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Olívia Santana é a primeira deputada estadual negra da Bahia

"Espero que essa polêmica toda sacuda a sociedade baiana", disse ela

Quando Olívia Santana (PC do B), de 51 anos, tomar posse, em 2019, será a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira a Assembleia Legislativa da Bahia, o Estado mais negro do País, com 81,4% da população autodeclarada descendente de africanos (60% pardos e 21,4% pretos). Quando questionada sobre a importância de sua eleição, riu da forma "como as pessoas se chocaram", mas disse esperar o dia em que isso mude. "Queremos ser o comum, não o inusitado", afirmou.

"Espero que essa polêmica toda sacuda a sociedade baiana. O racismo está no Brasil todo, mas na Bahia deveria ser comum que mulheres negras ocupem espaços de poder na política. Mas o que vemos é que isso é incomum".

Gastando R$ 150 mil na campanha, sendo R$ 80 mil do fundo partidário, R$ 35 mil do fundo eleitoral e o restante de doações, a ativista obteve 57.775 votos no domingo, dia 7, e ficou em 31º na lista dos 63 eleitos para a próxima legislatura baiana.

Até então, sua única experiência no Legislativo foi como vereadora de Salvador. Ficou 10 anos na Câmara Municipal, por dois mandatos e meio, e criou o Dia Municipal de Combate à Intolerância Religiosa, homenagem a uma ialorixá morta após ataques de evangélicos.

Começou a carreira política no movimento estudantil, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde cursou pedagogia e fundou a União de Negros pela Igualdade (Unegro) - entidade que tomou corpo e virou braço antirracista do PCdoB, único partido no qual Olívia militou. 

Em 2001, em nome da entidade, discursou no Fórum das Noções Unidas, em Durban, e foi também a Nova York defender a pauta racial. Em outras oportunidades, visitou a China e a Alemanha representando o PCdoB. 

Foi secretária de Educação e Cultura de Salvador em 2005, onde implantou o estudo da cultura afro-brasileira nas escolas. No primeiro mandato do governador Rui Costa, reeleito no domingo, esteve à frente de duas pastas: Política para Mulheres e Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre). Chegou a ser cotada para concorrer à prefeitura de Salvador em 2016. 

"A educação para mim é a porta. Todo negro e toda negra precisa ter oportunidades educacionais", diz. Nascida em uma família pobre que morava em favela de palafitas em Ondina, Olívia começou a trabalhar aos 14 anos - sua mãe, aos 9 anos, e nunca foi à escola. Ela, porém, queria outro rumo. "Decidi que não ia repetir a história." 

A reportagem entrevistou Olívia Santana. Veja abaixo os principais trechos:

O que precisa mudar para as mulheres negras terem mais espaço na política?

Só se consegue fazer isso reduzindo o poder econômico para garantir equilíbrio. Você não consegue se fazer visível sem dinheiro. Quem tem chega.

A reserva de 30% dos recursos para as mulheres não resolveu?

Foi importante, mas ainda é pouco. A mesma lei beneficiou o candidato rico, porque pode usar recursos próprios na campanha.

Os negros deviam ter mecanismo parecido?

Tem que ter mecanismos étnico-raciais de divisão do bolo. A negrada não tem network, rede de relacionamento rica. Você vai pedir dinheiro para o vizinho que tem menos que você?

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Já fui no Bonfim e agradeci. Agora quero abracar e agradecer às mulheres, que caminharam e caminham com a gente com esperança de conseguir maior representação política; agradeço aos homens que contribuem com a nossa luta, se despindo dos  preconceitos e buscando construir, junto conosco, uma nova forma de fazer política. Agradeço, enfim,  a todas as pessoas que já decidiram que, no domingo, vão votar em mim,  #Olívia65500DeputadaEstadual. Peço mais ajuda para multiplicarmos esses votos, pra que conquistemos um mandato em favor das maiores causas e  necessidades do nosso povo, por uma Bahia cada vez mais desenvolvida, com distribuição de renda e mais oportunidades para quem é historicamente excluído. Peço também por #HaddadManuela13, pelo resgate da democracia e por uma agenda de justiça social no Brasil. Peço pelo time de #RuiCorreria13, #Wagner130 #AngeloCoronel555 Nossa força e nossa voz silenciarão os violentos. O amor  vencerá! Iremos às  ruas e às urnas defender a democracia, a justiça e a  paz! Obrigada de coração, amigas e amigos.

Uma publicação compartilhada por Olívia Santana (@oliviasantana_oficial) em 6 de Out, 2018 às 6:59 PDT