O empresário Crispim Terral, de 34 anos, alega ter sido vítima de racismo na agência da Caixa Econômica Federal do Relógio de São Pedro, no Centro de Salvador.
Ele é dono de uma farmácia em Salinas das Margaridas e estava na agência bancária pela oitava vez para resolver um problema relacionado a dois cheques que voltaram. O caso aconteceu no dia 19 de fevereiro, mas tomou repercussão nas redes sociais nesta segunda-feira (25/2).
O empresário afirma que ficou esperando por mais de quatro horas para ser atendido.
"Fui surpreendido mais uma vez pelo senhor Mauro, gerente responsável pela minha conta naquele momento, que me atendeu de forma indiferente enquanto me deixou esperando na sua mesa por quatro horas e quarenta e sete minutos e foi atender outras pessoas em outra mesa. Indignado com a situação, me dirigi à mesa do gerente geral, o senhor João Paulo, que da mesma forma e ainda mais ríspida me atendeu com mais indiferença. Quando pensei que não poderia piorar foi surpreendido pelo senhor João Paulo com a seguinte fala: “se o senhor não se retirar da minha mesa, vou chamar uma guarnição”.
O empresário se recusou a sair da mesa do gerente, que chamou a Polícia Militar para retirá-lo à força.
Veja o vídeo
Por meio de nota, a CEF informou que "até o momento não foi identificada, por parte de nenhum dos seus empregados ou colaboradores, qualquer atitude de cunho discriminatório. A CAIXA repudia atitudes racistas ou de discriminação cometidas contra qualquer pessoa".
Uma nota do secretário de Segurança Pública Maurício Barbosa afirma que vai apurar o excesso de uso da força dentro da agência bancária.
Também por nota, a Polícia Militar da Bahia informa que Crispim se recusou a deixar a agência, mesmo após o término do expediente.
"Disse também que houve necessidade de empregar força proporcional, mesmo após diversas tentativas de conduzir o cliente sem o emprego da força. A polícia informou que, no próprio vídeo, é evidente a condução técnica dos policiais militares na ação".
Terral contou o que aconteceu, nas redes sociais; veja.
Deputados vão investigar
A Comissão Especial da Promoção da Igualdade da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) vai à Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) protocolar um ofício no sentido de cobrar a punição dos responsáveis pela violência cometida contra o empresário Crispim Terral, no último dia 19 de fevereiro, dentro de uma agência da Caixa Econômica Federal, no Largo do Relógio de São Pedro. O anúncio foi feito nesta terça-feira (26), no plenário da Alba, pela presidente da Comissão, a deputada Fátima Nunes (PT).
Encaminhar um ofício ao MP-BA para que investigue a conduta do gerente do banco que pediu a ação dos policiais militares, bem como realizar uma audiência pública no dia 21 de março, quando é comemorado o Dia Internacional de Combate às Discriminações, também estão nos planos da Comissão da Alba.
Na primeira reunião do Colegiado nesta 19ª legislatura, aprovou-se ainda o envio de convite à secretária estadual de Promoção da Igualdade Racial, Fabya Reis, para que apresente as ações e projetos do Governo do Estado na respectiva área.
A deputada Olivia Santana (PCdoB), que também integra a Comissão da Igualdade, afirmou nesta terça- feira que o caso de Crispim é mais um de "racismo estrutural", de alguém que foi ao banco reclamar direitos, mas teve a dignidade desrespeitada. "O que é de pasmar é que a polícia que existe para garantir a proteção de todos, diante de um cliente, um microempresário negro, resolve acatar o comando do gerente, branco, e levá-lo à delegacia, sair arrastando esse rapaz diante da sua filha".
Deputado Jacó (à direita, de gravata vermelha): Reflexo do que ocorre no país
Para o deputado Jacó, que também voltou à pauta do racismo em sua fala no plenário da Alba nesta terça, o que aconteceu com Crispim, em Salvador; Pedro, no Rio de Janeiro; e tantos jovens na periferia que são dizimados, é um reflexo do que ocorre no País de uma maneira geral: reflexo de uma campanha presidencial que teve a arma como símbolo e estimulou o ódio e a perseguição.