(Me salte: me deixe, me largue, me poupe, não me aporrinhe, não me pegue não, não, não, me deixe à vontade)
Estava eu morrendo de saudades de escrever minha coluna, coisa que eu não fiz nos últimos tempos porque estava abafada fazendo um monte de outras coisas e, venhamos e convenhamos, para escrever assim de peito aberto tem de estar numa certa disposição existencial que o abafamento não permite...
Eis que meu cachorro Elvis Presley, um salsicha tamanho GG (eu digo que ele é um chouriça), me pica uma mordida na canela direita em plena quarta-feira antes de carnaval, porque ele é temperamental e mandão.
Mordida essa que complica a ponto de eu ter de ficar quatro dias internada no Hospital Aliança (onde fui extremamente bem cuidada, obrigada a toda a equipe), fazer uma pequena cirurgia para retirar tecido morto da ferida, tomar antibiótico na veia e depois ficar de molho em casa...
E aqui publicamente eu quero agradecer ao Dr. Mário Abreu, com quem faço trabalhos de comunicação e a quem, depois de um certo curativo passei a chamar de “meu malvado favorito”.
Dr. Mário identificou o problema em que eu tinha me metido, me deu uma série de esporros suaves mas eficazes, cuidou da minha internação, fez a cirurgia em minha perna, me acompanhou no hospital, fez alguns dos curativos (mesmo comigo esperneando e praguejando) enfim, cuidou de mim, essa mulher independente que às vezes se sente tão desamparada... (a ilustração ao lado é da artista Aitch)
Ele tem uma coisa que todo mundo devia ter, mas devia ser obrigatório em médicos : um bom coração. Obrigada...
Bom. Tudo isso acontecido, volto para casa e fico de molho com TV e computador, mas mesmo assim de molho em cima da cama, e claro, a cabeça começa a funcionar tur-bi-na-da-mente.
Resultado: 25 insights, saudade imensa de minha mãe, fragilidade e choro, pegadas no sono profundas e entregues, administração do estrago do antibiótico no estômago, exploração de Vera (minha babá) e do meu filho que cuidou bem da mãe.
Mas o mais difícil foi ter de explicar aos meus três cachorros – Janis Joplin, Bob Marley e Elvis Presley, todos salsichas – porque eles não podiam ficar perto de mim (Ilustração: Estúdio Lisa Bengtsson)
O olhar chocado e de incredulidade dos meninos e a pergunta estampada na cara de Janis – “você vai me contar o que está acontecendo ?” foram impagáveis.
Comecei então a repetir a palavra “dodói” e a mostrar do lado de dentro da grade que passou a nos separar, o curativo, para que eles entendessem que uma circunstância especial me levou a ter de limitar nossos contatos.
Bob chorou uma noite e um dia inteiros e se vacilar chora até hoje. Somos muito agarradinhos e ele é o ser mais doce que eu já conheci na minha vida.
Elvis, que já me pediu muitas vezes perdão de joelhos, não é muito de chorar mas fica ao lado de Bob na porta do meu quarto e faz festa sempre que levanto.
Janis, que é uma amiga com quem posso conversar tudo, e tem mais ou menos a mesma idade que eu, aguarda sempre atenta e faz carinho de forma delicada em meio ao furdunço dos meninos.
Enfim, eles entenderam. Mas ainda não aceitaram completamente. Sigo falando “dodói”!
Mas com tudo isso acontecendo e a cabeça turbinada refleti um bocado sobre muitas coisas e deste momento estão nascendo as “Crônicas Me Salte”, onde pretendo dar vazão ao que penso e sinto e, gostaria, que de forma divertida, possa dividir minha visão das coisas do mundo.
Penso em falar sobre o quanto detesto gente metida a besta e como não compreendo este mecanismo nas pessoas, o valor de um bom f-se mesmo que seja só mental (vai ver que é assim mesmo que vale).
Sobre que tempo é esse o tal do antigamente na cabeça do povo, sobre minha percepção de que tá todo mundo louco, oba ! no amor, e tentar entender como o consumismo está consumindo todas as coisas materiais e imateriais (A ilustração é uma colagem Rodrigo Pinheiro - Estúdio Past in Place).
No meio da madrugada listei uma série do que seriam novos/velhos pecados não colocados na lista oficial dos 7, coisas humanas que me incomodam muito : Falsidade, Oportunismo, Irresponsabilidade, Hipocrisia, Mediocridade, Vaidade, Arrogância, Insensibilidade, Crueldade, e tem mais ...
Mas fiquei pensando que ia ser um festival de textos com gosto meio amargo e me prometi quando criança nunca ser uma mulher amarga (e isso sempre me ajuda).
Então, vou seguir a corrente deste meu rio interno e sair escrevendo de coração aberto, da melhor forma possível, e compartilhar o meu olhar, neste meu momento de vida, sobre este mundo humano que sempre foi muito louco.
Venha saltar comigo!
Colagem do artista OejRum