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"Vivemos um verdadeiro apartheid", diz Aladilce

Confira entrevista à Tribuna da Bahia

Líder da bancada de oposição e em seu terceiro mandato na Câmara de Salvador, a vereadora Aladilce Souza (PCdoB) é a segunda entrevistada pela Tribuna na série de reportagens com os 43 integrantes da Câmara Municipal. Durante o bate-papo, ela faz uma avaliação dos primeiros quatro anos da gestão ACM Neto e cobra políticas de ações que proporcionem a melhor qualidade de vida para o cidadão. 

Tribuna - Como a senhora  avalia a atuação da Câmara na atual legislatura?
Aladilce Souza -
Eu acho que a Câmara teve uma boa atuação, agora acho que faltou uma maior independência do Executivo. Acho que o presidente da Câmara pode afirmar mais a sua autonomia. Tivemos, por exemplo, o projeto do PDDU e Louos, que foram para mim os mais importantes, e a obediência do Executivo e a aprovação em tempo recorde pela Câmara. Na minha opinião, a gente poderia ter tido uma discussão mais ampla, mais centralizada na cidade, para sair um projeto mais rico, de contribuição, pois o PDDU saiu com muita insatisfação. Acho que com defeitos que vão trazer impactos na cidade, isso muito por conta de uma postura de falta de afirmação da independência e autonomia, que é uma característica republicana. Acho que viemos trabalhando, mas tivemos essa falha em relação a esse projeto, a reforma tributaria do prefeito ACM Neto, nós poderíamos ter uma postura de afirmar mais em defesa da cidade. Na reforma tributária, por exemplo, o prefeito teve que depois mandar vários projetos de lei voltando atrás e a Câmara poderia ter sido mais afirmativa naquele momento.

Tribuna - Como a senhora avalia a atuação do seu próprio mandato? 
Aladilce Souza –
Eu procurei fazer o debate mais amplo possível de todos os projetos que passaram pela Câmara, reforma tributária, PDDU, Louos, acompanhar a gestão orçamentária, fazer uma ação de fiscalização, que é uma ação fundamental no nosso mandato, acompanhamento das ações de saúde, procurando dinamizar as comissões de defesa dos direitos das mulheres, fizemos muitas ações em relação a questão da violência, nós trabalhamos muito mesmo durante esse terceiro mandato e eu tenho procurado dar continuidade nas ações, que são marcas, saúde da mulher, acompanhamento das questões de cultura, esporte, áreas sociais, da arrecadação do município e descobri que essa gestão do prefeito ACM Neto foi uma gestão que não conseguiu estabelecer uma política de arrecadação, uma política fiscal para a cidade que modificasse a situação que Salvador tem na educação, e a cidade de maior desemprego. 

Tribuna - Como a senhora avalia a gestão do prefeito ACM Neto? 
Aladilce Souza -
Acho que o principal erro da gestão ACM Neto é justamente a falha na gestão das políticas sociais. Aquelas políticas que garantem a qualidade de vida das pessoas. Então, não foi capaz de aumentar a base de arrecadação da cidade, fez uma reforma tributária desastrosa, as políticas sociais de saúde educação e assistência social, que também são politicas que mexem com a qualidade de vida das pessoas efetivamente, são muito precárias. Acho que essas  foram as principais áreas. Não tem sustentabilidade nas políticas de cultura, assistência social, saúde, os postos de saúde precários, até inaugurou algumas unidades, mas não garante acesso nem assistência integral às pessoas. Faltam medicamentos, falta material para curativos, e não tem ações no sentido de melhorar as possibilidades da renda da cidade, diversificação da base econômica, que eu acho que é o grande desafio. Salvador precisa sair dessa posição de pobreza, que é o maior problema. Claro que só o município não dá conta, mas a gestão, o prefeito precisa mexer nessa estrutura. Na minha opinião, apesar de requalificar pontos, vias da cidade, não mexeu em pontos estruturais da cidade e governou focado nos interesses dos setores da economia. Tem outra questão importante que é a da desigualdade e a gestão atual não consegue mexer nisso.Não tem política voltada para reduzir desigualdade. Temos uma cidade de grande população, vivemos um verdadeiro apartheid, segregação, isso é o maior problema na nossa cidade
 
Tribuna - Diante das carências que existem hoje em Salvador, o que deve ser colocado como prioridade pelo próximo prefeito?
Aladilce Souza -
Tem que ser colocado como prioridade enfrentar o desemprego e a pobreza. É um esforço que não pode ser um esforço só do município, mas Salvador não pode ficar como a capital do desemprego. É a terceira capital em população, tem muita força de trabalho, então, temos que sair deste lugar. É preciso criar uma base econômica de arrecadação, ser criativo e colocar isso como prioridade efetivamente. Essa gestão de agora prioriza os interesses da construção civil e setor imobiliário.

Tribuna - A senhora acredita que o atual cenário político, sobretudo a crise que o Brasil enfrenta, vai impactar nas eleições aqui na Bahia?
Aladilce Souza -
Sem dúvida nenhuma. Acho que as eleições em todo o Brasil vão ser impactadas pela conjuntura de crise, de golpe, de mudanças estruturais que estão acontecendo, o presidente interino não foi eleito para isso e essa perda de direito, de retrocesso social, vai impactar. Os candidatos que estiverem vinculados a perda de direitos, com certeza, vão ficar visíveis, e isso vai impactar nas urnas.