecer, é importante que as crianças usem materiais refletores na roupa, na bicicleta e nos equipamentos de segurança;

Equipe a bicicleta com refletores, espelhos e buzina;

Verifique se os pés da criança alcançam o chão enquanto ela está sentada no assento da bicicleta;

Ensine a criança a andar à direita dos veículos, no sentido do trânsito; a usar sinais de mão apropriados; respeitar os sinais de trânsito e parar em todos os sinais vermelhos; parar e olhar para os dois lados antes de entrar em uma rua; olhar para trás e esperar o fluxo de carros que vem antes de virar para a esquerda num cruzamento;

Realize sempre a manutenção da bicicleta: os pneus devem estar firmes e devidamente cheios, os refletores devem estar seguros e bem presos, os freios funcionando perfeitamente e as marchas movendo-se com facilidade;

No transporte escolar

Antes de contratar um prestador de serviço, verifique as condições do veículo e a documentação pessoal do motorista;

Busque referências sobre o prestador de serviço na escola, com outros pais, no sindicato dos motoristas ou no Detran (Departamento Estadual de Trânsito);

Exija que o embarque e desembarque das crianças sejam feitos com um monitor que as acompanha dentro da van e sempre pelo lado da calçada;

Tenha certeza de que as crianças são deixadas em frente à escola, sem necessidade de atravessar ruas;

Verifique as condições de higiene do carro e o número de cintos de segurança. Toda criança transportada deve usar, individualmente, o cinto de segurança ou a cadeirinha apropriada para seu peso;

Ensine a criança a ficar sentada enquanto o veículo estiver em movimento; sempre afivelar o cinto de segurança; não falar com o motorista enquanto ele estiver dirigindo; respeitar o monitor do veículo; descer do veículo somente depois que ele parar totalmente;

Sempre converse com a criança sobre o que acontece durante a viagem para avaliar se todas as medidas de segurança estão sendo realizadas.