Helô Sampaio

Bolinho de peixe para temperar seus reencontros amorosos

O bom da vida é quando a gente olha pra trás e registra mentalmente: ainda bem que eu fiz tudo o que quis e pude fazer. Sem me envergonhar e sem desrespeitar ninguém. Busquei ajudar a quem pude, fazer amizade, viver bem com todo mundo. Pode ter certeza, lindinho, isto eleva o espírito, dá paz, deixa corpo e a mente satisfeitos.

No sábado, 21, dia do ‘arrancador de dentes’, o nosso Tiradentes, houve o primeiro encontro dos jornalistas que colaram grau em 1980 na Universidade Federal da Bahia. Não caia duro não, meu fofinho, mas eu já era professora. Ensino desde 1976 (e deixa eu lhe contar no pé do ouvido: este ano eu completo setentinha, fofo. Setenta aninhos de um viver de felicidade, alegria, amor e realização. E com essa carinha de quarenta e uns. Mas não contem pra ninguém, isso é um segredo nosso).

Sabe o que é uma alegria intensa? É rever os ex-aluninhos, hoje amigos queridos, bons profissionais, reconhecidos, competente e felizes nas diversas áreas da profissão.  Muitos já estão com cabelos brancos que nem eu. O meu coração ficou inebriado de felicidade. E regado com o astral de Pituaçu e as delícias do Centro de Tradições Gaúchas, o amor fica mais consolidado.

O encontro foi articulado por Jorge Ramos, Aninha, Einar e Bené Amorim. E mobilizou colegas de diversas épocas. Foi um evento aglutinador de gerações. E revi meus pimpolhos amadinhos. Uns, ‘pintões’ como Margareth Lemos e Mayra Helen; outros mais contidos, como Beraldo, Oldack e Emiliano José; artistas como Adilson; mas todos simplesmente maravilhosos. Helo Braga me confessou que achava a matéria – com a medida em ‘picas’ e os cálculos da Diagramação – um hieróglifo quase indecifrável. Mas aprendeu. Como todos. Isso é que me deixa feliz. Foi um dia que encheu de ternura a minha vida.

E me deixou com uma saudade enorme das outras turmas, dos meus outros meninos amadinhos, hoje todos homens e mulheres ‘feitos’, alguns avós. Enfim, meu bonito, é o tempo que passa. E que bom que estamos vivos, em condições de constatar estas mudanças, de conhecer as novas gerações.

Quando eu era criança, a minha preocupação era se eu ia ver o raiar do dia 1º de janeiro de 2000, quando eu estaria com 52 anos. “Deus, será que vou ver chegar o ano 2000?” Achava que ia ser muito diferente uma festa para a entrada de um novo século. Quarenta anos era uma data que ficava longe demais para uma garota de 10, 12 aninhos. Mas acho que o povo, na época, vivia menos. Uma mulher de trinta já era considerada ‘coroa’. E com 50 anos, homens e mulheres já eram velhos. Diferente de hoje, em que eu me considero uma ‘gost-osa’ (mistura de gostosa com idosa, he-he). 

Eu me aposentei após 35 anos de magistério mas ainda sinto falta daquele convívio, que renova a vida. Na sala, eu era professora, e rigorosa. Após as aulas, eu saía com eles para curtir a cidade, curtir a noite. Me lembro de um ano, quando ainda tinha a festa de largo da Pituba, que nós fomos para a festa. Na madrugada, todos cansados, levei para dormir numa quitinete que eu morava na Pituba. Quitinete, lindo. E foi lá dormiram uns 14 anjinhos. Até na cozinha tinha aluninho. O problema era ir ao banheiro, pois tínhamos que sair pulando sobre um bocado de gente. Foi muito divertido. Eles amavam essas aventuras com a ‘pró’.

Outra situação que não esqueço foi quando uma aluna, aplicada, quebrou o pé na véspera de uma prova decisiva e não podia ir à faculdade. Ela precisava fazer alguns procedimentos médicos e não queria perder o semestre. E eu fui fazer a prova na casa dela com mais uns alunos que tiveram problema. Somos muito amigas e ela também nunca esqueceu deste fato.

Mas, como eu sempre digo, vida que segue. Vamos pra diante, pois ainda quero ver muitas copas, com o meu Brasil ganhando tudo do Mundo (não me fale daquele 7 a 1, pois saio do sério), e meu Bahia liderando no pedaço de cá, botando mais uma estrelinha do Brasileirão. Só não sei se vou ver o Vicetória colocar a primeira estrela do nacional. Tá difícil, né, rubro-negros? Não conseguiu nem ‘uminha’ ainda, em quase 120 anos de existência (né isso, Niltinho Morais?).

Mas vamos aproveitar para antecipar as comemorações de sucesso executando esta receita deliciosa do culinarista Mauro Rebelo, que explica: uns dizem que é um falso bolinho de bacalhau, mas é uma deliciosa receita para evitar o desperdício, pois você pode aproveitar as sobras de peixe da refeição anterior. Vamos saborear esta delícia. Avental a postos e mãos à obra, que o bolinho é gostoso demais. Vamos lá.


Foto: Pxhere/Creative Commons

Bolinho de peixe

Ingredientes
-- 1 xícara (chá) de sobras de peixe desfiada (1 filé de peixe grande) 
-- 2 batatas médias cozidas e espremidas como para purê 
-- 2 colheres (sopa) de cebolinha verde picada 
-- 2 colheres (sopa) de salsa picada 
-- 2 colheres (sopa) de cebola picada bem miudinha 
-- 2 colheres (sopa) de azeite 
-- 1 gema 
-- 3 ou 4 colheres (sopa) de farinha de trigo 
-- Sal e pimenta-do-reino a gosto 

Modo de Preparo
-- Misturar todos os ingredientes, menos a batata e o sal. Juntar a farinha aos poucos, até que fique uma massa que dê para enrolar. Normalmente 3 ou 4 colheres (sopa). Não ponha muito, para não ficar com gosto de farinha.

-- Acrescentar as batatas amassadas já frias. Depois da massa pronta, provar e temperar com sal a gosto.

-- Fritar em óleo quente, escorrer em papel absorvente.

Saborear pensando em mais uma vitória do nosso Brasil e do Baêa.

Bora, Baêa, minha porreta!