O prefeito ACM Neto apresentou, ontem, o seu projeto de 360 graus que pretende impulsionar economia da cidade nos próximos quatro anos. Pena que ele esqueceu – coisa que o avô dele jamais esqueceria e por isso era tão afagado pelos cultos - de contemplar o setor de literatura de Salvador, que anda combalido desde quando deixaram de atuar por aqui as editoras regionais, e que tinham um poder multiplicador da cultura e agregava à economia.
Quem não lembra que ACM apoiou os literatos de tal forma que até ofereceu o fardão quando Jorge Amado foi eleito como membro das Academia Brasileira de Letras? Tudo bem que, segundo o próprio release da Secretaria de Comunicação, gerida pelo muito simpático e competente, meu neo velho amigo Paulo Alencar, trata-se “do maior e mais audacioso programa de planejamento para impulsionar o desenvolvimento econômico de Salvador, que busca soluções para problemas que atrapalham a geração de emprego e renda na cidade...”.
Lembrando que o lançamento foi ontem, no Sheraton Hotel da Bahia, no Campo Grande e lá estava meu ídolo e companheiro de Rádio Metrópole (um dia faremos um programa de madrugada com o nome Esculhambando a Porra Toda) Fernando Guerreiro, da Fundação Gregório de Mattos. Sei que ele nada pode fazer. Mas, para o povo que milita nas folhas em branco, laudas, telas e teclados, faltaram garra e guerra; de chegar de com força e pedir um naco, a participação.
Mas somos assim mesmo: sabemos que cultura, infelizmente depende das autoridades e da paciência e boa vontade dos outros, mas nada fazemos. Quer um exemplo, vin quando um autor regional foi na Livraria Cultura do Shopping Salvador consignar um livro e foi rejeitado sem uma boa tarde da pessoa que o atendeu, que só disse que não tinha interesse. Eu já havia ouvido, anos passados, um diretor de marketing desta mesma empresa dizer a um funcionário que montava uma exposição de livros baianos:
- Deixe de besteira. Use o espaço para coisa melhor!
E olha que o “espaço” era o beiral da escada que leva ao café. Falei com a União Baiana dos Escritores sobre o assunto e meu confabulador e disse que tentara fazer um movimento para protestar contra o descaso das livrarias (que levam 50 por cento do valor da venda de cada livro), mas que não conseguira arregimentar ninguém. Lavei as mãos que nem Pilatos com seu T.O.C.
O prefeito mesmo diz que “Salvador é uma cidade pobre e com economia pouco diversificada. Com o Salvador 360, não estamos lançando qualquer ideia mirabolante. A iniciativa é mais ampla e estruturada e reúne todas as ações municipais na área de desenvolvimento econômico”. Mas, poxa, ACM Neto esquecer que é preciso lembrar que nossa cidade sempre foi tida e metida como a mais sublime em termos de intelectualidade. Vou citar por cima alguns que fizeram nossa terra ser respeitada pelo pensamento e criatividade pelas letras como Anísio Teixeira, Ruy Barbosa, Jorge Amado, João Ubaldo, Gregório de Mattos, Hélio Pólvora, Antônio Torres, Sônia Coutinho, Florisvaldo Mattos, Rui Espinheira, Castro Alves, Ildázio Travares, Pedro Kilkkerry, Luis Gama e nem vou falar dos mais modernos como Antônio Short e Anísio Melhor que é melhor deixar para lá.
Sou, sim a favor de um novo projeto que faça Salvador sair da sua pobreza enfática e se transforme numa metrópole radiante. Mas será que o prefeito não poderia dar mais verba, conseguir por aí mais verba; inventar mais verba para ajudar Fernando Guerreiro a criar uma nova realidade na área de literatura para a cidade. Ele contempla a área musical, um setor que segue com as próprias pernas, com grupos, cantores e empresários conseguindo até mesmo alcançar a riqueza e encher as burras. Audiovisual, não, é problema. Mas, problema maior é Salvador ter hoje saraus, centenas de novos autores e velhos autores, poetas a dar de pau e não ter uma editora multifacetada, que edite nossos autores. É bom lembrar que apo aqui vivemos ainda da imagem de Caetano, Gil, Gal, Bethânhia e mais uns. Axé Music é bom. Mas não dignifica tanto assim nossa cultura. Vamos, prefeito! Ache incentivo para que editoras possam florescer. Está certo: literatura não enche barriga. Mas, e a alma? E às vezes até paga as contas. Deus lhe pague!