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País cai 11 posições em ranking de paridade de gênero

Brasil está na 90.ª posição, dentre 144 nações

Em qual dos seguintes países as mulheres estão mais próximas de obter os mesmos direitos e oportunidades dos homens: Ruanda, Estados Unidos ou Brasil? Segundo a pesquisa Global Gender Gap Report 2017, a nação africana é a quarta melhor avaliada quando se discute igualdade entre os gêneros.

Já Estados Unidos e Brasil estão na 49.ª e 90.ª posição, respectivamente, dentre 144 nações. Em relação a 2016, o Brasil caiu 11 posições no levantamento. 

Criado em 2006, o relatório é lançado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial, sediado em Genebra, na Suíça. Pela primeira vez, a pesquisa aponta aumento na média de desigualdade entre homens e mulheres.

No levantamento anterior, estimava-se que seriam necessários 83 anos para alcançar a paridade entre gêneros. Agora, são 100 anos, na média. Se considerarmos apenas o mercado de trabalho, a estimativa é ainda maior: de 217 anos.

Em relação a 2006, o Brasil subiu da 74.ª para a 1.ª posição no acesso à educação, dividindo a colocação com outros 26 países, com a nota 1. O País também ocupa a 1.ª colocação em expectativa de vida, liderando juntamente com outras 34 nações, com paridade de 0,980.

O que faz piorar a posição do Brasil é o desempenho em outras duas categorias: participação econômica e oportunidade de trabalho (caindo de 63.º para 83.º, em 2006) e representação política (em 110.º, em relação a 86.º uma década antes).

Em ambos os casos, é considerada a equidade entre gêneros, o que não significa necessariamente que os primeiros lugares têm a melhor qualidade de vida em números absolutos.

Desigualdades

Para a jurista Silvia Pimentel, os dados representam o que ainda é visto no cotidiano: a mulher é associada e responsabilizada por tarefas domésticos e cuidados das crianças e ainda carece de representação nas altas esferas.

O levantamento aponta, por exemplo, que são ocupados por mulheres 39,6% dos cargos mais altos em empresas e no poder público. Na média salarial, elas recebem 0,58% do que é pago a homens, embora sejam 53,9% da força de trabalho.

"É muito importante a participação das mulheres em postos de comando, de participação: elas levam para esses lugares nova experiência de vida, um novo olhar. É algo que pode, em muito, colaborar para que tenhamos políticas mais sensíveis ao gênero", afirma Silvia, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e ex-presidente do Comitê para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres.

A baiana Juliana Ferraz, de 36 anos, viu as dificuldades disso na prática. Ela é diretora do departamento comercial de uma empresa do segmento cenográfico, que tem 240 funcionários. Antes de assumir a função, há dois anos, ela só havia tido experiência em coordenar mulheres.

"Os meus primeiros seis meses na empresa foram sofridos. É um universo de trabalho manual e muito masculino. Foi muito difícil aprender a me impor. Até fizeram um bolão para saber quanto tempo eu ia ficar."

Do ponto de vista político, a professora de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV), Luciana Ramos diz que a cota de 30% das candidaturas para mulheres não surtiu efeito.

Hoje o Congresso tem 55 deputadas (de um total de 513) e 13 senadoras (de 81), o que deixa o País em 110.º na lista. "Apesar de a Constituição dizer que homens e mulheres são iguais em direitos e deveres, isso não ocorre na prática. Elas conseguiram direito de voto, mas o direito de ser votada ainda não é plenamente aceito."

As mulheres, diz, têm menor financiamento e espaço midiático de campanha e, muitas vezes, são incluídas na lista apenas para cumprir a cota, sem haver a intenção partidária de elegê-las.