Doris Pinheiro

Aumente o som que agora eu vou falar sobre 'black power'

Hildebrando Carmo

Ele é o ”muso inspirador” desta coluna: Hildebrando Carmo, meu colega querido que trabalha na TV Bahia e que tem o black power mais perfeito da face da terra. 

Ele é o Del Black, queridinho de Ivete Sangalo e de outras celebridades e que ainda por cima é uma das pessoas mais simpáticas que eu conheço.

E quando eu vejo as fotos de Hildebrando uma trilha sonora começa a tocar em minha cabeça.

Começa com “Pata Pata”, que ganhou o mundo na voz da sul-africana Miriam Makeba, cantada na língua Xhosa.

Para mim “Pata Pata” era assim : “bazacumbum bazacubeba ati vatapá” (comigo me acabando de dançar na frente da TV) .

Os meninos cantavam “tá com pulga na cueca...”, mas a letra mesmo é outra coisa: “Sat wuguga sat ju benga sat si pata pata”

Veja Miriam Makeba cantando "Pata Pata", que é o nome de uma dança

Só rindo de mim mesma e da minha doce percepção de criança, mas vatapá fazia todo sentido pra mim naquela música.

Outra canção que bate na minha cabeça é “BR3”, vencedora de festival da canção e defendida na voz e na dança sensacional de Tony Tornado, um super negão com um  black fantástico e um jogo de pernas idem.

Tony Tornado é cantor e ator, mas já foi menino de rua, engraxate, vendedor ambulante, militar que foi para a guerra.

Morou cinco anos em NY e atuou em filmes como traficante de drogas e cafetão (lá conheceu Tim Maia). 

É um dos artistas que introduziu a oul music e o funk na música brasileira.

Veja Tony Tornado e Emicida cantando BR3

E lembro de genial o black power que Iraíldes, colega de meu irmão Roberto e meu primo Telmo no Manoel Devoto.

Eles deviam todos ter uns 16, 17 anos e a minha casa era um tipo de point.

Minha mãe tinha o maior prazer de receber os meninos e meninas e conheci muitos dos colegas deles.

Eu achava ela linda, forte.

Não entendia conscientemente o que aquele cabelo representava, eu era garotinha, a caçula, mas sentia que era mais do que um cabelo que tava na moda.

Hoje as meninas continuam lindas e fortes desfilando seus blacks, seus cachos, suas jubas pelo mundo.

As meninas e os meninos.

E Hildebrando pode trabalhar numa emissora de TV com o black power mais fantástico do planeta.

Mas houve e continua havendo muita luta por trás disso.

Cabelo é poder

O termo Black Power  ganhou força no mundo nas décadas de 60 e 70 do século XX, quando um movimento de luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos eclodiu num momento espetacularmente especial da história da humanidade no Ocidente, que teve como marco, por exemplo, um movimento ainda maior, o hippie, com sua imensa quebra de tabus.  

A ideia por trás dos cabelões era e é desconstruir o padrão de beleza, totalmente eurocêntrico, fortalecer a identidade negra, afirmar o orgulho de ser negro, fortificar a conexão com as raízes africanas, entre outras coisas bonitas e justas.

O  black power foi e é um símbolo que transcende as fronteiras da moda e da beleza, é instrumento na luta por direitos, afirmação, igualdade, liberdade.

E começou a ganhar mundo nos anos 20 do Século XX, quando Marcus Garvey, tido como o precursor do ativismo negro na Jamaica, bradava a necessidade de romper com padrões de beleza eurocêntricos e promover o encontro dos negros com suas raízes africanas.

E os artistas, antenas do mundo, ajudaram na luta.

Nos psicodélicos anos 60/70 Jimi Hendrix, revolucionando com sua guitarra, criou tendência com sua cabeleira selvagem, igual a ele.

O tecladista Billy Preston, famoso por ter tocado com os Beatles, passou os anos 70 tocando pelo mundo com um belo black power.

A sul-africana Miriam Makeba (a do bazacimbum bazacumbeba lá de cima), também chamada de Mama Africa,  durante seu exílio nos Estados Unidos, usou muito black power.

Os caras do Earth Wind and Fire e os do The Jackson 5 (Michael Jackson e os seus irmãos Jackie, Tito, Jermaine e Marlon ) tinham black power na cabeça.

A moda voltou com força total no Século XXI e acompanhada de toda sua mensagem política.

Lauryn Hill, Lenny Kravitz,  Erykah Badu, Esperanza Spalding e a cantora brasileira Anelis Assumpção usaram e usam com orgulho seus super cabelos.

E isso acaba fazendo a cabeça das novas gerações e mudando o mundo para melhor.

Vanessa, a vaidosa

Vanessa tem nove anos e é muito vaidosa.

Filha única de minha babá (ela é minha babá gente, tá comigo desde que meu filho tinha três meses, mas é minha babá!), tem cabelos cacheados que adora soltar ao vento e tem muito orgulho dos seus cachos.

Mas para isso...

Vera me conta que para deixar Vanessa de cabelos soltos só no dia em que lava e penteia debaixo do chuveiro depois de shampoo, condicionar e creme de pentear.

No dia seguinte, pente de dentes largos, creme de pentear e cabelo preso.

O cabelo de Vanessa é muito cheio e com o calor não dá para deixar solto o tempo todo, fora que embaraça muito e aí é o maior sofrimento na hora de arrumar.

Dicas da supercabeleireira Manu Muccini

Manu Muccini diz que a maneira de pentear o cabelo interfere diretamente na forma do cachos, mas que o corte também tem muita influência, não só na  aparência, mas na saúde dos cabelos cacheados, encaracolados, afros.

“Ouço falar que só deixar crescer que dá certo. MITO, o corte favorece o volume como também o formato”, enfatiza ela, que diz que o visagismo entre a fisionomia e textura dos cachos é mega fundamental.

“O cabelo é a moldura do rosto e há vários comprimentos  e formatos, um para cada pessoa.” 

Manu diz também que tanto tem corte que dá mais volume quanto que tira o volume e há produtos que fazem muita diferença na textura. 

“Quando falo de textura me refiro ao formato do cachos: os miudinhos, os frisados, os soltos, os de formato de mola." 

E quanto aos pentes?

O pente de dentes fino auxilia na hora de criar um volume mais solto, tira um pouco da definição dos cachos. 

Pente de dentes largos e longos dão definição aos cachos e não tiram o volume da raiz.

Respeito aos chachos

O Boticário criou e lançou a Match Respeito aos Cachos, nova linha com oito produtos : shampoo, condicionador, máscara, co-wash, três modeladores - um para cada tipo de cacho -  e gelatina.

A linha garante cachos definidos por 72 horas.

O lançamento conta ainda com o endosso de um dos cabeleireiros mais renomados do Brasil - Ricardo dos Anjos, consultor expert Match.

As fórmulas da nova linha contam com dois ingredientes especiais: colágeno vegetal & Karité.

O Karité possui ação altamente emoliente que trata e previne o ressecamento.

Já o colágeno vegetal atua fortalecendo e retendo a água no fio, uniformizando a cutícula e recuperando a elasticidade dos cabelos.

Além da combinação de ativos, as fórmulas contam com memória inteligente.

São agentes de umectação e ativos modeladores que, combinados e em contato com os fios, ativam e reativam os cachos garantindo maior definição e modelagem de longa duração.

Com a palavra, minhas cacheadinhas

Elas são minhas meninas cacheadas, jovens jornalistas ou estudantes de jornalismo, que resolveram soltar os cachos no mundo

Elaine Silva - Assumi faz alguns anos. 

Na verdade, sempre tive o cabelo crespo, black, mas alisava com produtos químicos, não o aceitava.

Odiava o meu cabelo por causa de apelidos, e não me via representada na TV.

Sonhava em ter os cabelos longos e lisos como os das atrizes.

Às vezes arrancava o meu próprio cabelo de raiva quando ia pentear. Chorava de raiva por ele ser assim.

Mas hoje é completamente diferente.

Eu amo o meu cabelo, é a minha identidade, minha autoestima, meu eu. Não me enxergo sem ele.

Amanda Azevedo - Depois que comecei a transição parece que eu me transformei em uma pessoa completamente diferente, de verdade.

Eu mudei minha visão de mundo, mudei minha visão de mim mesma e principalmente, consegui me desconstruir daquele padrão de que mulher bonita tem que ter cabelo liso e grande.

Meus cachos fazem parte hoje da minha identidade de forma muito única e especial para mim, até porque só eu sei o processo que foi para amá-los do jeito que amo hoje.

Assumir meus cachos me ajudou a recuperar minha autoestima que já havia se perdido depois de tanto tempo alisando meu cabelo pra tentar entrar num padrão que não era pra mim.

Hoje eu me sinto linda quando tô super arrumada pra ir pra uma festa ou quando estou em casa de cara lavada e de camisola (rsrs). E isso eu agradeço ao processo de assumir meus cachos.

Cuido dele em casa, de forma simples e barata, o que é só uma das grandes maravilhas de ter um cabelo natural. 

Fico muito feliz em perceber uma aceitação maior das pessoas com cabelo cacheados, crespos e cheios. Mas fico mais feliz ainda quando vejo uma mulher se achando um máximo com sua juba.

Soltem seus cachos, minas! A leveza que isso traz é com toda certeza transformadora!

Letícia Paixão - Vai fazer três meses que estou tentando me libertar da química. Dei progressiva por mais de dez anos e resolvi me libertar.

Procurando fotos de quando eu era criança, reparei que meus cachos viviam presos.

Meu cabelo só ficava solto quando estava com escova. Por isso, e por insistência minha, minha mãe resolveu utilizar os produtos para dar fim ao meu volume capilar, rsrs.

Hoje vejo muitas mulheres assumindo os seus cachos e deixando de serem reféns de algo tão prejudicial para os fios. Fora que surgiram vários produtos para cabelos crespos, cacheados e ondulados, o que antigamente não existia.

Camila de Jesus - Estou me descobrindo e percebo quanto tempo perdi em não assumir o meu natural.

Hoje, tenho 21 anos e boa parte desse tempo passei alisando meu cabelo, mas depois de refletir muito, pensar e repensar, decidi que era preciso mudar.

E sinto que a mudança foi pra melhor, estou em fase de transição, um momento que é bem difícil (acredito que muitas já passaram e outras passarão por isso).

Há dias que eu acordo e penso em voltar a alisar, mas aí eu lembro o quanto é bom me olhar no espelho e não ser aquela Camila que vivia refém da escova e dos produtos químicos. Estou em fase de descobertas e sinto que meu cabelo ainda me trará muitas alegrias.

E sobre os cuidados com ele, estou investindo em óleos vegetais: coco, rícino, cenoura, azeite de oliva. Acredito que eles são ferramentas extremamente importantes para os cabelos cacheados, ondulados e crespos.

Ana Cláudia Oliveira - Nunca fiz nenhum tratamento químico. Quando era pequena eu queria alisar a todo custo, mas minha mãe sempre foi bem clara ao dizer que meus cachos são lindos.

Meu cabelo mudou muito, mas todas transições foram naturais. 

Nunca tive muito dengo, não. Todos os produtos básicos compro em mercado mesmo, o que mais mudo é o creme. Tem uns que são muito leves, não ficam bem, às vezes tem outros que definem bem. Mas na segunda vez que uso pesa no cabelo.

Lavo com shampoo e condicionador, penteio com os dedos, as vezes uso o pente garfo pra dar volume e sempre que tô com coragem, faço definição, que é modelar cachinho por cachinho.

Joseane Rodrigues - Apesar de gostar muito do meu cabelo natural, assim, carapinha, com cachinhos bem miudinhos, não passo horas cuidando dele.

O tratamento que dou a meu crespinho é lavar e hidratar, duas vez por semana. Procuro usar shampoo, condicionador e máscara capilar que sejam hidratantes e para finalizar leave-in e gelatina modeladora.

Também faço alguns experimentos com produtos naturais como umectação com óleos vegetais de coco e rícino e hidratação com creme de leite, maisena, maionese, aloe vera (babosa). É assim que cuido do meu cabelo.

É resistência, decidir assumir seu crespo e manter ele. Porque a sociedade acha lindo um cabelão solto armado, mas sempre há alguém lhe indicando algo para baixar a raiz, ou aconselhando a alisar, com a desculpa de que você ficará mais bonita.

Sou uma entusiasta das pessoas que queiram assumir suas raízes, suas crenças, cultura e sejam livres dos padrões determinados pela sociedade.

Eu resisti, desde o dia que resolvi ver, novamente, os fios do meu cabelo e como ele é natural.