Doris Pinheiro

Será mesmo dos carecas que as mulheres gostam mais?

Aeroporto de mosquito, pouca telha, Kojak, bola de sinuca, Serra Pelada, lua cheia, cabeça de ovo... vamos combinar que é um porre a série de piadinhas com os carecas.

E é tão chato mesmo que o honorável careca Perfilino Neto, etnomusicólogo brilhante, advoga a criação da Delegacia do Careca, para combater o crime de abuso contra essa categoria de homens que sofrem bullying.

Num depoimento divertidíssimo ele bradou pelos direitos de quem viu a testa crescer até a nuca e explica a história da música “Nós, os Carecas”, marchinha hit absoluto quando se fala do assunto.

Nós, Os Carecas

Nós, nós os carecas
Com as mulheres somos maiorais
Pois na hora do aperto
É dos carecas que elas gostam mais

Não precisa ter vergonha
Pode tirar seu chapéu
Pra que cabelo? Pra que, seu Queiroz?
Agora a coisa está pra nós, nós, nós

Ouça "Nós, os carecas", em gravação de 1941

Os autores são Roberto Roberti, que não era careca, e Arlindo Marques Júnior, que na foto que vi tinha um projeto de careca.

Roberto foi um dos mais assíduos compositores de marchas e sambas carnavalescos, com vários sucessos ao longo da carreira.

Arlindo Marques Júnior foi também jornalista e igualmente um compositor bem sucedido.

Em 1942 eles compuseram  "Nós os Carecas", uma das mais famosas marchinhas de todos os tempos, que foi sucesso nas vozes do grupo Anjos do Inferno.

Perfilino Neto, que em breve terá sua rádio web, conta que era muito comum que os compositores de músicas carnavalescas, e mesmo de música popular brasileira, usassem temas que iam de bichos a características físicas das pessoas.

Na verdade ele diz que nada escapava aos caras.

Então tem marchinhas como Clube dos Barrigudos, Marcha da Cueca e Maria Sapatão. 

Os carecas não foram os únicos a serem retratados nem satirizados.

E mais: como Perfilino sabe tudo de música, ainda falou pra mim de duas outras canções que falam de carecas: “Papai Careca” e “Mulher Careca”, essa de ninguém menos que Jackson do Panderio com JS Horta.

E eu acabei lembrando de “eu vi uma barata na careca do vovô...”

Viram como careca é fonte de inspiração?

Mas vamos para o campo científico

Toda hora aparece uma referência à testosterona turbinada dos carecas, mas eu vou por outro ângulo.

Pesquisa conduzida por Albert E. Mannes, especialista em Psicologia Social da Universidade da Pensilvânia (EUA), e divulgada em 2017, mostrou que homens totalmente carecas são percebidos como “mais dominantes, másculos, viris, confiantes, altos e fortes” do que realmente são.

Por outro lado, revelou também que homens calvos ou com cabelo apenas na laterais da cabeça são percebidos como “mais fracos e menos atraentes”.

Detalhe interessante é que Mannes resolveu pesquisar o assunto a partir de uma experiência própria.

Quando ele raspou a cabeça, cerca de 10 anos atrás, as pessoas começaram a tratá-lo de maneira diferente.

“Eles eram um pouco mais distantes e, em alguns casos, respeitosos. Fiquei surpreso com isso”, conta o cientista.

Os pesquisadores basearam os resultados em três experimentos.

No primeiro foram apresentadas a universitárias fotos de  homens diferentes – 25 ao todo, dez deles carecas.

Elas analisaram as imagens e classificaram os homens em categorias como dominação, atratividade, idade e força física.

No segundo estudo 367 adultos avaliaram oito fotografias dos mesmos homens do primeiro estudo.

Metade dos participantes teve acesso apenas a fotos originais da pessoa com seu cabelo, e a outra metade viu fotos que haviam sido modificadas para que os homens ficassem carecas.

As características dominância, masculinidade, idade, altura, força física e confiança foram mais associadas aos homens  com as fotos modificadas, ou seja, os que estavam carecas.

Na verdade, os homens sem cabelo foram vistos como quase um centímetro mais altos e 13% mais fortes do que os cabeludos. 

Mas foram vistos também como menos atraentes.


Foto: Pixabay/Creative Commons

No último estudo foram dispensadas as fotografias e 588 adultos leram uma descrição de um homem normal.

Em uma versão, o homem foi descrito como tendo muito cabelo.

Em outra, ele tinha cabelo naturalmente em queda (estava ficando careca), e em uma terceira versão, ele tinha a cabeça raspada.

Mais uma vez, o homem careca por escolha foi visto como mais dominante, mais masculino e mais forte, enquanto o homem ficando naturalmente careca foi mais mal classificado.

Segundo a pesquisa a percepção geral dos participantes se deve aos estereótipos cunhados na nossa cultura. 

Os homens de cabeça raspada são frequentemente associados a profissões  tradicionalmente consideradas masculinas e que envolvem serviços braçais.

Há também a sensação de que raspar a cabeça passa uma ideia de autoconfiança, mostrando que o homem domina a situação e não vê problema com a perda do cabelo. 

“Eles estão dispostos a dispensar este símbolo de beleza e poder”, explica Mannes.

Um ator bem resolvido

Frank Menezes é maravilhoso como artista e pessoa.

Maior tranquilidade e segurança, tenho a honra de ser assessora de imprensa dele, meu muso inspirador desta coluna.

“Ser careca é uma das melhores coisas que existe. É tão prático, não tenho que ficar me preocupando em pentear cabelo. Essa exigência estética de hoje em dia faz com que ser careca seja uma das coisas mais geniais que um ser humano pode ser. Ser careca faz com que eu possa passar minha máquina zero sem culpa nenhuma. Dentro dessa moda careca sempre tá legal, e no fundo, no fundo, no fundo nunca fui fã do meu cabelo não. Eu fui fã até uns 15, 16 anos. Daí em diante começou a ficar um emaranhado de merda, porque eu não tinha nem cabelo liso nem black power, e eu nunca tava na moda. Enfim! Eu amo ser careca. É dos carecas que elas e eles gostam mais."

 
Eu fui fã até uns 15, 16 anos. Daí em diante começou a ficar um emaranhado de merda
-- Frank Menezes, ator

Clube dos Carecas

Achei super legal o site Clube dos Carecas (http://www.clubedoscarecas.com.br), com postagens das mais variadas e orientações muito úteis – e humor também que sempre é bom - para quem é calvo ou está ficando. 

O site foi idealizado por três amigos Nelson, Marcus e Luiz, que perceberam que ”os carecas estavam meio desamparados pela rede”.

Pelo mundo

Metade da população masculina do mundo tem queda de cabelo, calvície mesmo, até os 50 anos de idade, dados da Organização Mundial de Saúde.

Os chineses são os que menos sofrem no mundo (19,24% da população masculina).

Os 10 países onde os homens são mais calvos situam-se na Europa e na América do Norte.

Os checos são os mais atingidos (42,79%), seguidos dos espanhóis (42,6%), alemães (41,2%) e franceses (39,24%).

O problema parece estar associado aos genes e ao estilo de vida dos ocidentais.

Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Restauração Capilar mostrou que 25% das mulheres brasileiras entre 35 e 40 anos sofrem com algum grau de calvície e que acima dessa idade, a porcentagem sobre para 50%.

Entre os homens, a incidência é ainda maior. 60 a 70% deles devem ser afetados aos chegar aos 50.

Careca é pop

Genial o trabalho desse diretor de arte brasileiro que mora em Londres, Fernando Perottoni, que criou uma série de ilustrações dos carecas mais fantásticos da cultura POP mundial. 

O nome do trabalho dele é "Baldies Notorious" (carecas famosos).


Holmer e Yoda

Tem de ir conferir gente, googla aí!

Paolo Bruni: inexoravelmente ele

Ele é iniciado no I-Ching como eu, um professor querido e zeloso, um cara charmozão e massa, um homem moderno...

“Eu nunca pensei na verdade em outro estado que não fosse o estado da carequice, ou a experiência de ser careca. Eu comecei a perder cabelo muito cedo, com uns 13, 15 anos e com 18 eu já estava com umas entradas bem bizarras. Aí eu resolvi assumir porque ou era assumir ou entrar naquela neura de estar buscando peruca, essas coisas. Comecei a raspar a cabeça quando eu tinha essa idade, 15 anos. Minha experiência sempre foi positiva foi nesse sentido, de ter incorporado isso de ser simplesmente eu, e não o Paolo careca, e não Paolo sem cabelo.

Antes eu tinha até um visual mais alienígena, bem radioativo, cabeça raspada na gilete, sem barba. Hoje em dia eu abstrai completamente e comecei a criar barba por simples e pura preguiça de fazer a barba, mas parece que o visual faz muito sucesso, o cara com cabeça raspada, com barba, essa historia é um clichê contemporâneo do homem  moderno hipster careca barbudo, mas para mim é o estado natural. Não criei cabelo na barba porque estava sem cabelo na cabeça. Nunca pensei nisso na verdade. Fui simplesmente  assumindo as fases da vida, ou essas coisas inexoráveis que a vida propõe, como ser careca.”

Como ficar mais bonito

Se você mantém os fios nas laterais da cabeça não use longos e nada de deixar eles volumosos. 

Careca brilhando é feio...

Lave a cabeça todo dia usando shampoo anti-queda ou anti-olesidade e filtro solar (os em gel não são oleosos).

Foto: Pixabay/Creative Commons

E se não quer largar mão de ter cabelo, ainda que seja pouco, peloamaordedeus não crie a lateral e puxe o cabelo por cima da careca porque sempre, sempre, sempre fica horrível e todo mundo nota. 

Agora, confesso que acho bacana um careca que cultiva barba, bigode e/ou barba e bigode.

Fica charmoso, arrojado, corajoso.

Mas para isso tem de ter zelo tanto pela falta de fios na cabeça, quanto pelo cultivo dos pelos no resto do rosto.

Proteção contra vermelhidão

O fato do couro cabeludo nos calvos estar mais exposto não torna ele mais resistente ao sol.

O ideal é pensar que o cuidado deve ser o mesmo da pele do rosto, onde, inclusive, ocorrem mais casos de câncer de pele.

Então, protetor solar e no mínimo de fator 30, reaplicando a cada duas horas e depois de se molhar.

Outra opção muito bacana é usar chapéus, bonés e até turbantes.

Assim ficam protegidas  outras partes como orelha, olhos e até o pescoço.

Existem no mercado bonés e chapéus com proteção especial.

Produzidos com fios a base de dióxido de titânio, os tecidos prometem bloquear 98% dos raios UVA e UVB.

Assim se evita também outros apelidinhos chatíssimos como cabeça-de-palito-de-fósforo.

Dirceu Factum: pura personalidade


Meu amigo-irmão Dirceu Factum usa e abusa de chapéus maravilhosos e turbantes. Tenho o maior orgulho dele.

"Mais novo entre seis irmãos (três mulheres e três homens) filhos de um pai "galã", dono de, apenas, sutis e charmosas "entradas" numa vasta cabeleira, fui o primeiro a sinalizar a calvície na família. Entradas "radicais" aos 14, 15 anos, coroa de padre aos 17. Cheguei aos anos 80 com, literalmente, as bandas pop-rock na presença de cabelos : dos lados, no Bozo lounge, os Paralamas do sucesso. Na frente, Uns e Outros. E no topo, o Nenhum de Nós. O que?????; para que tá feio! Estreava forte a máquina 1.

Certo réveillon na Linha Verde, esqueci de levar a máquina e de manhã, ainda com a cabeça em maresia das dezenas de brindes de Feliz Ano Novo, vejo no espelho uma cabeça com uma penugem indefinível, um carpete de repartição pública. Corri e comprei aparelhos e espuma de barbear. Voltei nota casa e em dez minutos nascia o cara careca que hoje 14 de abril completa intensos 51 anos e que para se divertir e divertir pessoas, em breve, lança um personagem que vai usar uma peruca diferente por semana. Curto minha careca e curto tanto que darei a ela a regalia de me fazer uma pessoa diferente a cada semana dos próximos 51 anos."

As maluquices

Quando os fios de cabelo de Júlio César (100 – 44 a.C.) começaram a cair vertiginosamente, o imbatível imperador romano sucumbiu a uma receita muito louca contra a careca: ratos domésticos queimados, gordura de urso e vísceras de veado.

Não há notícias de que tenha dado certo. 

Catei na net as maluquices feitas ao longo das eras para combater a calvície:

Foto: Pixabay/Creative Commons

Egito Antigo - De acordo com o Papiro de Ebers, documento de aproximadamente 1550 a.C., misture gorduras de hipopótamo, crocodilo e cobra, ferva e passe na careca durante quatro dias. Se você sobreviver aos encontros...

Grécia Antiga – Misture ópio, rábano, fezes de pombos, especiarias e beterrabas e passe na cabeça. A receita é atribuída a Hipócrates, mas Aristóteles aconselhava a usar urina de cabra.

Roma Antiga – Retire os genitais de um asno, queime, transforme em cinzas e misture com a sua própria urina. Aplique fartamente na careca. PÔXA, porque sempre sobra para os outros animais?

França do Século XIX - Èmile Couè, psicólogo francês, afirmava que o pensamento positivo é suficiente para  fazer com que os fios de cabelo não caiam da cabeça e mais, que novos fios cresçam mais fortes.

EUA Século XIX - De acordo com a publicação Scientific American de 1896, escutar músicas pode ajudar a prevenir a queda de cabelo. Mas só vale se for de piano ou violino. Não sei o que eles achariam hoje, mas tem música que me faz ter vontade de arrancar os cabelos.

 Ah! Freud era careca, Leonardo da Vinci era careca, Ghandi era careca, Einstein era careca, Galileu Galilei era careca...