Fibra sintética ameaça cultura sisaleira
A economia na região do sisaleira vive um grande momento com o preço do sisal em alta, mas o seu futuro é uma grande incerteza por conta dos derivados do sisal estarem perdendo espaço na Europa para os fios e cordas sintéticos.
Seu grande concorrente sintético ameaça a fabricação de fios, cordas, barbantes, cordéis (Beler Twine), entre outros.
O mesmo vem acontecendo nos Estados Unidos.
De acordo com Gilberto Gonçalves de Araújo, mais conhecido como Gilberto de Otacílio, proprietário da Batedeira Gonçalves, o concorrente das fibras naturais são os subprodutos a base de petróleo, utilizado na fabricação de fitilhos, com preço bem menor que o sisal.
"A cada ano que passa, estamos perdendo campo em função do petróleo. O produto sintético é muito mais barato do que o sisal e quem tem como utilizar o sintético, está deixando de adquiri o sisal. O nosso trunfo é que os países de primeiro mundo ainda preferem o fio biodegradável, o que faz aquecer as vendas. Mas não sabemos até quando isso vai durar", avalia Gilberto.
O preço da fibra no campo, hoje, está entre R$ 3,40 e R$ 3,50 para o sisal tipo 3.
O preço beneficiado está por volta de R$ 4,10.
Para a exportação, o mercado é abastecido pelos centros beneficiadores com indústrias como a Cosibra, na Paraíba e a Cordebras, em Camaçari.
A cidade de Conceição do Coité concentra o maior número de indústrias beneficiadoras, contando com a Cotesi, Sisaex e a Sisal Gomes.
A queda na produção devido à seca fez com que as indústrias beneficiadoras fossem diminuindo: a Paraíba já chegou a ter sete indústrias.
Hoje tem apenas uma.
"O preço atual estimula o produtor a plantar mais, não sabemos o que vai acontecer daqui há 3 ou 4 anos, com uma oferta bem maior do produto. Agora estamos com dificuldades em vender a fibra. O que os exportadores questionam é a alta do preço do sisal no Brasil", explicou Gilberto.
Para manter o mercado atual estável, os produtores baixaram um pouco o preço.
"A nossa sorte é que, com a turbulência no mercado, o dólar tem reagido e tem dado subsídios para a gente continuar exportando", contabiliza Gilberto.
Bahia - maior produtor de sisal no país
Segundo Gilberto, o Brasil ainda é o maior produtor mundial do sisal, mas pode perder a liderança para a África.
No país, a Bahia continua sendo o maior produtor, seguido da Paraíba, que já chegou a produzir 15 mil toneladas.
"Hoje, aquele estado não deve estar produzindo nem mil toneladas/ano, em consequência do preço e da seca. Isso desestimula o produtor. A Bahia ficou como remanescente por ter uma área territorial bem maior de plantação. "O sisal na Bahia continua sendo a base da economia regional e Conceição do Coité se destaca devido a quantidade de industrias de beneficiamento existentes no município. A cadeia produtiva do sisal trabalha muita gente. Se uma pessoa produzir 100 hectares de sisal, ele tem pelo menos 30 pessoas trabalhando. É um cultura que necessita de muita mão de obra", comemora Gilberto.
"Não tenho ideia da quantidade de pessoas que trabalham na lavoura do sisal, mas na nossa região tem mais de 700 mil habitantes e pelo menos metade, direta ou indiretamente, se envolve com o sisal. Coité tem 68 mil habitantes e acredito que 10% sobrevivem da cultura do sisal. Nossa batedeira já chegou a empregar mais de 60 pessoas. Hoje, temos um quadro da ordem de 35 funcionários", disse Gilberto.
Para ele, por ter esse uso em larga escala de mão de obra, o governo federal deveria dar mais atenção a esta cultura.
"Hoje, só aproveita 7% do sisal. O restante é todo perdido", lamenta Gilberto.
Campo Formoso é o maior produtor de sisal na Bahia.
Gilberto conta que o melhor período para o sisal foi na década de 1970.
Nesse período, foi registrada a maior safra de sua história, chegando a 200 mil toneladas de fibras.
"Hoje a safra está restrita a 50 a 55 mil toneladas. Com o decorrer do tempo e a alta da produção, o preço do sisal foi caindo e deixou ser atrativo. Os produtores passaram a substituir a lavoura pelo gado e o produto foi degradando. Com as sucessivas secas, as áreas plantadas foram reduzindo. Entre 2004 e 2005, o preço da fibra começou reagir e isso fez com que a cultura voltasse a ser atrativa. Mas nem chegamos perto daquela área que tínhamos na década de 70, mas a tendência é de crescimento já que grande parte dos produtores começaram a replantar o sisal nas áreas que estavam degradadas, confiante no preço que hoje é excelente", avaliou.